Corregedoria pede prisão de PM que atirou homem de ponte
Secretaria de Segurança Pública de SP confirmou o afastamento dos 13 policiais que participaram da operação
Foto: Agência Brasil
A crise de segurança pública em São Paulo alcançou novos patamares de gravidade com o caso do soldado da Polícia Militar Luan Felipe Alves Pereira, flagrado jogando um homem de uma ponte na zona sul da capital. A ação, amplamente registrada em vídeo e divulgada, reacendeu o debate sobre a letalidade policial no estado e revelou uma cultura que parece tolerar, ou até estimular, a violência desproporcional entre os agentes de segurança.
A Corregedoria da PM pediu a prisão preventiva de Pereira. A decisão cabe ao Tribunal de Justiça Militar. Apesar da gravidade do ocorrido, apenas Luan foi incluído no pedido, enquanto outros três policiais envolvidos na perseguição permanecem sob investigação. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmou o afastamento dos 13 policiais que participaram da operação, que incluiu também investigações paralelas conduzidas pela Polícia Civil. Curiosamente, eles estão prestando serviços na própria Corregedoria.
Conforme a TV Globo. Pereira foi indiciado por homicídio no ano passado, depois de uma ocorrência em que um homem foi morto com 12 tiros, em Diadema (SP). O caso, porém, foi arquivado.
O governador Tarcísio de Freitas e o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, foram obrigados a condenar publicamente o caso diante da forte repercussão negativa. “Policial está na rua para enfrentar o crime e fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas ou joga uma pessoa de uma ponte não está à altura de usar essa farda”, declarou Tarcísio em redes sociais.
No entanto, a resposta oficial esbarra em contradições da própria gestão, que frequentemente adota posturas permissivas em relação à letalidade policial. Dados recentes corroboram a sensação de descontrole: entre janeiro e setembro de 2024, o número de mortes causadas por policiais militares em serviço cresceu 82% em relação ao mesmo período de 2023, totalizando 474 vítimas.
Os números ganham contornos ainda mais alarmantes quando somados a casos de abusos emblemáticos, como o assassinato de Gabriel Renan da Silva Soares, atingido com 11 tiros nas costas após furtar produtos de limpeza, e a morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, baleado durante uma abordagem em um hotel na Vila Mariana.
Ademais, as operações Escudo e Verão, conduzidas pela PM sob o comando de Derrite, resultaram em mais de 90 mortes na Baixada Santista. Apesar de sucessivas denúncias de abuso de força, o governador chegou a minimizar as críticas, afirmando “que não estava nem aí” para as questões levantadas. Também merece destaque o vaivém na implementação de câmeras corporais nos uniformes dos policiais, cuja adoção é vista como ferramenta crucial para conter abusos, mas que foi alvo de cortes orçamentários e revisões.
Outros episódios reforçam a percepção de banalização da violência policial. A chacina de Paraisópolis, em 2019, que deixou nove jovens mortos durante uma operação para coibir um baile funk, é um exemplo paradigmático. Apesar das denúncias de emboscada e homicídio doloso por parte de 13 policiais, todos ainda respondem em liberdade.
A cultura de letalidade exacerbada na segurança pública paulista não é apenas um reflexo de falhas institucionais, mas também de discursos e políticas que parecem priorizar resultados imediatos à custa de vidas humanas. A indignação provocada por casos como o do soldado que arremessou um homem da ponte evidencia a necessidade de uma revisão profunda nas diretrizes de comando e na relação entre o governo estadual e sua força policial. Sem medidas concretas e eficazes, a violência seguirá como uma sombra sobre a segurança de São Paulo.