Bolívia: “houve uma derrota eleitoral, mas não estratégica” – Entrevista com Oscar Calasich
Ronaldo Schemidt - 18.nov.19/AFP

Bolívia: “houve uma derrota eleitoral, mas não estratégica” – Entrevista com Oscar Calasich

Entrevista com o professor e intelectual boliviano Oscar Calasich sobre a situação política do país à luz do processo eleitoral, cujo segundo turno presidencial acontece no próximo domingo (19)

Israel Dutra e Júlio Pontes 13 out 2025, 14:19

No próximo domingo (19), os bolivianos vão às urnas para eleger o novo presidente do país, em um inédito segundo turno disputado pelo senador Rodrigo Paz (Partido Democrata Cristão) e pelo ex-presidente Tuto Quiroga (Aliança Livre). Como parte da necessidade de entender o processo boliviano, aproximando-nos de lideranças sociais e intelectuais do país, com as quais construímos um mosaico de posições plurais, publicamos a segunda entrevista deste “Especial Bolívia”. Depois de Adriana Salvatierra, agora entrevistamos o professor e intelectual boliviano Oscar Calasich. Boa leitura!

Esquerda em Movimento (EM) – Antes de tudo, agradecemos a entrevista em nome da Esquerda em Movimento. Nosso intuito é ter um mosaico de posições plurais de diferentes referências e lideranças sociais e intelectuais da Bolívia, porque o Brasil está muito desligado do processo boliviano. O processo boliviano também está desligado do Brasil, e hoje temos uma situação muito complicada: por um lado, o assédio de Trump em todo o continente e, por outro, as dificuldades da esquerda em se renovar, apresentar uma alternativa e mobilizar o povo. Poderíamos começar por aí: uma análise geral sobre o processo boliviano no marco do recente processo eleitoral.

Oscar Calasich (OC) – Acredito que é importante termos uma visão sobre o que está acontecendo e porquê está acontecendo. As eleições de domingo foram a pior derrota do movimento popular nos últimos 40 anos, para ter uma referência. Ah, perdão, vocês já souberam os resultados finais do Tribunal Eleitoral? O MAS caiu de 72 deputados para 7. Sua presença eleitoral, em termos percentuais, diminuiu de 54% para 3%. Portanto, este é um golpe extremamente duro.

No entanto, o eleitorado masista se moveu de maneira homogênea e foi votar em uma candidatura que se autodenomina de centro ou centro-direita — podemos defini-la como uma candidatura de oportunistas de centro-direita. O candidato é o filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, um político de terceira linha. Ele foi prefeito de uma cidade muito pequena da Bolívia, Tarija, e senador por um partido de direita, mas é irrelevante em termos gerais.

O anedótico é que seu vice-presidente é um policial que foi perseguido por denunciar seu comandante por casos de corrupção relacionados à venda de antecedentes policiais a delinquentes. Esse policial virou uma figura midiática no TikTok, envolvido em um escândalo de denúncias. Há vídeos em que outros policiais o agarram pelo pescoço. Depois, ele foi candidato, o capitão Lara, acabou preso — tudo um escândalo midiático. Isso gerou a imagem de um jovem, porque ele é jovem, que estaria lutando contra a corrupção, algo novo na política.

Esse fator, em termos muito específicos, gerou uma corrente de apoio em setores jovens, especialmente urbanos. Mas, quando se observam os dados das áreas rurais — essencialmente andinas e majoritariamente aimaras —, vê-se que essas regiões não votaram no MAS nem em suas correntes. Isso não parece ser casual. O campo andino é composto por povos indígenas aimaras e quéchuas, que são muito orgânicos em sua estrutura.

Pelos dados que estou processando, parece que as organizações, de forma orgânica, decidiram votar por essa candidatura e não pelo MAS.

Para contextualizar um pouco: em 1985 houve o golpe de Estado de García Meza. Em 1982, recupera-se a democracia e, entre 1982 e 1985, há um governo de esquerda conformado pelo Partido Comunista, o MIR e o Movimento Nacionalista Revolucionário de Esquerda. Esse governo não tinha maioria parlamentar, o que permitiu uma forte ofensiva da direita, do empresariado, da inflação e da escassez de alimentos. O país viveu uma hiperinflação que chegou a 2.000% ou 3.000%. Foi um período muito crítico.

Depois dessa gestão veio a derrota eleitoral da esquerda tradicional em 1985. Todos os partidos que a compunham — que haviam sido muito fortes na Bolívia e base das estruturas sociais e sindicais que derrotaram a ditadura três anos antes — se desmoronaram. O Partido Comunista se dividiu em várias frações; o MIR também. Havia guevaristas, maoístas, trotskistas. Essas estruturas foram se enfraquecendo até quase desaparecerem.

Com a queda do Muro de Berlim e a crise do socialismo real, essas organizações praticamente sumiram, restando apenas pequenos grupos de militantes dispersos. No final dos anos 1990, diante da ausência de uma resposta popular e orgânica, os sindicatos rurais construíram o que chamaram de “instrumento político dos povos”. Como não tinham registro legal, tomaram emprestada a sigla de uma fração da direita — a Falange Socialista Boliviana, um grupo de extrema direita golpista —, que tinha um pequeno grupo com o nome “Movimento ao Socialismo”, mas no sentido do socialismo falangista.

