A esquerda e o segundo turno
Sobre o cenário das atuais disputas eleitorais e da luta urgente contra a austeridade fiscal
Foto: Flickr/Creative Commons
Frente à segunda etapa das eleições municipais, orientamos nossa política a partir da mobilização na reta final para derrotar os candidatos da extrema direita, aproveitando para tirar as primeiras conclusões políticas do processo eleitoral.
Na semana passada, publicamos aqui um balanço inicial do secretariado do MES/PSOL, contendo os temas essenciais da avaliação do primeiro turno e deixando em aberto as disputas do segundo turno, que ocorrem em 52 cidades com mais de 200.000 eleitores.
O cenário abrem tarefas a partir da disputa política, onde combinamos a disputa pelo voto, sobretudo com o peso de nossas figuras públicas e a militância, com a organização de uma ampla vanguarda, ávida por respostas diante de cenário tão complexo.
As batalhas em curso como parte de uma luta mais ampla
Considerando as chapas onde o PT e o PSOL estão em frente eleitoral, temos 14 cidades em disputa; outras levam à frente setores de centro-esquerda e do Centrão, como PSB, PDT e os setores do MDB e PSD que apoiam Lula. Nesse caso, há tipos de disputa cruzadas: onde o bolsonarismo busca impor sua vitória em cidades estratégicas, como em BH e Fortaleza, onde os candidatos da extrema direita enfrentam respectivamente os atuais prefeitos Fuad Noman (PSD) e Evandro Leitão, neopetista indicado pelo governador do Ceará.
O PSOL participa diretamente da disputa em quatro cidades: Boulos na disputa encarniçada contra Nunes em São Paulo; no Rio Grande do Sul, na disputa da capital com Tamyres do PSOL sendo vice de Maria do Rosário, e em Pelotas, onde a chapa de Marroni (PT) e Daniela Brizolara do PSOL leva vantagem nas pesquisas; por fim, Yuri do PSOL encabeça a chapa da esquerda contra Hammes (PP) em Petrópolis, na serra fluminense.
O PT disputa também, além das cidades já citadas, nas capitais Natal e Cuiabá, Mauá e Diadema (onde busca a reeleição), Santa Maria (RS), Olinda (PE), Sumaré (SP), Anápolis (GO), Camaçari (BA) e Caucaia (CE).
Esse pequeno “raio-x” indica as tendências mais gerais, que devem ser estudadas como parte da luta política mais ampla; as disputas no terreno internacional, como ver até onde consegue ir a ofensiva genocida de Netanyahu e o resultado eleitoral da eleição estadunidense de 5 de novembro, são parte do entendimento do que vem pela frente. E por óbvio, a entrada em ação, nas ruas e lutas, dos setores da classe trabalhadora, da juventude e de todo povo, são o elemento determinante para qualquer mudança na situação política. É nisso que apostamos.
O fortalecimento do Centrão e a dinâmica
O resultado mais evidente do primeiro turno foi o fortalecimento do chamado “Centrão”. Uma variante política muito específica da política brasileira que não pode se deixar confundir pelo nome: é uma corrente que oscila no fisiologismo, bastante heterogênea, mas que coloca a agenda política mais à direita.
Os dois casos mais emblemáticos são o do MDB e o do PSD.
O mesmo MDB que é parte do governo encabeça duas disputas contra a esquerda, com Melo e Nunes, convertidos recentemente em aliados do bolsonarismo, também disputa a principal capital do norte com Igor Normando, membro do grupo dos Barbalho que governam o Pará, apoiando Lula.
Dentro desse espaço, o partido que sai mais forte é o PSD. Presidido por Kassab, a tática do PSD é seguir colocando um pé em cada canoa. Tem três ministros no governo Lula e conta com figuras importantes que se relacionam com o governo como Paes – que teve votação expressiva na capital carioca – e agora Fuad, que disputa em Belo Horizonte. Como antecipação da disputa do governo estadual, onde o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, é a grande aposta. Do outro lado, Kassab ganha terreno em São Paulo com uma operação direta, projetando Tarcísio como nome próprio da disputa no seio da extrema direita.
Efeito imediato desse fortalecimento é que o governo fica mais refém da agenda do Centrão, seja nas pautas econômicas, seja na transgressão da defesa do meio ambiente, onde o ministro Silveira advoga diretamente pelos interesses do extrativismo e da exploração do petróleo. As negociações para a sucessão da Câmara repetem esta mesma lógica. As posturas sobre o corte do BPC e o fim do piso constitucional da saúde apontam para mais ajuste fiscal por parte do governo, completando a rendição diante das exigências do Centrão e dos banqueiros.
Os debates na esquerda: votar contra a extrema direita e retomar a discussão programática
Nos resultados do primeiro turno, PT e o PSOL tiveram derrotas significativas. O desempenho desastroso do PT no estado de São Paulo, assim como a derrota do PSOL em Belém, abrem toda uma discussão de balanço. E este debate se soma à incapacidade de construir mobilizações políticas durante a campanha eleitoral.
A reflexão sobre estratégia e programa dentro do campo daqueles que querem barrar a extrema direita é bem vinda e a derrota da fórmula simplista da “frente ampla” indica que a necessidade de firmar outra estratégia e outro programa. Esse será um tema de discussão central para os próximos meses e os embates que nos esperam.
Domingo vamos mobilizar e votar contra a direita e a extrema direita, preparando os combates no terreno da luta de classes e na defesa dos interesses da maioria social, como a defesa do piso constitucional da saúde, para citar um exemplo candente e emblemático do nosso momento.