A Palestina vive uma ‘Nakba’ permanente
Desde 15 de maio de 1948, o povo palestino é alvo de uma política cruel de limpeza étnica. A “catástrofe” ainda não acabou
Fotos: Getty Images
Desejada ardentemente pelo movimento sionista moderno, consolidado a partir do século 19, a criação do Estado de Israel veio a se tornar realidade em 14 de maio de 1948, por resolução das Nações Unidas, que recomendou a partilha da Palestina entre árabes e judeus (expulsos da região no século 3 a.C pelos romanos). Porém, a decisão que apontava um desfecho feliz para um povo massacrado pelo nazismo na Segunda Guerra Mundial marcou o início da desgraça para quem já habitava aquele território.
A partir de 15 de maio de 1948, o Estado de Israel pôs em prática um violento processo de limpeza étnica para expropriar as terras de famílias palestinas que viviam naquele território havia milênios. Execuções, sequestros, bombardeios, estupros e outros crimes foram cometidos para promover uma “transferência populacional” para a conquista da Palestina histórica. Esse processo de êxodo forçado – que resultou na expulsão de pelo menos 750 mil palestinos de suas casas, 15 mil mortes e na destruição de mais de 531 cidades, vilas e povoados – ganhou o nome de Nakba, que em árabe significa “catástrofe” ou “desastre”.
O termo Dia da Nakba foi criado em 1998 por Yasser Arafat, líder palestino que estabeleceu a data como dia para lembrar a perda de sua pátria. Anualmente, no mundo todo, são realizados protestos contra a opressão que está na raiz dos conflitos que acompanhamos até os dias de hoje. Através do século 20, outros expedientes foram usados pelo governo israelense para garantir o deslocamento forçado de palestinos. Sejam leis discriminatórias, sejam invasões e roubos de casas dos nativos (pelo exército ou por milícias sionistas) para a criação de assentamentos.
E há ainda as guerras, como a que está em curso no momento na Faixa de Gaza e que já matou mais de 35 mil palestinos desde outubro de 2023 – sendo que mais de 14 mil são crianças, e 8,5 mil são mulheres. Por tudo isso, estudiosos da questão costumam empregar o termo “Nakba contínua” ou “Nakba permanente” para explicar as condições sociais e políticas da Palestina.
Em 76 anos de atrocidades, o povo palestino, que representa apenas 0,2% da população mundial, compõe quase 10% dos refugiados do planeta. Atualmente, segundo a ONU, há mais de 6 milhões de refugiados palestinos, muitos dos quais vivem em acampamentos na Jordânia, Gaza, Cisjordânia, Síria, Líbano e Jerusalém Oriental. Além disso, estima-se que 2 milhões de pessoas foram deslocadas internamente em Gaza após a incursão de Israel no território em outubro.
Ao permitir que o povo judeu tivesse um Estado, a ONU recomendou a partilha de 52% da Palestina, mas, na prática, 78% foi tomada à força e 88% da população palestina originária foi expulsa ou morta. Por isso, seis meses depois, as Nações Unidas aprovaram a Resolução 194, dando direito aos palestinos de retornarem para suas terras. É essa resolução que a etnia quer ver cumprida.
Por isso, diariamente – mas especialmente na Nakba – são comuns as imagens de homens e mulheres carregando grandes chaves antigas. Elas representam as casas que lhes foram tomadas e para onde anseiam voltar. Relíquias familiares que simbolizam a dor e a esperança de justiça para uma nação que também espera ser reconhecida e respeitada; que resiste ao arbítrio e ao genocídio, enquanto o mundo assiste, quase impassível, o seu sofrimento.
Neste 15 de maio de 2024, mais do que nunca, reforçamos o chamado de apoio à causa palestina, que vive uma Nakba permanente. Cadastre-se no site da Revista Movimento (movimentorevista.com.br) e receba em seu email a Cartilha Palestina Livre, um material elaborado pela Movimento em parceria com a Fepal, que expõe e aprofunda diversos aspectos da luta palestina, desde elementos históricos até informações sobre o regime de apartheid ao qual os palestinos estão submetidos e os mitos criados pelo sionismo.