Esses setores sindicais utilizaram essa sigla para disputar as eleições. Por isso, as cores do MAS são azul, branco e preto — cores mais típicas do falangismo do que das bandeiras vermelhas do socialismo clássico.

Quatro organizações principais construíram o instrumento político: a Confederação Sindical de Camponeses (essencialmente aimara), o CONAMAQ (Conselho Nacional dos Povos Originários), as Bartolinas (movimento de mulheres indígenas, em homenagem à esposa de Túpac Katari) e os chamados colonizadores — camponeses migrantes que recebiam terras estatais nas regiões tropicais, como o Chapare, onde está Evo Morales.

Inicialmente, o movimento teve pouco sucesso eleitoral, mas, no fim dos anos 1990, com uma forte crise política, surgiu Felipe Quispe, o “Mallku”, um líder aimara que havia pertencido ao Exército Guerrilheiro Túpac Katari junto a Álvaro García Linera. Ele liderou um levantamento indígena que colocou no centro do debate as reivindicações dos povos originários.

Esses movimentos foram os protagonistas da “guerra da água”, contra a privatização da água, e da “guerra do gás”, contra a exportação de gás para o Chile. São eles que levaram o MAS ao triunfo eleitoral em 2005.

Entre 2005 e 2009, houve um período de transição crítica: assembleia constituinte, tentativa de divisão do país, grupos paramilitares de direita, etc. Ao final, conseguiu-se aprovar uma nova Constituição.

O problema central é que na Bolívia não existe um “partido MAS” no sentido tradicional. Não existe uma estrutura partidária.
Existem grupos indígenas e, na área urbana, grupos de amigos que não têm nenhuma forma de estrutura partidária. Reúnem-se de vez em quando, participam. Muitos deles participaram do Estado nos últimos vinte anos, mas não há uma instância que gere equilíbrio político, que estabeleça uma linha, que promova formação política, que explique os problemas — e não a partir de uma perspectiva político-ideológica. Isso não existe. Isso nunca existiu.

Isso permitiu que o poder se concentrasse no entorno governamental. Evo e Álvaro concentraram demais o poder. Há muita crítica a Álvaro, no sentido de que ele marginalizou todas as pessoas ao seu redor que poderiam lhe fazer sombra — e isso é, de fato, verdade. Ou as afastou do partido ou do governo, ou as enviou como embaixadores. Existe quase uma “legião estrangeira boliviana”, com vários embaixadores que são quadros políticos da velha esquerda.

Mas, como não existe essa estrutura política, tampouco há uma estrutura capaz de gerir as divergências. Esse é um dos maiores problemas.

Em 2009, o MAS vence com 65–66%. Em 2014, vence com 61%.
Mas aí começa a ruptura que estamos vendo agora. Logo depois da vitória eleitoral, Evo toma posse em janeiro de 2015 e convoca um referendo para modificar a Constituição, aprovada apenas quatro anos antes, a fim de permitir a reeleição indefinida de Evo e Álvaro — ou seja, do presidente e do vice-presidente.

Isso gerou grande descontentamento nas organizações e na cidadania.
Por quê? Porque ele acabava de ser eleito presidente e já queria se candidatar novamente, quando a Constituição, aprovada pelo próprio MAS — a Constituição “masista” —, estabelecia que só era possível ser presidente por dois mandatos consecutivos. Este seria o terceiro depois da nova Constituição, mas o quarto no total. Isso causou enorme desgaste.

A direita aproveitou esse fator para unificar todas as suas frações contra o governo em torno do que se chamou de “21F”. Fizeram uma forte campanha midiática. O referendo estava marcado para 21 de fevereiro de 2016, e em janeiro daquele ano surgiu um escândalo envolvendo uma acusação de que Evo teria tido um filho com uma jovem que trabalhava para uma empresa chinesa, com suposto tráfico de influências. O escândalo foi enorme e, evidentemente, influenciou o resultado. No final, o referendo foi perdido.

Isso gerou muitas tensões. Outros atores importantes entram em cena. Álvaro García Linera, um intelectual de classe média, reuniu um círculo muito próximo a ele e marginalizou qualquer voz dissidente — o que é amplamente reconhecido.
Há também David Choquehuanca, atual vice-presidente, que na época era chanceler. Choquehuanca é uma figura central no mundo aimara — o ideólogo e filósofo da ideologia aimará do “bem viver” e da descolonização. É uma figura muito proeminente, um dos melhores intelectuais bolivianos e um importante referencial.

Choquehuanca enfrentou Evo e Álvaro por causa do referendo e das consequências que ele gerou.
O que aconteceu depois?
Em vez de buscar um novo referendo, alguns anos depois forçou-se uma decisão do Tribunal Constitucional para habilitar Evo como candidato, sob o argumento de que ser candidato é um direito humano. Essa decisão causou ainda mais descontentamento entre os setores populares e as organizações, que não viram isso como algo correto do ponto de vista político.

