É genocídio, sim!
O caráter neofascista da agressão colonial armada contra o povo e os civis em Gaza é uma mudança de qualidade na relação entre estados
Em entrevista na capital da Etiópia, Adis Abeba, Lula fez uma declaração contundente e verdadeira:
“Não é uma guerra, é um genocídio”, disse Lula. “Não é uma guerra de soldados contra soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças”. Lula afirmou que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não aconteceu em nenhum outro momento da história. Na verdade, aconteceu: quando Hitler decidiu matar os judeus”.
Além disso, Lula denunciou o corte orçamentário promovido por Israel, Estados Unidos e outros oito países à UNRWA, agência da ONU responsável pelos refugiados palestinos. O Brasil irá aumentar sua contribuição e discutirá com outros países o mesmo.
A repercussão da fala de Lula foi tamanha que o próprio Netanyahu utilizou as redes sociais para condenar o presidente brasileiro, afirmando que Lula ultrapassou uma “linha vermelha” com sua comparação histórica. O Ministro de Relações Exteriores, Israel Katz, convocou o embaixador de volta a Tel Aviv e declarou Lula “persona non grata”. Um absurdo.
A verdade é que Lula afirmou algo que qualquer espectador sensato da atual agressão à Gaza tem detectado: não existe uma guerra e sim uma matança.
Por declarações similares, dadas já em outubro, Luciana Genro está sendo investigada pelo MP. Naquela oportunidade, o combate sem tréguas contra o sionismo feito por Luciana despertou uma sórdida campanha de perseguição protagonizada pela extrema-direita. Breno Altman, hoje, é vítima da mesma perseguição, sendo acossado não só pela justiça como também pela CONIB.
Viemos defendendo essa tese em artigos como “Gueto de Rafah” e “Notas sobre o neofascismo”. Estamos alertando que o caráter neofascista da agressão colonial armada contra o povo e os civis em Gaza é uma mudança de qualidade na relação entre estados.
Isso desencadeou uma discussão ampla na imprensa brasileira, com um setor liberal buscando atacar Lula, defendendo de forma envergonhada o sionismo. Parte da imprensa adotou essa linha.
Na outra ponta, o bolsonarismo, em apuros com as revelações da PF, quer retomar a iniciativa atacando Lula e coesionando sua base social.
Wanjgarten e Malafaia convidaram o embaixador de Israel para ser parte da convocatória do ato golpista de 25 de janeiro. Alguns deputados bolsonaristas divulgaram nota na imprensa aventando um pedido de impeachment contra Lula por suas declarações.
Lula está correto. A comparação com as atrocidades do passado toca nas feridas mais profundas dos que sustentam a agressão contra Gaza. Como bem localizou Altman, “as escalas e circunstâncias são diferentes”, mas com “lógica racista e colonial”. Temos que ser solidários a Lula, combatendo ameaças e represálias contra o governo brasileiro.
O cenário internacional está se afunilando. Crescem as vozes para o cessar-fogo. A semana será decisiva. Certamente, o debate na esfera pública no país vai ganhar uma nova qualidade. Devemos estar preparados para intervir e ganhar a discussão, nas ruas, nas redes e nos espaços coletivos, agora que devem retornar às aulas nas escolas e universidades.
Devemos ser solidários aos ativistas e figuras que estão sendo perseguidos pelo sionismo.
E como a FEPAL e a Frente Palestina já se posicionaram, para que apoiados na autoridade de Lula, se possa lutar para seguir o exemplo da África do Sul e tomar medidas mais diretas: a ruptura de relações, diplomáticas e econômicas, assim como todos os acordos comerciais e militares com o Estado de Israel. O primeiro passo acaba de ser dado, conforme noticia Mônica Bergamo, com o retorno do embaixador do Brasil em Israel.