Solidariedade a Daniel Jadue
DanielJadue

Solidariedade a Daniel Jadue

Solidariedade internacional contra o uso político do Judiciário e a criminalização da esquerda

Vanessa Gil 11 nov 2025, 07:12

Foto: Reprodução

A trajetória de Daniel Jadue, arquiteto, sociólogo e militante do Partido Comunista chileno, reflete uma vida dedicada à militância. Neto de palestinos, iniciou sua atuação política ainda nos anos 1980 em movimentos pela soberania da Palestina, enfrentando desde cedo embates com setores sionistas no Chile. Sua filiação ao PCCh, em 1993, consolidou um percurso que o levaria a se tornar uma das figuras mais visíveis  e visadas  da esquerda chilena.

Durante os protestos sociais que eclodiram no Chile em 2019, Daniel Jadue posicionou-se como uma das vozes mais proeminentes da esquerda, articulando as demandas populares por transformações estruturais e atuando como um crítico ferrenho do governo de Sebastián Piñera. Como prefeito de Recoleta e figura central do Partido Comunista, ele não apenas participou ativamente das mobilizações, denunciando a repressão policial e as violações de direitos humanos, mas também trabalhou para canalizar o descontentamento popular em propostas concretas, promovendo assembleias cidadãs e defendendo a necessidade de uma nova Constituição. Sua atuação durante esse período reforçou seu papel como liderança alternativa ao modelo neoliberal e projetou nacionalmente seu perfil como um dos principais intérpretes políticos do mal-estar social que sacudiu o país.

Eleito prefeito de Recoleta pela primeira vez em 2012, Jadue foi reeleito com amplo apoio popular em 2016 e novamente em 2021, transformando o município em um modelo de gestão pública inovadora e referência nacional. A província segue sendo administrada pelo Partido Comunista após a vitória, em outubro de 2024, de Faraes Jadeu. Apesar de possuir o mesmo sobrenome, não tem relação parental com Daniel, mas demonstra, com sua vitória, a aprovação popular com a administração do PC na localidade. 

Atualmente, Daniel Jadeu  enfrenta um processo judicial que é mais uma expressão do lawfare, o uso da Justiça como instrumento de perseguição política. Seu caso expõe a fragilidade de um sistema judicial que, cada vez mais, atua seletivamente contra lideranças de esquerda.

A administração de Daniel Jadue tornou-se emblemática por sua política de Farmácias Populares, um programa que garantia acesso a medicamentos a baixo custo com valores de cerca de 70% mais baixos e óticas populares.  A popularidade alcançada com  essas e outras políticas públicas fez dele uma ameaça real aos setores conservadores e empresariais que o veem como um obstáculo ao neoliberalismo puro. Seu nome chegou a ser cotado para disputar a presidência, e é justamente nesse contexto que o processo judicial ganha contornos de perseguição política.

Em meio à crise sanitária gerada pela pandemia, a prefeitura de Recoleta entrou em um embate público com uma empresa fornecedora de insumos médicos, como luvas e máscaras. A disputa girou em torno de valores considerados abusivos e das condições de pagamento, em um momento de alta demanda e escassez global desse tipo de itens. 

O caso evoluiu para questionamentos sobre a legalidade do contrato. Embora as auditorias não tenham apresentado nenhuma prova de crimes por parte da administração municipal, setores políticos conservadores e da mídia tradicional passaram a acusar Jadue de corrupção, reforçando o discurso do fantasma do comunismo e do político de esquerda corrupto, baseando as acusações em “convicções”. 

A estratégia seguiu um roteiro conhecido por nós brasileiros: a criminalização de políticas públicas de caráter popular na figura de seus gestores. O episódio reacendeu o debate sobre o assédio judicial a gestores de esquerda na América Latina e o papel da mídia nesses processos. Daniel Jadue passa por um processo de Lawfare nos mesmos moldes utilizados com Lula e Cristina Kirchner. O que se vê agora no Chile é parte do mesmo roteiro: investigações seletivas, prisões midiáticas, vazamentos e a tentativa de eliminar pela via judicial o que a direita não consegue derrotar nas urnas.

Jadue enfrentou 94 dias de cárcere em 2024. Neste momento, encontra-se em prisão domiciliar enquanto tenta reverter na justiça a negação de sua candidatura a deputado nas eleições que aconteceram em 16 de novembro. Mesmo sem base legal para o impedimento, até o momento todos os pedidos foram negados pela justiça. 

Enquanto casos de corrupção ligados à direita chilena seguem sem punição ou cobertura intensa, Jadue é tratado como culpado em programas de televisão e portais empresariais. O objetivo é claro: desmoralizar um projeto político que busca recuperar a soberania e reconstruir o país a partir das maiorias populares.