A direita então desdobrou uma verdadeira guerra — uma campanha de três anos de propaganda, consolidando a ideia da ilegitimidade do processo.

Por quê? Porque se intuía que o MAS ainda mantinha grande força.
Durante todo o ano de 2019, desenvolveu-se um movimento em torno da narrativa de que o MAS cometeria fraude.
Segundo a Constituição boliviana, uma eleição é vencida se o candidato obtém mais de 40% dos votos e uma diferença de pelo menos 10% sobre o segundo colocado.
Naquela eleição, a diferença foi de 9,8%. Álvaro García lançou a consigna “já ganhamos” — não se declarou vencedor, mas o anúncio gerou enorme mobilização no país, especialmente da direita.

Os setores populares não saíram às ruas — nem o movimento camponês, nem El Alto, uma cidade aimará muito forte, se mobilizaram naquele momento.
A resolução da crise foi extremamente peculiar. Havia quatro pessoas na linha de sucessão constitucional: o presidente, o vice-presidente, a presidenta do Senado e o presidente da Câmara dos Deputados. Todos eram do MAS, que tinha dois terços tanto na Câmara quanto no Senado. Era, portanto, impossível que a direita chegasse ao poder por via constitucional.

Mas Álvaro apresentou um argumento nunca bem explicado: a renúncia coletiva dos quatro — Evo, Álvaro, Adriana Salvatierra e Victor Borda.
Isso gerou total confusão e permitiu que Jeanine Áñez se autoproclamasse presidenta.

Até esse momento, o movimento popular não havia se manifestado. Não havia saído em defesa de Evo.
Quando a direita chega ao governo, queima a wiphala — a bandeira indígena — na Plaza Murillo e retira os símbolos indígenas do Parlamento. Isso sim foi o estopim.
El Alto se mobilizou massivamente. O comando geral da polícia foi tomado, uma unidade militar foi cercada. Aconteceram os massacres de Senkata (em El Alto) e Sacaba (em Cochabamba).

Naquele ano veio a pandemia. A partir de julho, o movimento popular se reorganizou e, em setembro, promoveu um bloqueio nacional de estradas. Estavam prestes a derrubar Áñez, mas a própria direção do MAS pediu que esperassem até as eleições, para que a vitória viesse pelas urnas.

Com a vitória eleitoral, surgiu um fenômeno contraditório: uma ala “renovadora” dentro do MAS, contra Evo Morales.
Isso por dois motivos: primeiro, por todo o processo da reeleição; e segundo, porque Evo impôs os candidatos a deputados, senadores, prefeitos e governadores sem levar em conta as decisões ou percepções das organizações.

Essa disputa entre os “renovadores” e Evo Morales é a base do conflito atual, que se arrasta desde 2015.
O presidente Luis Arce foi designado por Evo. Quando Evo estava na Argentina, as organizações haviam proposto David Choquehuanca e Andrónico Rodríguez — este último atual presidente do Senado e candidato pela Aliança Popular, que não pertence ao MAS. Mas Evo decidiu que os candidatos seriam Luis Arce e David Choquehuanca.

Evo tentou manejar Arce como um títere — definir quem seriam seus ministros e manter controle sobre o governo.
Mas Arce não aceitou.
Contudo, ele tampouco tem estrutura política, já que não existe partido. Seu único vínculo anterior era com o Partido Socialista, na juventude. Fora isso, não há base política sólida.

Portanto, a força do governo de Arce depende essencialmente das organizações sociais — e a influência dessas organizações é determinante para o destino político do país.

Perfeito. Então, como eu dizia, a direita se encarregou de posicionar primeiro o conceito da disputa “pura” entre o Ducho e Evo, e isso era a luta. Eram as discrepâncias entre organizações sociais. A liderança das organizações estava a cargo do companheiro David, que dizia: “Gilata”, porque, veja, ele é irmão em aimara e estava em Gilat. A gestão da luta foi extremamente deficiente. Esse é um elemento que deve ser reconhecido: Evo se cercou de um grupo de ministros que nenhum tinha capacidade política, à exceção Eduardo del Castillo, um jovem de 31 ou 32 anos, que foi nomeado ministro de governo, mas o restante do grupo foi enormemente deficiente.

Não havia nenhum interlocutor. A gestão se dedicou apenas a administrar o Estado, sem propostas, sem planos de ação, absolutamente nada. As organizações sociais indicaram muitos dos ministros e diretores. Mas surgiu um fenômeno que, embora já tivesse aparecido no governo de Evo, se acentuou muito: a corrupção. Ou seja, os dirigentes das organizações pediam aos funcionários pagamento em troca do aval da organização para ocupar cargos públicos. As comissões cobradas dos empregados sempre existiram, pois eram consideradas um aporte ao partido. No entanto, houve vários casos de ministros indicados por organizações sociais que foram acusados e condenados por corrupção em áreas como meio ambiente, desenvolvimento rural e terras.

