Às vésperas da COP 30, Belém declara Trump persona non grata
Câmara Municipal envia recado à extrema direita global ao rejeitar tarifaço imposto por Trump; vereadora Vivi Reis denuncia ataque à Amazônia e defende soberania popular
Foto: GPO/ Fotos Públicas
A cidade de Belém, no Pará – escolhida como sede da COP30, conferência climática das Nações Unidas – declarou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, persona non grata no município. A decisão, aprovada pela Câmara Municipal nesta quarta-feira (6), é um gesto simbólico de repúdio à política hostil adotada pelo republicano contra o Brasil, especialmente contra a economia amazônica.
A proposta, apresentada pelo vereador Alfredo Costa (PT), foi aprovada por 12 votos favoráveis, contra 9 contrários e 2 abstenções, e contou com o apoio da vereadora Vivi Reis (PSOL), conhecida por sua atuação em defesa dos direitos socioambientais e dos povos da Amazônia.
“O tarifaço de Trump tem efeitos perversos sobre os empregos e o bolso do povo brasileiro, atingindo setores como o de extração e exportação de açaí aqui no Pará”, afirmou Vivi.
“Sanções econômicas com o apoio da extrema direita, que trai o país apenas para defender seus próprios interesses – essa é a verdadeira bandeira dos que se dizem patriotas. A nossa bandeira é a defesa da nossa cidade, da Amazônia, do país.”
O gesto da Câmara ocorreu no mesmo dia em que entrou em vigor um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA, anunciado por Trump como parte de sua agenda ultranacionalista e protecionista. A taxação atinge especialmente setores estratégicos da Amazônia, como a exportação de madeira legalizada, castanha-do-pará e frutas nativas como o açaí, com impacto direto sobre comunidades extrativistas e ribeirinhas, que dependem da economia verde para sobreviver com dignidade.
A medida também marca uma reação municipal à presença indesejada de figuras públicas ligadas ao negacionismo climático e à extrema direita global. Embora a declaração de persona non grata não tenha efeito legal impeditivo – ou seja, Trump podee comparecer à COP30 -, ela funciona como um repúdio político explícito à sua presença em um evento que terá como foco a preservação ambiental, a justiça climática e a soberania dos povos da floresta.
A vereadora Vivi Reis reforçou ainda que o gesto de Belém é um contraponto à hipocrisia da direita internacional, que se diz defensora da liberdade enquanto impõe sanções que restringem o direito de populações inteiras ao sustento básico e à autodeterminação econômica.
Tarifaço em vigor
A política de tarifas de Trump, adotada com o pretexto de proteger o mercado interno dos EUA, vem sendo duramente criticada por analistas econômicos. Segundo reportagem da BBC Brasil, o tarifaço afeta diretamente países em desenvolvimento e acirra desigualdades no comércio internacional, impactando de forma desproporcional os países do Sul Global – entre eles, o Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou recentemente, em tom firme, que não pretende negociar com Trump sobre o tarifaço, e que, se entrar em contato, será apenas para convidá-lo formalmente à COP30.
“Não vou me humilhar ligando para discutir tarifas”, disse Lula, segundo o Estadão. Em vez disso, o presidente brasileiro pretende levar o tema à mesa dos Brics, grupo de países em desenvolvimento que inclui, além do Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul.
O gesto da Câmara de Belém é um aviso de que a capital da Amazônia não servirá de palanque para representantes do imperialismo disfarçado de diplomacia climática.