Grilagem de terras seria a motivação do assassinato de Marielle
Relatório aponta divergências entre a vereadora e irmãos Brazão sobre regularização fundiária
Foto: Reprodução
Durante seis anos, o Brasil se perguntou quem foram os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Com os supostos mandantes presos neste domingo (24) – No domingo – o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio Domingos Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil no Rio, Rivaldo Barbosa – o questionamento que fica é: por quê? Mas a Polícia Federal (PF) parece ter a resposta.
Conforme relatório revelado ontem, a atividade política de Marielle era vista como impedimento a supostas atividades criminosas dos irmãos Brazão, especialmente relacionadas a milícias e grilagem de terras.
Com base nos relatos fornecidos por Ronnie Lessa, matador contratado para a execução – que também vitimou o motorista Anderson Gomes, a defesa ao direito à habitação feita pela vereadora foi de encontro aos interesses dos Brazão. O relatório destaca, inclusive, uma divergência entre Marielle e Chiquinho durante um debate na Câmara de Vereadores do Rio sobre um projeto de lei “destinado a flexibilizar as regras de regularização [de terras]”.
“Aqui impende destacar que esse cenário recrudesceu justamente no segundo semestre de 2017, atribuído pelo colaborador como sendo a origem do planejamento da execução ora investigada, ocasião na qual ressaltamos a descontrolada reação de Chiquinho Brazão à atuação de Marielle na apertada votação do PLC n.º 174/2016”, diz a PF.
Os agentes também mencionam “vários indícios” de associação dos irmãos com milícias e grilagem de terras, no qual destacou-se a divergência política em relação a questões de regularização fundiária e defesa do direito à habitação.
“Deste modo, não obstante a escassez de provas diretas decorrentes da natureza clandestina das tratativas que Ronnie Lessa alega ter mantido com Domingos e Chiquinho Brazão, é possível inferir que suas declarações sobre o motivo que teria ensejado a morte da vereadora Marielle Franco se mostram verossímeis diante dos dados e indícios ora apresentados.”
‘Motivos mesquinhos’
Em petição entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF afirmou que o crime foi cometido por motivos mesquinhos, devido à aversão dos irmãos Brazão à atuação política de Marielle Franco e seus colegas em relação aos seus interesses questionáveis”.
Porém, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, avalia que a motivação do assassinato precisa ser considerada “no contexto”:
“Não podemos dizer que houve um único e exclusivo fato. São várias situações que envolvem a vereadora e levaram esse grupo de oposição [a cometer o crime]. O ministro falou da questão política que envolve essa situação, envolve também milícias, disputa de territórios, e que naquele contexto é importante. Vou sempre frisar, fazemos essa análise olhando há seis anos, onde havia essa disputa e que culminou com esse bárbaro assassinato, que projetou a situação caótica do Rio de Janeiro”, disse ele.
Parecer da PGR
A Procuradoria-Geral da República (PGR) também considerou a atuação política de Marielle como uma possível motivação para o crime. O parecer da PGR afirma que testemunhas foram “categóricas” ao apontar que a atuação política da vereadora “passou a prejudicar os interesses dos irmãos Brazão em relação à exploração de áreas controladas por milícias”.
“A vereadora não escondia o seu entendimento de que as iniciativas de regularização fundiária pela caracterização de Áreas de Especial Interesse Social (AEIS) seriam adequadas para atender aos interesses dos segmentos sociais que mais sofrem com o déficit habitacional existente no Rio de Janeiro. No entanto, tais instrumentos teriam sido empregados de forma distorcida pelos irmãos Brazão, apenas para viabilizar a exploração econômica de espaços territoriais que, não raro, eram dominados por milicianos”, afirma a PGR.”, afirma a PGR.