Isso é um fato evidente, que também gerou grande descontentamento da base contra as direções. Até aproximadamente 2022 ainda havia alguma proximidade, existiam pontes entre o governo e as organizações sociais. Mas é preciso dizer que, dentro do próprio governo, havia pessoas focadas em marginalizar e agredir sistematicamente outros membros, como o Ministro da Justiça, cujo histórico político era inexistente e tinha percepções bastante de direita, sendo questionado inclusive pelo MAS. Esse ministro só foi retirado do gabinete em 2024, e era quem se enfrentava sistematicamente com os demais.

Nesse processo, começaram a surgir vários deputados que publicamente acusavam Evo Morales, o governo ou o vice-presidente, iniciando uma guerra mediática intensa, uns contra os outros. No início, isso chocou o eleitorado; a direita comemorava, e os meios de comunicação de direita amplificavam totalmente esse conflito interno do MAS. Evo Morales começou a adotar atitudes mais sistemáticas contra o governo.

Houve um problema em 2022 relacionado ao censo, que não pôde ser realizado. Evo foi muito duro quanto a isso. Santa Cruz, território de direita, liderou uma paralisação de 36 dias por causa do censo, e Evo Morales acabou apoiando o movimento de oposição, pois as fissuras internas já eram muito profundas. Quando se tentou organizar um acordo de unidade entre diferentes frentes, convocou-se uma reunião massiva com Evo Morales e outros dirigentes, como David Lucho. No momento em que Evo falava, a transmissão foi cortada nas rádios e TVs estatais. Evo interpretou isso como um sinal de que não havia intenção real de gerar espaços de diálogo, já que as contradições internas no governo, na vice-presidência, nas organizações sociais e em setores diversos eram muito fortes.

Depois, Evo se tornou um crítico ferrenho do governo. Até 2023, o governo mantinha uma postura moderada, sem atacar publicamente Evo Morales, embora alguns deputados e dirigentes de organizações sociais o fizessem. As disputas foram abertas e intensas, e Evo chegou a atacar publicamente os filhos do presidente, gerando grande conflito. Inicialmente, não havia indícios de atos anômalos ou corrupção, mas posteriormente houve um caso de um filho do presidente que obteve um empréstimo de 3 a 4 milhões de dólares de um banco pertencente à extrema direita para comprar um terreno de 3.000 hectares. A oposição usou isso como escândalo de corrupção, e Evo Morales também aproveitou para criticar o governo.

Outro ponto importante foi a situação no Parlamento. Andrónico Rodríguez, do Chapare, considerado pupilo de Evo, era presidente do Senado. Evo tinha maioria, pois todos os senadores foram escolhidos por ele, mas no Senado aprovou-se uma aliança entre Andrónico, Carlos Mesa (da Comunidad Ciudadana) e o grupo de Fernando Camacho (outra ala da direita que havia dado o golpe a Evo). Isso gerou grande descontentamento nas organizações sociais, especialmente nas não indígenas, como federações de mineiros, fabris e professores, pois rompia com os parâmetros básicos do enfrentamento político, ao fazer alianças com aqueles que haviam dado golpe no movimento socialista.

Essa oposição centralmente bloqueou créditos necessários ao governo, causando crises de combustível e permitindo uma contraofensiva de classe da direita, que controlava a banca e a produção de alimentos básicos, desviando produtos ou restringindo sua distribuição. Essa estratégia teve um impacto significativo no último período.

A direita buscou posicionar a narrativa de fim do socialismo, fim do “machismo”, fim de Evo Morales e início de uma restauração neoliberal. A estratégia de propaganda se concentrou nas eleições, definindo Tututo Quiroga e Samuel Lori Medina como principais candidatos.

O MAS, diante de tanta fragmentação interna, estava partido. O Tribunal Eleitoral não sabia qual fração tinha a voz oficial, se a de Arce ou a de Evo. Uma resolução do Tribunal Constitucional deu a voz oficial ao governo, marginalizando Evo Morales. Outro nome importante é Eva Copa, jovem presidente do Senado em 2019, que assumiu a presidência do MAS altiplânico e se tornou bastião da resistência parlamentar contra o governo. Posteriormente, ela rompeu com o MAS para concorrer à prefeitura do El Alto, ganhando com 76% dos votos, tornando-se líder do bastião mais importante do MAS.

No cenário atual, surgem como candidatos do MAS Eva Copa, Lucho Arce, Andrónico Rodríguez e Luis Arce tentando se candidatar. Foram emitidas 2 ou 3 resoluções constitucionais impedindo Evo Morales de concorrer novamente, apesar de a Constituição não ser clara sobre mandatos não consecutivos. As organizações sociais pressionaram por uma candidatura unitária, inicialmente considerando Andrónico como possível ponte, mas Evo Morales não aceitou que outro concorresse além dele. Andrónico acabou se lançando por conta própria, sem apoio do MAS, buscando outra agrupação.

