29N: prosseguir a luta, ocupar e resistir

As ocupações e lutas da juventude que percorrem o país e o dia nacional de lutas em 29 de novembro.

Fabiana Amorim e Nathalie Drumond 26 out 2016, 20:41

O último dia 29 de novembro marcou a luta da juventude e suas ocupações. O gigantesco ato em Brasília foi um recado para os poderosos desse país, de que nada mais sobre as nossas vidas será decidido sem que sejamos ouvidos. Estamos atentos e preparados para resistir. O Juntos apostou todas suas fichas no 29N, mobilizando de norte a sul do Brasil, para que Brasília se transformasse na capital das ocupações e a juventude transbordasse toda sua resistência e solidariedade.

Contra as medidas de Temer a juventude está em luta!

A caravana da juventude em Brasília no dia 29, não foi um ato qualquer, mas sim o encontro da geração que tem transformado o movimento estudantil brasileiro no maior e mais pulsante do mundo. Desde o anúncio das primeiras medidas de Michel Temer, que atacam frontalmente a educação, os secundaristas voltaram a ocupar suas escolas e também Institutos Federais, se espalhando então para as universidades federais e até mesmo privadas. A juventude se tornou inimiga declarada do governo Temer, que com a PEC 55 (antiga 241) e seu teto nos gastos públicos durante 20 anos, pode chegar a cortar mais de 40% do orçamento da educação, afetando nossas escolas, universidades e também a educação básica. Já com a MP do Ensino Médio, que não propõe nenhum calendário de debate nas escolas, vai flexibilizar o currículo e ampliar a carga horária, o que é completamente contraditório para um governo que vai congelar gastos na educação. Por estas e por outras coisas, a um ano da primeira ocupação de escola em São Paulo, os estudantes do país inteiro se levantam e decidiram tomar para si o seu futuro. Ou, como temos dito, nada sobre nós será decidido, sem nós.

Mesmo assim, Michel Temer e Mendonça Filho, Ministro da Educação, não sinalizaram nenhum espaço de diálogo com os estudantes. Muito pelo contrário, todas as oportunidades que tiveram foram para subestimar o entendimento dos estudantes sobre as medidas do governo e nos reprimir. Demonstrando que a intransigência também é parte do seu pacote de ajuste contra povo. Por isso, o movimento estudantil de conjunto e diversos movimentos sociais e de trabalhadores, como ANDES, SINASEFE e FASUBRA, decidiram ocupar Brasília dia 29, no primeiro turno da votação da PEC 55 no Senado, para colocar contra parede Temer e seus aliados.

Brasília: coração das ocupações

Enquanto os ônibus de todos os cantos do Brasil chegavam em Brasília, amanhecemos com a trágica notícia da morte de 71 pessoas na queda do avião da Chapecoense. O país se debruçou em lágrimas e solidariedade. Ainda assim, Congresso e Senado decidem seguir com suas votações a toque de caixa, demonstrando completa insensibilidade dos poderes com o que ocorre do lado de fora de seus castelos. Mais evidente ainda isso ficou, assim que o protesto em Brasília se iniciou. Vivemos horas atordoantes de intensa repressão. Bombas de gás lacrimogênio, bala de borracha, gás de pimenta, cavalaria e helicópteros, essa foi a maneira que Temer recebeu as mais de 20 mil pessoas que ocupavam a esplanada.

Há de se fazer um destaque especial para a coluna do Juntos, que além de ser a mais organizada e uma das maiores, com cerca de mil estudantes secundaristas e universitários de todo país, foi certamente uma das mais corajosas. Fomos a linha de frente do ato e quem manteve firme suas bandeiras em meio ao gás lacrimogênio.

Contra o ajuste e a corrupção!

Como se não bastasse a intransigência do Senado e a aprovação da PEC 55 por 64 votos contra 14, no mesmo dia o Congresso votava as 10 medidas contra a corrupção. No entanto, o que era para ser um pacote de maior intransigência com quem rouba o dinheiro do povo, se transformou pelas mãos dos congressistas numa manobra para salvá-los da condenação. O Juntos levantou alto sua faixa no dia 29, dando o recado de que não aceitamos nenhum ataque aos direitos do povo, mas tampouco manobras dos corruptos para salvar suas cabeças.

Sabemos que mesmo possuindo a maioria nos parlamentos – a custa de jantares e troca de favores para aprovar suas medidas –, Temer não consegue estabilizar seu governo tanto pela resistência da juventude, quanto por ter um governo atolado em corrupção. Um dia após o dia 29, Renan Calheiros vira réu no STF. No dia seguinte, lá estava o Juntos em escracho na sua mansão, exigindo o Fora Renan. Nesta semana, até mesmo o presidente da OAB pediu o afastamento imediato do presidente do Senado. Além do pedido do STF, que acusa Renan de ter desviado dinheiro de seu gabinete para uma locadora de veículos que não prestou nenhum serviço, o senador pode estar naquela que será mais uma bomba atômica no regime. O acordo de delação premiada dos donos da Odebrecht, contém mais de 200 nomes de políticos que se beneficiaram e receberam dinheiro da empreiteira. Não a toa tentam a todo custo frear a Operação Lava Jato, o regime não quer nenhum político a mais na prisão. O próprio Avaaz nesta semana iniciou uma petição alertando para a tentativa de frear a Lava Jato, que já causou muito estrago para os de cima.

A juventude vai seguir resistindo

Cada estudante que voltou de Brasília teve ao menos uma certeza: somos muitos. As ocupações de escolas e universidades produziu uma geração de milhares de jovens radicalizados dispostos a doar suas vidas para garantir seus direitos. Justamente por isto, nós não retrocederemos. Independente do que os parlamentos, tão deslocados da vida do povo, votem, esta vitória ninguém tira de nós. Voltamos para os nossos estados ainda mais fortalecidos para seguir resistindo: dia 13 ocuparemos as ruas do país mais uma vez.

Sabemos que a PEC 55 é só a primeira medida do pacote de retrocessos que o governo Temer prepara para ajustar as contas da crise econômica em cima do povo mais pobre e trabalhador. O ano que vem seguirá sendo de muito enfrentamento e luta, e é justamente por isso, que nós do Juntos organizaremos durante a páscoa (15 e 16 de abril) um grande acampamento internacional na cidade do Rio de Janeiro, para seguir organizando aqueles que não abrem mão de seus sonhos e seu futuro.


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