“Raptados e torturados”: Greta denuncia abusos de Israel contra ativistas
Em conferência em Estocolmo, Greta Thunberg expôs as torturas sofridas por detidos na prisão israelense; brasileiros, que também relatam maus-tratos, devem chegar ao país nesta quinta-feira (9)
Foto: Reprodução
A ativista climática sueca Greta Thunberg denunciou, na terça-feira (7), que ela e outros integrantes da Flotilha Global Sumud foram “raptados e torturados” pelas forças israelenses após a intercepção ilegal das embarcações que levavam ajuda humanitária à Faixa de Gaza.
“Quando pedimos um médico e medicamentos que salvam vidas, colocaram 60 pessoas em jaulas pequenas e disseram-nos que nos iam matar com gás”, relatou Greta, em uma coletiva de imprensa em Estocolmo.
A jovem afirmou que os detidos foram submetidos a condições degradantes na prisão de Ktzi’ot, no deserto do Neguev, onde permaneceram incomunicáveis por dias. Segundo ela, os prisioneiros ficaram sem acesso à água potável e foram obrigados a beber água contaminada, o que causou adoecimento entre os ativistas.
“Deitaram fora garrafas cheias de água potável mesmo à nossa frente e riram-se de nós por pedirmos água potável”, contou.
Greta evitou detalhar os abusos físicos sofridos, afirmando não querer que “as manchetes digam ‘Greta foi torturada’, porque essa não é a história aqui”. Segundo a ativista, o importante é chamar atenção para a brutalidade com que Israel tratou um grupo que apenas buscava entregar suprimentos básicos a uma população sitiada há 18 anos sob bloqueio. “Aquilo que passámos não é nada comparado com o que as pessoas em Gaza experienciam diariamente”, disse.
A Flotilha Global Sumud – composta por cerca de 45 barcos e mais de 400 ativistas de 50 países – foi interceptada na semana passada pela marinha israelense, que conduziu todos os participantes à prisão. Israel afirma que os detidos tiveram “acesso a água, comida e banheiros” e nega qualquer tipo de maus-tratos, mas os relatos dos libertados contradizem a versão oficial.
Brasileiros também denunciam maus-tratos
Entre os 13 brasileiros que participaram da flotilha estão nomes conhecidos da militância social e política, como o ativista Thiago Ávila, a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), a vereadora Mariana Conti (PSOL), de Campinas, e a presidente estadual do PSOL no Rio Grande do Sul, Gabrielle Tolotti. O grupo foi deportado para a Jordânia nesta terça e deve chegar ao Brasil nesta quinta-feira (9), após uma campanha de arrecadação de fundos para custear o retorno.
Dois deles, Nico Calabrese e Gabi Tolotti, relataram à imprensa que foram agredidos e humilhados por militares israelenses durante o processo de detenção.
“Fomos jogados no chão, algemados e impedidos de falar. Tiraram nossos celulares e ameaçaram quem tentasse registrar o que acontecia”, contou Calabrese. Tolotti acrescentou que os prisioneiros foram privados de sono e mantidos sob luz intensa por horas.
Os relatos de Greta e dos ativistas brasileiros reforçam as denúncias feitas por organizações internacionais de direitos humanos sobre o tratamento desumano dispensado a prisioneiros políticos e civis por Israel. As imagens da flotilha interceptada e os testemunhos de tortura provocaram forte indignação em redes de solidariedade global, que agora cobram responsabilização internacional pelo ataque.
“O que vivemos é um retrato da violência de um regime que tenta calar quem denuncia o genocídio em Gaza”, afirmou Tolotti em suas redes sociais apís cheagr a Jordânia.
Enquanto o governo israelense insiste em negar abusos, cresce a pressão de parlamentares e movimentos sociais no mundo todo para que o caso seja levado a instâncias internacionais de direitos humanos – e para que o bloqueio imposto a Gaza finalmente seja rompido.
Repercussão no Brasil: solidariedade e cobrança de responsabilização
A denúncia de Greta Thunberg e os relatos dos brasileiros geraram forte reação de parlamentares de esquerda e movimentos de solidariedade à Palestina. A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) afirmou que os relatos configuram “violações graves de direitos humanos que não podem ficar impunes” e defendeu que o Brasil pressione por uma investigação internacional independente.
O Itamaraty confirmou ter acompanhado o caso desde a interceptação e disse manter contato com os ativistas deportados na Jordânia. Em nota, o ministério informou que presta “assistência consular integral” aos brasileiros e que o governo brasileiro “reiterou à embaixada de Israel a importância de apurar as denúncias de maus-tratos”.
Movimentos sociais e organizações de direitos humanos, como a Campanha Global pelo Fim do Genocídio em Gaza e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), anunciaram vigílias e atos de recepção em aeroportos do país. As mobilizações devem ocorrer simultaneamente ao desembarque dos ativistas nesta quinta-feira, em São Paulo, Porto Alegre e Brasília.