O governo e as organizações sociais tentaram que Eduardo del Castillo renunciasse à candidatura para apoiar Andrónico Rodríguez, mas o vice-presidente se opôs. O processo foi marcado por uma série de erros, conflitos pessoais e disputas públicas sobre questões políticas e pessoais, resultando em um desempenho eleitoral desastroso: Eduardo del Castillo obteve apenas 3% dos votos, um resultado catastrófico se comparado aos 54% de 2020 e 63% de 2014, elegendo apenas 7 deputados de mais de 80.

EM – Existe um balanço geral importante de tudo o que aconteceu com o MAS e agora com as eleições, mas gostaríamos de ouvir você sobre o processo eleitoral diretamente. Você mencionou, do outro lado, que houve uma contraofensiva de classe da direita neoliberal. Gostaríamos que comentasse especificamente sobre como essa ofensiva de classe se expressou nas cifras, nos números das eleições presidenciais que ocorreram recentemente.

OC – Vamos ver como a direita está composta. Existe uma ala de extrema-direita, encarnada em Santa Cruz, nas elites econômicas e políticas dessa região, com grande influência do antigo MDR e da Falange. O MDR perdeu força desde a Revolução de 1952, mas acabou totalmente alinhado ao neoliberalismo, sendo uma peça importante para a embaixada americana. Eles são racistas, anti-indígenas e antiocidentais, com um discurso da Guerra Fria voltado à luta contra o comunismo. Essa lógica se aproxima bastante da postura de Quiroga. Tuto Quiroga representa uma direita proveniente da ditadura; foi vice-presidente de Banzer, ditador da década de 1970, e tornou-se presidente em 1998. Ele mantém o esquema anticomunista, mas vive em La Paz e não é tão antiocidental ou anti-indígena quanto os elementos de Santa Cruz.

Além disso, existe uma centro-direita ocupada por Doria Medina, Carlos Mesa e outros. Doria Medina é ex-militante do MIR, partido inspirado no MIR chileno. Na década de 1970, representava uma classe média radical que defendia o enfrentamento armado. Eles chegaram ao poder com a UDP, mas depois, em 1998, Jaime Paz fez uma aliança com Banzer para governar, marcando o fim do MIR como expressão de esquerda, que se fragmentou em várias frações. Doria Medina pertence a uma dessas frações, mas não se aproxima da esquerda. É um empresário bem-sucedido no setor de cimento, concessionário do Burger King e Subway, com hotéis em Santa Cruz. Na Assembleia Constituinte, teve uma postura moderada e conciliadora, embora obviamente seja neoliberal.

Carlos Mesa, ex-presidente, era apresentador de notícias e historiador renomado, tendo liderado a demanda boliviana contra o Chile pelo mar. Seu destaque e reconhecimento lhe permitiram se reposicionar politicamente, voltando a se candidatar em 2019. Ele também representa uma configuração mais de centro-direita. No centro, praticamente não existe representação, pois a Bolívia está extremamente polarizada: direita versus esquerda. Para os bolivianos, a esquerda é vista como mais radical. Por exemplo, durante as eleições francesas, muitos consideravam que políticas relativamente moderadas já não eram consideradas de esquerda, refletindo uma visão mais radical da política.

O MAS era reformista em muitos aspectos, mantendo o modelo liberal, mas, por ser indígena, representava o movimento popular e era considerado de esquerda.

No cenário futuro, Rodrigo Paz não terá outra alternativa senão co-governar com Doria Medina. Ele terá aproximadamente 55 deputados, mas a maioria parlamentar exige 65, então precisará negociar com eles. Prometeram muitas concessões populares que, se vencerem, poderão cobrar depois. Caso ele não vença, o governo ficará entre Tuto Quiroga e Doria Medina, que precisarão negociar para conseguir maioria.

Tuto Quiroga quer abrir a Constituição, modificar leis e designar novas autoridades, como no Ministério Público e na Defensoria del Pueblo. Um elemento simbólico é rejeitar o Estado Plurinacional, voltando à República, o que representa um simbolismo anti-indígena. A presença indígena originária no Estado, que hoje é significativa, desaparecerá. Haverá também alinhamento internacional com os Estados Unidos, possivelmente em apoio a Trump.

Além disso, será lançada uma política de privatização das empresas estatais, que historicamente foram mal geridas. Algumas plantas industriais foram criadas no governo de Lucho, mais de 100, mas muitas foram planejadas de forma inadequada, sem critérios técnicos ou empresariais, atendendo mais a reivindicações de organizações sociais do que a estratégias de produção eficientes, tornando essas iniciativas muito vulneráveis.

EM – Queremos entender o seu ponto de vista sobre como a divisão interna do MAS se expressou nos movimentos sociais. O que aconteceu, por exemplo, com o movimento indígena desde que o MAS passou por toda essa fragmentação interna?

OC – Existem dois elementos centrais que precisamos entender. A Bolívia tem uma presença indígena muito forte, mas corresponde a aproximadamente 30% do eleitorado; cerca de 65% é urbano, e há 5% em cidades intermediárias. Existe também um movimento periurbano entre os setores populares das cidades, de origem indígena, mas urbano e de várias gerações. Muitos deles, o que chamamos na Bolívia de “blanqueamento”, foram se afastando de sua identidade indígena e surgiram como classe média, até mesmo renegando seu estrato indígena.

