PSOL celebra 20 anos em Porto Alegre com defesa da luta popular e unidade contra a extrema direita
Sessão solene comandada por Pedro Ruas reúne lideranças progressistas, resgata a história do partido e projeta seu papel na resistência democrática e nas lutas sociai
Foto: Tatiana Py Dutra/Esquerda em Movimento
Na noite desta terça-feira (2), o Plenário Ana Terra da Câmara Municipal de Porto Alegre recebeu uma sessão solene marcada por memória e compromisso político. Conduzido pelo vereador Pedro Ruas, o ato celebrou os 20 anos do PSOL, reunindo lideranças históricas da esquerda, parlamentares, militantes de base e representantes de movimentos populares – reafirmando o papel do partido na luta contra a extrema direita, na defesa das liberdades democráticas e no enfrentamento às desigualdades estruturais do país.
A sessão destacou a trajetória do PSOL desde sua fundação, quando setores da esquerda romperam com o PT diante da guinada moderada do partido após sua chegada ao governo federal. Para Pedro Ruas e outros presentes, recordar essa origem é fundamental não apenas para honrar o passado, mas para reafirmar o sentido estratégico de uma alternativa socialista enraizada nas lutas populares.
Orgulho da luta internacional e das bases populares
Gabi Tolotti, presidenta do PSOL no estado, emocionou o plenário ao relembrar sua participação na Global Sumud Flotilla, ação internacional de solidariedade ao povo palestino.
“Eu estou muito orgulhosa da missão… a causa palestina é a causa da nossa vida, da nossa geração”, afirmou.
Ela projetou novas ações, lembrando que outra flotilha parte em abril e convidando militantes a conhecer e apoiar a iniciativa.
Em sua fala, Gabi lembrou que os 20 anos do partido não podem ser separados da construção cotidiana feita pelos trabalhadores, imigrantes, moradores de periferia e militantes anônimos que sustentam a organização:
“O PSOL não é um ente virtual. O PSOL somos nós, todos nós… O que move esse partido são as pessoas que constroem ele no dia a dia”., citou, elencando desde quem cozinha em ações comunitárias até quem “vai pra Gaza, quem se candidata sem condições mínimas de campanha, quem organiza a luta nos bairros”.
Gênese, riscos e conquistas de um projeto político
O vereador Roberto Robaina destacou a importância da iniciativa de Ruas e recuperou a história do partido. Para ele, a fundação do PSOL foi uma resposta necessária ao afastamento do PT de parte de suas bandeiras históricas e ao aprofundamento de acordos com setores dominantes.
“O PSOL, no primeiro momento, era simplesmente uma ideia… ligada à necessidade de ocupar um espaço político”, afirmou.
Robaina exaltou o crescimento da legenda – hoje com cerca de 300 mil filiados e uma bancada federal de peso -, mas alertou para os riscos que todo partido de esquerda enfrenta ao atuar na institucionalidade.
“Esse sucesso eleitoral é também o risco do PSOL, porque todo partido de esquerda que atua na institucionalidade sofre as pressões do Estado”, destacou.
Unidade contra a extrema direita e novos desafios
A deputada estadual Luciana Genro sublinhou que celebrar os 20 anos do PSOL significa olhar para o passado, mas sobretudo para o futuro. Ela recordou que o partido nasceu fazendo oposição ao governo Lula, mas que a conjuntura atual exige amplo compromisso democrático para barrar o avanço da extrema direita.
“Hoje nós estamos, mais uma vez, nos preparando para apoiar o Lula para ser reeleito, enfrentando a extrema direita e vencendo nas próximas eleições”, disse.
Luciana destacou ainda a força da nova geração militante – negra, jovem, feminista e popular – que transformou a Câmara e o partido. E projetou o cenário eleitoral deste ano, saudando a futura filiação de Manuela D’Ávila ao PSOL:
“Nossa novíssima companheira… será nossa representante na disputa pelo Senado”.
A deputada também lembrou que, embora a prisão de Bolsonaro e de generais golpistas represente uma vitória democrática histórica, a extrema direita mantém força social e capacidade de disputa.
“Derrotar a extrema direita é uma tarefa que perpassa o processo eleitoral e a luta cotidiana nos movimentos sociais”, reforçou.
O legado de Marielle e a força da representatividade
A vereadora Graci Oliveira trouxe uma fala emocionada ao recordar sua entrada no PSOL, após o assassinato de Marielle Franco.
“Eu chego no PSOL através da morte da Marielle… e comecei a entender que eu não estava fazendo o suficiente”, disse. Para ela, o partido se distingue por ser espaço real de representatividade: “Eu vi mulheres no poder, vi homens negros, jovens, pessoas LGBTs…”.
Graci celebrou a eleição da primeira mulher trans de Porto Alegre, marca histórica da legenda, e defendeu a importância de um partido que acolhe quem luta – muitas vezes sem qualquer proteção institucional.
Olívio Dutra: crítica ao capitalismo e defesa da ciência, educação e trabalho digno
O ex-governador Olívio Dutra encerrou o ato com uma fala densa e marcada por reflexão sobre o papel da esquerda frente às desigualdades globais. Ele criticou o neoliberalismo, a mercantilização da vida e a apropriação privada da tecnologia:
“Nós não podemos naturalizar o mundo da violência, da exploração, da transformação de pessoas em mercadoria”.
Olívio defendeu o conhecimento científico como patrimônio da humanidade, e lembrou que o inimigo principal não está dentro do campo popular:
“Nós não podemos confundir entre nós quem é o inimigo principal. O inimigo é a classe dominante, o capitalismo neoliberal que instiga o individualismo e o egoísmo”.
A sessão solene marcou não apenas um aniversário, mas a reafirmação pública de um projeto político que se guia pela justiça social, pelo internacionalismo, pela defesa intransigente dos direitos humanos e pela luta incansável contra a extrema direita. Um PSOL que olha para trás com orgulho, para dentro com humildade e para frente com coragem.