As ruas desafiam Trump: o que está por trás dos protestos

As ruas desafiam Trump: o que está por trás dos protestos

   Os olhos do mundo se voltaram aos Estados Unidos no último sábado (18), quando multidões tomaram as ruas em manifestações contra o autoritarismo de Donald Trump

Estados Unidos Hoje da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco

   Chamado de No Kings(“Não queremos Reis”), o dia de protestos foi massivo. De acordo com os organizadores, houve 2700 eventos espalhados pelos 50 estados, mobilizando um total aproximado de 7 milhões de pessoas. Assim, trata-se do maior dia isolado de manifestações na história do país. Centenas de milhares marcharam em metrópoles como Nova York, Washington, Chicago, Atlanta, Boston, São Francisco e Filadélfia. Outras dezenas de milhares reuniram-se em cidades médias, enquanto eventos menores aconteceram em todos os cantos do país, incluindo os interiores.

A mobilização foi impulsionada por grupos da sociedade civil articulados nas plataformas denominadas Indivisible(“Indivisível”)e #50501 (uma referência à ideia de “50 protestos, 50 estados, 1 movimento”). Trata-se de redes amplas de convocatória, nas quais setores liberais têm peso, mas onde é evidente a abertura para a expressão de ideias de esquerda e para a presença organizada da classe trabalhadora. Em outras palavras, é a unidade de ação contra o neofascismo de Trump, unindo setores e bases sociais diversas.

Entre as consignas, o centro foi o rechaço a Trump e ao núcleo de sua política autoritária: a perseguição aos imigrantes, o ataque às liberdades democráticas, a militarização de cidades governadas pela oposição, as demissões em massa de trabalhadores dos serviços federais. Outras bandeiras também se apresentaram, como em defesa de saúde, educação, ciência, direitos das mulheres e de LGBT+, além da solidariedade à Palestina. Em algumas cidades, houve participação de quadros do Partido Democrata, incluindo parlamentares e prefeitos. Bernie Sanders, o senador independente e socialista de Vermont, discursou em Washington. As ruas foram tomadas, porém, por gente comum: professores, profissionais da saúde, famílias de imigrantes, grupos de bairro e de juventude. Um sem-número de sindicatos e organizações de classe endossou os atos.

            Mas qual o panorama por trás dos protestos?

            O governo Trump encontra-se em um momento delicado, demonstrando força, por um lado, mas também expondo fraquezas. No âmbito internacional, busca acumular autoridade em torno do frágil cessar-fogo em Gaza, ao mesmo tempo que revela agressividade imperialista máxima contra a Venezuela. A política econômica protecionista, baseada nas tarifas, está longe de entregar o que prometeu nas eleições, ou seja, mais empregos e melhores salários. Pelo contrário, embora a economia siga crescendo, o mercado de trabalho desacelera e a inflação pressiona produtos específicos, como o café, a carne e os eletrodomésticos. Para piorar, o governo encontra-se há vinte dias em shutdown (paralisação orçamentária), levando a um aumento nas demissões e nos cortes em agências e programas federais, medidas que Trump executa seguindo critérios ultrarreacionários.

            A economia não é o único tema. Há menos de um mês, em 22 de setembro, após o assassinato do influenciador de extrema-direita, Charlie Kirk, Trump publicou um decreto designando “Antifa” como organização terrorista nos Estados Unidos.[1] Os efeitos dessa definição genérica e perigosa ainda estão por vir. Diferentes cidades governadas pela oposição encontram-se sob intervenção militar, como Washington, Chicago, Memphis e Portland. A perseguição aos imigrantes atinge um patamar impronunciável de perversidade, chocando a opinião pública diariamente. Pesquisas no final de setembro mostraram que as políticas centrais do governo são reprovadas por, no mínimo, 50% da população, sendo que a aprovação pessoal de Trump estagnou em 43%, quase 10% a menos do que no início do governo. A maioria do país (53%) o desaprova.

            Mas diante do quadro complicado, a tendência é que o governo se torne mais — e não menos — perigoso, seja para o futuro da classe trabalhadora e da democracia estadunidense, seja para o mundo. Apoiado incondicionalmente por um núcleo duro de 90% do eleitorado do Partido Republicano, o presidente neofascista quer avançar. Suas medidas repressivas aumentam e seu partido trabalha para controlar o regime político de forma autoritária — por exemplo, redesenhando ilegalmente distritos eleitorais para assegurar maioria legislativa após as eleições de 2026. Esse processo já foi concluído no Texas, no Missouri e em Utah, e ainda pode ocorrer na Carolina do Norte e em Indiana.

            Nesse contexto, a maioria social crítica ao governo manifestar-se nas ruas é determinante. Para dar um exemplo prático, a consigna “antifascista” foi de massas no No Kings — presente em cartazes, palavras de ordem, camisetas e alegorias —, passando por cima do decreto presidencial citado anteriormente. Após o maior dia de protestos da história do país, Trump sai mais frágil, e o movimento em rechaço a ele, mais forte.

O futuro dos Estados Unidos está ligado à continuidade dessa luta, ao desdobramento dela em outras iniciativas, e ainda à consolidação de vitórias exemplares da resistência popular. Quanto a essas, uma tem especial importância: daqui a duas semanas, eleger o socialista Zohran Mamdani à prefeitura de Nova York.


[1] https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/09/designating-antifa-as-a-domestic-terrorist-organization/


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