O que vai acontecer com o MAS como estrutura política? Nunca houve uma estrutura política consolidada. Formalmente, existiam direções nacionais e departamentais, mas eram apenas formalismos para apresentação à Corte Eleitoral; nunca houve um partido organizado, reuniões de comitês ou grupos permanentes.

E quanto às organizações sociais? Elas votaram organicamente, como mostram os dados, concentrando o voto em Rodrigo Paz, principalmente nas áreas rurais. Nas zonas populares urbanas, também houve uma tendência a votar por ele, guiados pela ideia de não apoiar o MAS, considerado uma decepção, e escolher pelo “mal menor”, o candidato mais à direita disponível. Isso não significa que a população tenha mudado de posição ideológica, mas sim que se tratou de um voto de protesto.

Infelizmente, as organizações não funcionam como um partido; são sindicatos, que contêm várias correntes políticas fragmentadas. Há forte presença de David Choquehuanca, de Evo Morales e de outros setores; existem setores indigenistas mais radicais, como os de Felipe Quispe, mas estão fragmentados. Não se sabe a dimensão dessas fraturas, pois em cada grupo há apoio a Evo, a David e posições críticas de ambos.

E o que Evo Morales conseguiu? Observa-se cerca de 19% de votos nulos, quando o normal seria 4 ou 5%. Assim, o apoio real a Evo pode ser estimado em aproximadamente 15% do eleitorado. Além disso, houve cerca de 10% de abstenção, algo muito estranho na Bolívia, onde o voto é obrigatório. Isso levanta questões sobre o voto de protesto e como ele se expressou nesta eleição.

EM – Expressa no voto nulo convocado por Evo, alcançou a cifra de quase 20%, um nível inédito nas eleições presidenciais bolivianas. Somados aos votos de Andrónico e de Castillo, pode-se dizer que pelo menos um terço do povo boliviano rejeitou as candidaturas provenientes da direita neoliberal e da extrema-direita já no primeiro turno. Como você vê a importância dessa reserva de votos, dessa resistência para as lutas que virão?

OC
– Isso é verdade, ou seja, o chamado 20% de votos nulos não chega exatamente a 20%, está mais próximo de 15%. A isso, somam-se os 8% de Andrónico e os 3% de Eduardo del Castillo. Além disso, cerca de 10% do eleitorado não votou, algo muito raro na Bolívia, onde o voto é obrigatório. Somando tudo, temos aproximadamente 30% do eleitorado que se manifestou abertamente em oposição às candidaturas de direita. No entanto, o voto em Rodrigo Paz foi principalmente um voto de castigo ao MAS.

Não se pode descrever o cenário como a existência de um movimento organizado contra as candidaturas de direita; não existe tal movimento. As organizações estão muito divididas e o cenário é extremamente difícil.

Agora, quais são as tarefas políticas mais importantes? Ao longo dos últimos 20 anos, debateu-se a necessidade de construir um instrumento político, ou seja, um partido, mas sempre houve resistência, pois se dizia que as organizações sociais não precisavam de um partido tradicional. Álvaro, por exemplo, nunca teve militância partidária e vinha de uma corrente intelectual da Escola de Frankfurt. Na Bolívia, havia um grupo chamado “La Comuna”, composto principalmente por sociólogos, que eram essencialmente antipartidários e contrários a estruturas orgânicas.

Hoje, no entanto, é imperativo reconstruir um instrumento político de forma orgânica. É absolutamente prioritário rearticular e organizar os diversos grupos da esquerda que permanecem no MAS, incluindo setores da velha esquerda que não se desencantaram com o processo. A tarefa central é articular, organizar e reconstruir a militância urbana, que o MAS nunca teve, além de estabelecer pontes de reconciliação com as organizações sociais e grupos diversos.

O problema mais complicado é o caráter irascível de Evo Morales. Por exemplo, há algumas semanas, um grupo de camponeses de Potosí foi até ele e fez elogios exagerados, chamando-o de enviado de Deus. Evo levou isso a sério, o que o fez insistir em manter sua candidatura presidencial, gerando conflitos internos.

No entanto, todos têm responsabilidade nesse cenário: o presidente, as bancadas, os deputados, Andrónico e outros. A longo prazo, resta esperar que as tensões diminuam e começar a organizar a militância urbana, reconstruir a confiança e organizar o partido. A grande vantagem é que o povo boliviano não está derrotado. A votação mostra que houve um voto de castigo ao MAS, mas ainda existe entusiasmo e potencial de mobilização, o que significa que é possível reconstruir e reorganizar de forma sólida.

Vale notar que qualquer candidatura de direita, como Quiroga, enfrentará grandes dificuldades; será mais radical e poderá gerar instabilidade, mas isso não significa que a população esteja derrotada.

