Maria Corina Machado, Nobel da Guerra?

Maria Corina Machado, Nobel da Guerra?

A premiação de Corina é um sintoma mórbido da crise das instituições liberais e como a polarização vai se impor, sob sangue e tensão

Israel Dutra 13 out 2025, 10:41

O prêmio Nobel da Paz, anunciado pelo comitê da Noruega, surpreendeu de várias formas. Os membros do dito comitê, com critérios sempre pouco nítidos e bastante subjetivos, para não dizer mais, anunciaram que Corina correspondia a três critérios legados desde o testamento de Alfred Nobel: promoção da paz, respeito aos direitos humanos e resistência à militarização. Além do valor de 11 milhões de coroas suecas, o que equivalente a 6,2 milhões de reais, Corina se credencia internacionalmente ao receber tal laurea. O que pode parecer inacreditável, além de preocupante, se torna sintomático.

A outra surpresa foi para Trump. Donald, que se quer dono do mundo, acreditava piamente que seria escolhido, após os esforços para impor um “Plano de paz colonial” para Gaza, sendo homenageado em Tel Aviv, em meio à euforia do retorno dos reféns.

Corina, cujo prêmio frustrou Trump, é sem dúvida uma Trumpista da primeira fileira. A indicação do prêmio para uma destacada liderança da extrema direita, fala, por óbvio, do Nobel, das contradições de nosso tempo, mas sobretudo, fala das novas condições onde a disputa de opinião pública está a se dar. É um mórbido sintoma.

Quem é Corina Machado ?

Maria Corina Machado foi indicada ao prêmio Nobel pela “conexão da direita republicana” na Flórida. A figura central para tal conspiração foi Marco Rubio. Não se pode negar, contudo, que Corina Machado é um quadro, uma liderança carismática e experimentada, que tem como projeto ser a ponta de lança do trumpismo na América Latina.

Corina encampou a campanha contra Maduro, se utilizando das contradições democráticas do atual regime venezuelano – cada vez mais fechado – para promover um giro à direita. Com as mesmas aspirações que Juan Guaidó, mas com muito mais habilidade e capacidade política, Corina drenou para o exílio sua prédica de oposição ao regime. Disputou e hegemonizou o espaço crítico da crítica ao madurismo para os setores neofascistas, ganhando pontos nessa articulação, cujo reconhecimento aparece agora, na forma de prêmio e prestígio.

Ligada à extrema direita mundial, é signatária da “Carta de Madrid”, documento central na articulação de um dos eixos da coordenação internacional neofascista. Seus vínculos diretos remetem a setores como Vox no Estado Espanhol, ao Chega em Portugal, a Milei na Argentina e aos múltiplos interesses das empresas petrolíferas que querem ver o petróleo venezuelano privatizado à serviço da sua pilhagem.

A tragédia das democracias liberais

Como chegamos a uma indicação do Nobel da Paz nesses termos? Mais grave ainda do que Corina ser a eleita, é o fato de que a disputa estava entre ela e Donald Trump, entre vários.

A vergonhosa posição do comitê norueguês é um sintoma da atual situação mundial. Uma enorme polarização, onde a extrema direita busca impor seu programa neofascista combinando a perseguição aos imigrantes e uma ofensiva neocolonial, onde Gaza é o ponto mais alto. E tal ofensiva também mira a América Latina, seja pelas pretensões territoriais no Panamá, na chantagem da guerra tarifária no Brasil, na recente escalada contra a Venezuela.

Como bem escreveram Ana Carvalhes e Luis Bonilla, em recente artigo:

“O país latinoamericano e caribenho mais ameaçado militarmente neste momento é a Venezuela, embora nenhuma nação da região esteja isenta desta potencial ameaça a sua soberania territorial. Venezuela e sua revolução bolivariana – enterrada pelo autoritarismo e a política anti popular e obreira do madurismo – tem sido desde sempre uma enorme pedra nos sapatos do imperialismo estadunidense. Agora, os falcões expansionistas de Trump pretende derrubar Maduro, aproveitando-se da enorme debilidade interna de seu governo, para pôr em seu lugar uma alternativa de extrema direita submissa a Washington.”

A crise do chamado multilateralismo é a expressão internacional da crise orgânica da democracia liberal. Diferente da etapa anterior, onde os espaços internacionais eram tingidos de uma aura “neutra” e de busca por uma solução de diálogo em favor dos interesses dos liberais, do equilíbrio entre os diferentes imperialismos e de uma aparência de consenso e “paz”, hoje a máxima contradição é o Nobel da paz estar nas mãos de uma liderança que propõe a violência e o neocolonialismo. Léguas distantes das premiações sustentadas na democracia liberal, dos anos Clinton e Obama.

Sintoma ou Alarme?

A premiação de Corina é um ultraje. Funciona a um só tempo, como um sintoma e um alerta.

É um sintoma mórbido da crise das instituições liberais e como a polarização vai se impor, sob sangue e tensão. Que o Imperialismo em crise, com Trump à cabeça se torna mais agressivo e coordenado para alcançar suas intenções neofascistas, descartando quando possível as mediações anteriores.

E soa como alarme, pois Corina se revalida como principal agente na região, onde há uma presença militar dos Estados Unidos, que se utilizando de mentiras e justificativas sobre o narcotráfico quer é acossar a Venezuela e o Caribe. Seria Corina uma senha para uma escalada ainda maior?

Trump não conseguiu dobrar o Brasil nos seus interesses que combinam a guerra tarifária e a chantagem em prol de Bolsonaro; onde Milei enfrenta grandes dificuldades na Argentina, em que pese o Tesouro norte-americano esteja lhe dando todo tipo de suporte; no Equador, Noboa enfrenta semanas de greves e protestos de indígenas e do movimento popular e sindical; em que Petro se destaca na ONU contrapondo o projeto de Trump e ganhando simpatia pela coragem de defender Gaza. Corina não vence o Nobel por coincidência.

É preciso redobrar a luta política contra o imperialismo e o neofascismo, do qual Trump e Corina são faces de uma mesma moeda.


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