Reconhecendo o caráter de Lawfare, de utilização do sistema judiciário para frear, impedir e minar políticas públicas que atendam aos interesses da classe trabalhadora e enfrentam a lógica do capital, nos somamos em apoio a Daniel Jadue e ao seu direito constitucional de representar o povo chileno. 

Abaixo-assinado: um chamado ético ao mundo acadêmico e cultural

Santiago, 3 de outubro de 2025

Hoje, no Chile, assistimos a um fato de extrema gravidade: a perseguição judicial, política e midiática contra Daniel Jadue. Não se trata apenas de uma pessoa, de um dirigente político, de um governo local — o que está em jogo é a qualidade da nossa democracia. O lawfare — a instrumentalização da justiça para excluir adversários — corrói o direito à participação, o respeito às garantias do devido processo legal e ameaça o pluralismo que sustenta nossa sociedade.

Diante disso, o silêncio é ensurdecedor. A omissão é uma forma de cumplicidade. Quando atacam um e calamos, abrimos a porta para que amanhã ataquem a outros. O que se busca não é impedir um nome: é encerrar a possibilidade de pensar, propor e implementar mudanças profundas e transformadoras em benefício do nosso povo.

Este não é um assunto de simpatias pessoais ou políticas. Trata-se de um atentado à própria possibilidade de dissentir, de imaginar alternativas, de exercer a cidadania. Calar agora equivale a aceitar que a democracia se reduza a um ritual vazio. Ainda mais quando o próprio Servel (Serviço Eleitoral) aceitou sua candidatura a deputado, o Tribunal Eleitoral Metropolitano a ratificou, e foi finalmente o Tricel (Tribunal Calificador de Eleições) que a rejeitou, em uma decisão dividida (3 a 2), a pedido de um partido de direita, atuante em todo o processo de lawfare e diretamente interessado em eliminar um forte adversário eleitoral.

Interpelamos, com respeito mas com firmeza, aqueles que cultivam a palavra, o pensamento e a arte: sua voz é necessária. Hoje vão contra Daniel Jadue; amanhã virão por outros e outras. E quando já não restar ninguém que possa falar, será tarde demais — essa história nós conhecemos muito bem.

Erguemos nossa voz para denunciar essa injustiça e vileza. Nos levantamos contra esse atropelo e tentativa de cancelamento de um modelo de gestão local que colocou a melhoria das condições de bem-estar das pessoas no centro do desenvolvimento. Denunciamos também que Daniel Jadue já está há quinze meses privado de liberdade, em um processo marcado por repetidas violações ao devido processo legal e pela suspeitosa coincidência das decisões judiciais com o calendário eleitoral.

As propostas para a sociedade que queremos construir são um desafio coletivo, exigem maior humanidade e devem se apoiar na verdade e na justiça para que possamos olhar para o futuro com dignidade, respeito e esperança para nosso país.

Assinamos em apoio e convidamos que todas e todas se somem nessa campanha através deste link. 

* Fernanda Melchionna (diputada federal / PSOL Rio Grande do Sul)

* Sâmia Bomfim (diputada federal / PSOL São Paulo)

* Vivi Reis (ex-deputada federal/PSOL Pará)

* Luciana Genro (diputada estatal / Presidenta de la Fundación Lauro Campos y Marielle Franco – PSOL Rio Grande do Sul)

* Mariana Riscali (Ejecutiva Nacional PSOL – Fundación Lauro Campos)

* Josemar Carvalho (diputado estatal / PSOL Río de Janeiro)

* Mônica Seixas (diputada estatal / PSOL São Paulo)

* Camila Valadão (diputada estatal / PSOL ES)

* Fábio Félix (diputado de distrito / PSOL DF)

* Roberto Robaina (DN PSOL / concejal / PSOL Porto Alegre)

* Luana Alves (concejal / PSOL São Paulo)

* Mariana Conti (concejal/PSOL Campinas)

* Israel Dutra (Ejecutivo Nacional del PSOL)

* Jurandir Silva (concejal / Presidente estatal de RS/PSOL Pelotas)

* Danilo Serafim (Director de TLS Sindical)

* Pedro Fuentes (Dirección Nacional del MES – Comisión Internacional)

* Giulia Tadini (Presidenta del PSOL DF)

* Bruno Magalhães (Dirección Nacional del MES – Comisión Internacional)

* João Pedro de Paula (Ejecutivo Nacional UNE)

* Claudemir Novais (Director Nacional del MES y dirigente campesino y popular)

* Reynaldo Costa (Presidente del PSOL Maranhão y líder campesino)

*Antonio Cunha Neto (Comisión Internacional)

*Vladimir Saffatle (professor titular de Filosofía da USP)


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