EM – Embora tenha ocorrido uma derrota eleitoral muito forte, sentida por toda a esquerda boliviana e, de forma mais ampla, por toda a América Latina, você acredita que não se trata de uma derrota histórica? Ainda existe uma grande reserva popular de luta que permita reorganizar a esquerda boliviana?

OC – Olha, esta pergunta me parece brilhante porque é a mais importante. Eleitoralmente, trata-se de uma catástrofe: passar de ter dois terços no Parlamento para apenas sete deputados é uma perda enorme. Eduardo del Castillo, que havia obtido 250.000 votos em 2020, viu o MAS vencer com 2.000.000 de votos, ou seja, agora temos apenas cerca de 5% do que antes tínhamos. Essa é a lição para as lideranças.

No entanto, o movimento popular é extremamente maduro. Isso é fundamental entender: houve uma derrota eleitoral, mas também uma derrota política. Por quê? Porque parte da população abandonou o sonho discutido em 1986 de realizar a revolução socialista dentro da democracia, não como um formalismo, mas como avanço real. A ideia de revolução socialista, seja por etapas no estilo estalinista, revolução permanente segundo alguns críticos ou revolução popular à maneira chinesa, estava muito presente, sustentando a ideologia socialista.

Depois veio a derrota, vieram os neoliberais, e a direita tinha uma proposta política clara: o neoliberalismo e a modernidade. Segundo essa lógica, se você é de esquerda, é considerado antiquado, porque não acredita no neoliberalismo nem na modernidade, nem nas tecnologias emergentes. Na Bolívia, isso se combinou com a ilusão de modernidade que a direita vendia. Hoje, no entanto, a direita não tem proposta alguma. Sua única razão de existir é atacar o MAS; sem o MAS, eles não têm razão de ser. Na prática, repetirão o que fizeram na década de 1990: privatizar, concentrar riqueza e manter a pobreza. Isso o povo já conhece.

Portanto, sim, houve uma derrota eleitoral, mas não se trata de uma derrota estratégica. A tarefa central agora é reconstruir um instrumento político que canalize e organize o movimento popular, conduzindo-o novamente a um cenário de avanço social.

Essa tarefa não será fácil. Há muito se debate a necessidade de uma estrutura política latino-americana, porque todos os países da região enfrentam o mesmo tipo de desafios – com suas diferenças – e todos confrontam a direita organizada. Eles têm linhas claras, recebem diretrizes e ferramentas, enquanto nós não.

EM – Agora estamos presenciando uma ofensiva imperialista muito forte sobre a América Latina, como aqui no Brasil, com as investidas de Trump cos as tarifas comerciais e sua atuação em favor de Bolsonaro. Como você vê essa situação, o que está em jogo agora e como o povo boliviano pode responder às agressões imperialistas?

OC – O que estamos vendo a nível geopolítico é a divisão nos Estados Unidos entre duas correntes imperiais. Não é que uma seja boa e a outra ruim; são apenas duas correntes imperiais diferentes, podemos dizer “Godzilla ou King Kong”. O que Trump tenta fazer é tornar os Estados Unidos grandes novamente. Ele quer reafirmar o poder do império norte-americano, considerando a América Latina como seu quintal.

Eles têm, no entanto, uma dificuldade: as próprias direitas nacionais não são muito pró-Trump. Assim, a direita se encontra historicamente em um cenário muito complicado, sem referência internacional e sem proposta nacional; sua orientação sempre veio dos Estados Unidos, em inglês. Agora, precisarão formular uma resposta nacional, e não a têm – nem na Bolívia, nem na América Latina.

O Brasil está no centro da atenção geopolítica porque faz parte dos BRICS e é fundamental na questão da multipolaridade, principalmente nos esforços para reduzir o papel do dólar como moeda padrão mundial. Não é casual que haja ataques ao Brasil. Até onde Donald Trump poderá avançar nos Estados Unidos, dada a forte contradição interna, é uma incógnita.

Mais do que nunca, é necessária a aliança das correntes de esquerda na América Latina. No caso boliviano, temos que partir quase do zero, reorganizando e reconstruindo um instrumento político que nos permita enfrentar o imperialismo de forma conjunta.

Nesse mundo em reorganização, precisamos, em torno do eixo Brasil-México, construir um projeto geopolítico próprio, com alianças políticas de esquerda. É necessário articular redes em toda a região: Argentina, Uruguai, Paraguai, Peru, Chile, Colômbia e América Central, criando uma coluna vertebral que compartilhe experiências e debates.

Agradeço muito este contato, que permite fazer um pouco de catarse depois de episódios tão intensos. É um contato a ser valorizado, uma pequena semente.

EM – Temos mais duas perguntas e, depois, encerramos. Agradecemos imensamente pela conversa que você teve conosco; com certeza vamos continuar desenvolvendo nosso diálogo.

