Ameaças de massacre na UFSM revelam avanço do ódio da extrema direita contra a diversidade
Mensagens violentas contra negros, mulheres e LGBTs mobilizam comunidade universitária e lideranças do PSOL; reitoria aciona forças de segurança e cobra investigação rigorosa
Foto: Divulgação
A comunidade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) viveu dias de tensão após ameaças de massacre enviadas por e-mail a diversos setores da instituição, no último domingo (5). As mensagens – com conteúdo violento, racista, machista e LGBTfóbico – mencionavam ataques direcionados a estudantes negros, LGBTs e feministas, reacendendo o alerta sobre o avanço do discurso de ódio e da violência política dentro e fora dos espaços de ensino.
A Reitoria da UFSM reagiu imediatamente, acionando a Brigada Militar, a Polícia Civil e a Polícia Federal, além de reforçar as rondas de vigilância nos campi. Em nota oficial, o reitor Luciano Schuch assegurou que o gabinete “segue atento às respostas das autoridades competentes” e pediu que a comunidade acadêmica não se deixe levar por fake news, reforçando que as atividades seguem mantidas.
“Ontem (05), vários setores da UFSM receberam e-mail com ameaças à comunidade. Tão logo recebeu o e-mail, a Universidade Federal de Santa Maria acionou as forças de segurança e reforçou as rondas nas áreas dos campi”, diz o comunicado.
A gravidade das ameaças mobilizou parlamentares, entidades e movimentos sociais. A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) denunciou o caso como um ataque orquestrado por extremistas de direita, que tentam disseminar o medo entre estudantes e servidores.
“Diversos setores da UFSM receberam e-mails intimidatórios, com ameaças de massacre contra estudantes LGBTQIA+, negros e negras e feministas. Isso é um absurdo completo e não pode ser tratado com normalidade”, afirmou Melchionna, exigindo investigação urgente e punição dos responsáveis.
A vereadora Alice Carvalho (PSOL), a mais votada de Santa Maria, também repudiou as ameaças e alertou para a influência crescente do bolsonarismo e dos discursos de ódio sobre a vida pública.
“As ameaças recebidas contra a comunidade acadêmica da UFSM evidenciam o quanto o pensamento da extrema direita tem se disseminado na sociedade, estimulando ataques a grupos minorizados. São negras e negros, indígenas, mulheres, LGBTs e militantes de esquerda que se tornam alvo dessa intolerância”, afirmou Alice.
Além das lideranças do PSOL, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), ex-presidente do DCE da universidade, se solidarizou com a comunidade acadêmica e declarou estar à disposição da reitoria.
“Não vamos aceitar qualquer tipo de intimidação de grupos violentos que acham que vão nos calar com discurso de ódio e intolerância”, disse.
Reações
As entidades universitárias também se manifestaram com firmeza. O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) publicou nota denunciando que o alvo dos criminosos são os corpos que simbolizam a diversidade e a resistência dentro da universidade.
“É a reação do ódio à nossa presença, uma presença que não foi dada, mas conquistada com luta. Querem nos silenciar porque nossa existência é a prova de que o projeto deles fracassou. Mas nosso pacto com a vida é mais antigo”, afirmou o texto.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) reforçou o tom de resistência:
“A quem acha que irá nos causar medo através de covardes ameaças ou tentativas de intimidação, não terá sucesso. Graças às lutas que travamos, a UFSM vem há décadas se pintando de povos – e é isso que seguiremos defendendo.”
As ameaças à UFSM não são um caso isolado. Desde 2018, universidades públicas em todo o país têm sido alvo de ofensivas ideológicas de grupos bolsonaristas, que tentam deslegitimar o ensino público, perseguir docentes e censurar o debate político e social. As recentes mensagens de ódio em Santa Maria evidenciam o perigo dessa escalada autoritária.
Ao acionar as forças de segurança e articular com parlamentares comprometidos com a democracia, a reitoria da UFSM demonstra responsabilidade e firmeza diante da intolerância. Já as manifestações de Fernanda Melchionna e Alice Carvalho reforçam que defender as universidades é defender o direito à diversidade, à liberdade de expressão e à vida – valores que o autoritarismo insiste em ameaçar, mas que a comunidade acadêmica seguirá protegendo com coragem e solidariedade.