‘É o esgoto da extrema direita que tenta nos calar’
Vereadora Alice Carvalho sofre nova ameaça de morte em Santa Maria; caso expõe a escalada da violência política de gênero contra mulheres de esquerda no Brasil
Foto: Tatiana Py Dutra/Esquerda em Movimento
A vereadora Alice Carvalho (PSOL), de Santa Maria (RS), denunciou no último sábado (18) ter recebido uma ameaça de morte por e-mail. A mensagem, de conteúdo racista e violento, descrevia agressões físicas que seriam cometidas caso a parlamentar não renunciasse ao cargo.
“Vamos acompanhar de perto as investigações para garantir que o autor ou autores das ameaças sejam identificados o mais breve possível, e responsabilizados com as medidas cabíveis”, afirmou Alice ao portal Sul21. A parlamentar já registrou ocorrência e comunicou às autoridades competentes.
A ameaça mais recente soma-se a uma série de ataques sofridos por Alice desde o início de sua trajetória política. Em 2018, durante sua primeira campanha eleitoral, ela foi vítima de agressão física. Em 2020, logo após as eleições, uma janela de sua casa foi quebrada. Dois anos depois, em novembro de 2022, sua residência foi atingida por um tiro.
“Em relação à autoria das ameaças, cabe às autoridades darem alguma resposta. Mas sabemos que, ao fim e ao cabo, são sujeitos que compartilham as mesmas ideias de ataque às mulheres, negros, LGBTs e à esquerda. É o esgoto da extrema direita que insiste em tentar nos calar”, declarou a vereadora.
No mandato atual, Alice Carvalho tem apresentado projetos voltados à justiça social e aos direitos humanos, como o fim da escala 6×1, a criação de cotas para pessoas trans e políticas de enfrentamento ao racismo. Em nota, sua equipe reafirmou que o trabalho continuará “com coragem e compromisso na defesa dos direitos humanos, da igualdade racial e de uma sociedade verdadeiramente democrática”.
Violência política de Gênero
O caso se insere num contexto preocupante. Segundo dados do Observatório da Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), a violência política no Brasil cresceu 32% em 2024, com mulheres negras e parlamentares de esquerda entre as principais vítimas. Levantamento da ONG Terra de Direitos e da Justiça Global aponta que 71% das vereadoras e deputadas de esquerda relataram ameaças ou ataques desde 2018, sobretudo após manifestações públicas em defesa de direitos humanos, igualdade racial ou pautas feministas.
Casos como o de Alice Carvalho revelam a persistência de uma cultura política machista, racista e autoritária, que tenta silenciar vozes dissidentes e progressistas. A escalada de ataques à democracia, marcada pelo ódio e pela misoginia, reforça a urgência de garantir proteção efetiva às parlamentares que enfrentam a violência política de gênero – uma violência que, no Brasil, tem rosto e lado.