A primeira pergunta é a seguinte: Evo Morales foi eleito pela primeira vez em 2005 como expressão das lutas contra a privatização da água em Cochabamba, proposta pelo governo da época, liderado por Hugo Banzer, dando início ao ciclo liderado pelo MAS. Agora, duas décadas depois, o vice-presidente daquela época, Tuto Quiroga, disputa uma inédita segunda volta nas eleições presidenciais. O que isso pode significar para o povo boliviano e para as conquistas alcançadas nesse período, como, por exemplo, a nacionalização dos recursos naturais, decidida no referendo de 2004 e incorporada à Constituição em 2009?

OC – Ela já colocou isso. Não é nada novo, ou seja, ele vai assumir uma postura neoliberal. Vai chegar e criminalizar as organizações sociais. Isso coloca Evo Morales em grande perigo. Quase com certeza, se não o eliminarem, ele se exporá muito. Vão privatizar todas as empresas que puderem, com certeza, incluindo jazidas, a Entel, os correios e tudo mais que puderem. E na Bolívia existem várias outras empresas menores. Infelizmente, poucas são eficientes, e vão fechar muitas.

Também tentarão uma reforma trabalhista. Isso é muito complicado porque cerca de 75% da população trabalha por conta própria. Os trabalhadores formais são uma minoria privilegiada, mas ainda assim vão tentar. O critério da cidadania é claro: isso será apenas algo conjuntural, porque vamos voltar a nacionalizar.

Apesar de a direita avançar, essa derrota não é do povo. O povo não está em uma posição de direita; o setor popular vai se reorganizar. Na época do Plano Condor, todos os países lutaram contra uma ditadura. Não houve apenas 10, 14 ou 15 anos de ditadura; na Bolívia, em 11 anos, derrubamos duas ditaduras.

O povo boliviano tem essa experiência e maturidade política. Haverá um retrocesso, sim, e a direita avançará, mas isso não será histórico. O movimento popular boliviano, após 2019, sofreu uma perseguição feroz contra suas lideranças: havia mais de 1.500 presos. Isso é muito para as lideranças. Ainda assim, o povo se organizou desde a base. Fizemos greves e bloqueios em mais de 200 pontos a nível nacional; nada se moveu. A liderança da direita se viu derrotada. Conseguimos chegar às eleições e vencê-las.

Portanto, haverá um período de retrocesso, sem dúvida. Mas é necessário fazer a tarefa: reorganizar o movimento popular, criar um novo instrumento político, um novo projeto. É preciso redesenhar o projeto político. Nos veremos no referendo revocatório daqui a dois anos e meio ou nas próximas eleições.

EM – Agora, voltando às eleições, como você analisa o segundo turno e, em seu juízo, qual deveria ser a posição da esquerda boliviana agora?

OC – Então, desde domingo à noite, Tuto Quiroga com todos os seus “guerreiros digitais” se lançaram a desprestigiar Rodrigo, que é, digamos, o voto do “marxismo” e que não teria propostas, e a dar-lhe guerra total.

Quanto ao eleitorado do MAS, como não há partido, eleitoralmente o MAS está diminuído para cerca de 3 %. Andrónico também está em queda; historicamente ele vai sofrer muito com isso.

Levantar agora um debate sobre como o eleitorado deveria se mover não será muito factível. O eleitorado já se movimentou e já votou. Eu calculo que o mais provável é que as pessoas votem em Rodrigo. Ainda é muito cedo para ver. Mas se, de fato, nesta guerra eleitoral, ele se desgastar muito, as pessoas vão votar em branco ou nulo.

O governo de Rodrigo será muito fraco. Muito fraco, porque o Presidente é uma pessoa bastante irascível, candidato e ex-capitão de polícia, mas sem formação política. Comparado com Evo? Não. Evo entendia razões; este não. Ou seja, é bastante disparatado.

O governo de Tuto será duro, mas também muito fraco, porque historicamente não têm propostas. Não haverá nada de novo sob o Sol. Não poderão simplesmente convocar o FMI para gerar créditos e mais dependência da Bolívia; isso já foi derrotado. Seria retroceder 20 anos.

Eu, apesar de tudo, sou crente de que o povo boliviano — o movimento popular — já demonstrou muitas vezes que vai se levantar novamente. Não está derrotado. O povo boliviano está irritado com o que aconteceu no MAS. E isso é o que se vê: um voto de castigo contra o MAS, contra as suas lideranças, mas que mostra que podem votar de forma unificada.

EM – Você pode deixar uma última mensagem para os nossos leitores, para os povos da América Latina, que se inspiram na experiência boliviana de luta popular contra o liberalismo, contra o imperialismo e que se sentem convocados a levantar uma defesa da soberania de seus países contra a extrema direita.

OC – Acho que o mais importante é a unidade; é definitivamente o mais importante. A estratégia imperial sempre se baseou, seguindo os desígnios de Maquiavel, nos dividir e vencer. Essa é a estratégia com a qual conquistaram o planeta, com algumas exceções na América Latina. Se não nos unirmos, vamos continuar submetidos e nessa espécie de luta dos movimentos populares contra as direitas, e não contra esta direita pró-imperial. Eles estão unidos; nós precisamos, estrategicamente, de unidade e de gerar um projeto político latino-americano. Esses são, para mim, os dois desafios históricos neste momento.


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