Restrospectiva 2025: o imperialismo sem disfarces
Donald Trump

Restrospectiva 2025: o imperialismo sem disfarces

Donald Trump combina guerra comercial, retórica expansionista e chantagem antidrogas para pressionar aliados e reafirmar hegemonia sobre a América Latina

Tatiana Py Dutra 25 dez 2025, 07:00

Foto: GPO/ Fotos Públicas

A volta de Donald Trump à Casa Branca, em 2025, marcou mais do que uma simples alternância de poder nos Estados Unidos. Onze meses após reassumir o cargo, o presidente republicano conduz um governo mais radicalizado, personalista e agressivo, cuja política externa tem sido marcada por tarifas unilaterais, ameaças a países vizinhos e o uso instrumental do combate ao narcotráfico como justificativa para pressões diplomáticas e econômicas. Para analistas, trata-se de uma inflexão perigosa, com impactos diretos sobre a economia global e a soberania de países historicamente tratados por Washington como área de influência.

No centro dessa estratégia está a guerra tarifária. Em poucos meses, Trump elevou a tarifa média de importação dos EUA de menos de 3% para quase 17%, o maior patamar desde a Grande Depressão, segundo o Yale Budget Lab. A justificativa oficial é proteger a indústria nacional e reduzir déficits comerciais. Na prática, porém, a política tem sido errática, marcada por anúncios bruscos, recuos sucessivos e negociações assimétricas. Não por acaso, operadores do mercado financeiro passaram a se referir ao presidente como TACO, sigla para “Trump Always Chickens Out” – uma crítica à instabilidade de suas decisões.

As tarifas atingiram inclusive aliados históricos, como União Europeia, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido, forçando líderes estrangeiros a correrem a Washington em busca de acordos “menos ruins”. O então primeiro-ministro francês, François Bayrou, classificou o acordo firmado com os EUA como um “ato de submissão” e um “dia sombrio” para o bloco europeu. Ainda assim, Trump manteve a retórica agressiva, usando o peso da maior economia do planeta para impor condições e exigir investimentos bilionários em solo americano.

Na América Latina, a ofensiva ganhou contornos ainda mais graves. O governo Trump usou o discurso do combate ao narcotráfico e ao fentanil para ameaçar México, Colômbia e Venezuela, associando crises sociais e de saúde pública nos EUA a supostas falhas desses países. No caso mexicano, a Casa Branca voltou a flertar com a ideia de ações unilaterais na fronteira e no território do país vizinho, enquanto a Venezuela segue sendo tratada como inimiga estratégica, sob sanções e ameaças de confronto permanente.

O Brasil também entrou no radar. Em 2025, Trump impôs tarifas adicionais de até 40% sobre produtos brasileiros, incluindo alimentos essenciais para o mercado americano, como café e carne bovina. As medidas vieram acompanhadas de ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e da defesa explícita do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado. Ao anunciar o tarifaço, Trump classificou o processo contra Bolsonaro como uma “caça às bruxas”, numa interferência aberta em assuntos internos brasileiros.

A escalada só começou a arrefecer quando a inflação de alimentos passou a pressionar o eleitorado americano. Diante da alta de preços e da escassez de produtos como café – do qual o Brasil responde por cerca de um terço das importações dos EUA – Trump recuou parcialmente. Em novembro, assinou um decreto suspendendo tarifas sobre dezenas de produtos agrícolas brasileiros, decisão comemorada por associações empresariais, mas interpretada por analistas como um movimento pragmático, não diplomático. “Ninguém respeita quem não se respeita”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao comentar a decisão.

Mesmo assim, Trump deixou claro que o alívio é condicional. No decreto, afirmou que o secretário de Estado, Marco Rubio, seguirá monitorando as circunstâncias e poderá recomendar novas medidas a qualquer momento. Ou seja, as tarifas seguem como instrumento de chantagem política.

Para Christopher Sabatini, pesquisador da Chatham House, o mais alarmante foi o silêncio da comunidade internacional diante das sanções e ameaças americanas. 

“A gravidade do que está acontecendo não é apenas sem precedentes, mas muito séria”, disse o analista, ao afirmar que Trump violou a soberania e a integridade democrática das instituições brasileiras sem qualquer reação efetiva da União Europeia ou de organismos multilaterais. Segundo ele, a postura reforça a lógica da Doutrina Monroe, que trata a América Latina como “quintal” dos Estados Unidos.

A combinação de protecionismo econômico, discurso nacionalista e intimidação política define o Trump de 2025. Diferente do conservadorismo republicano tradicional, seu governo aposta no confronto e na imprevisibilidade como método. O lema Make America Great Again se traduz, na prática, em uma política externa que enfraquece a cooperação internacional, desorganiza cadeias produtivas globais e ameaça democracias fora – e dentro – dos EUA.

Ignorar essa guinada é subestimar o alcance do projeto trumpista. Mais do que tarifas ou bravatas diplomáticas, o que está em curso é uma tentativa de reafirmar a hegemonia americana pela força econômica e política, mesmo que isso signifique atropelar aliados, desestabilizar regiões inteiras e tratar a soberania de outros países como moeda de troca.


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