Bolsonarismo ataca Wagner Moura e pede sua deportação dos EUA por críticas a Trump
Em ato de perseguição política e submissão ao trumpismo, deputado bolsonarista usa redes sociais para tentar denunciar o ator brasileiro às autoridades norte-americanas
Foto: Victor Jucá/Divulgação
Na guerra cultural que move a extrema direita, o absurdo não tem limite. Neste fim de semana, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) usou as redes sociais para sugerir que o ator Wagner Moura fosse denunciado às autoridades norte-americanas, insinuando que o artista deveria ser deportado dos Estados Unidos.
“Esse cara (Wagner Moura) está morando nos EUA e continua apoiando Moraes, atacando TRUMP e dizendo que os EUA agora é uma ditadura. Acho que vale a pena dar uma olhadinha nesse EXTREMISTA @DeputySecState @SecRubio”, escreveu o parlamentar em postagem direcionada a Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano.
A iniciativa, que soaria risível se não fosse trágica, revela muito sobre a estratégia da extrema direita brasileira: perseguir adversários políticos até fora das fronteiras nacionais, entregando seus próprios cidadãos a governos estrangeiros. No caso, o mesmo movimento que exalta Trump como “defensor da liberdade” busca punir Moura justamente por exercer seu direito de expressão.
Como observam analistas, o gesto é mais do que um episódio isolado. Ele demonstra o quanto setores bolsonaristas estão dispostos a rifar a soberania nacional em nome de seu projeto de poder. Na prática, sugerir a deportação de um artista brasileiro é um ato de submissão — um “complexo de vira-lata” transformado em programa político.
Wagner e as críticas a Trump
Vivendo há sete anos em Los Angeles com a esposa e os três filhos, Wagner Moura tem feito críticas contundentes ao ex-presidente Donald Trump e ao avanço autoritário nos Estados Unidos. Durante a estreia de seu filme O Agente Secreto no Recife, o ator disse ter notado a diferença de clima entre Brasil e EUA:
“A gente está hoje vendo as instituições funcionando [no Brasil], vendo um crime contra a democracia sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal, enquanto que nos festivais norte-americanos pelos quais o filme passou, a gente sentia uma certa tristeza dos americanos, quase uma inveja”.
Em entrevista a BBC, Moura comparou o julgamento de Jair Bolsonaro e aliados no STF – condenados por tentativa de golpe – ao caso de Trump, que mesmo acusado de incitar uma rebelião após perder as eleições de 2020, acabou absolvido e voltou à Casa Branca em 2024.
“O que está acontecendo nos Estados Unidos hoje é grave. É um país que deixou de ser mesmo uma democracia e começou a ser um país com tendências autoritárias evidentes”, afirmou.
O ator também denuncia a política migratória do trumpismo:
“É um horror, eu conheço muitos imigrantes ilegais. Eu moro em Los Angeles, é uma cidade onde vivem muitos latinos, muitos mexicanos, sobretudo, e as pessoas estão com medo. Porque eles atacam a pessoa na rua por uma identificação visual e racial. Se o cara não tiver o documento, o cara não volta para casa nunca mais”.
As declarações de Moura ecoam as críticas de organizações de direitos humanos nos EUA, que acusam a imigração norte-americana de praticar abordagens seletivas baseadas em critérios raciais. A Suprema Corte chegou a legitimar esse tipo de conduta, reforçando o clima de insegurança entre imigrantes.
Assim, o ataque de Gustavo Gayer não é apenas uma tentativa de silenciar uma voz crítica, mas um retrato fiel de como a extrema direita brasileira opera: com perseguição, intimidação e total submissão a seus ídolos estrangeiros.