Falece Daniel Viglietti, uma das vozes da resistência popular uruguaia
O músico nasceu em 1939 na mesma cidade onde faleceu e é considerado um dos maiores expoentes do canto popular uruguaio.
O cantor e compositor uruguaio Daniel Viglietti faleceu durante a noite da segunda-feira em Montevidéu, aos 78 anos, por complicações numa intervenção cirúrgica.
O músico nasceu em 1939 na mesma cidade onde faleceu e é considerado um dos maiores expoentes do canto popular uruguaio e uma referência para vários compositores da América Latina. Mas, sobretudo, sua música se destaca por seu forte conteúdo social e de esquerda, com letras associadas às lutas populares no Uruguai e na América Latina.
Entre suas composições mais conhecidas figuram A desalambrar, Canción para mi América, Milonga de andar lejos e Gurisito, e algumas delas fizeram parte do repertório de artistas internacionais como a chilena Isabel Parra, o espanhol Joan Manuel Serrat, a argentina Mercedes Sosa, a cantora mexicana nascida em Costa Rica Chavela Vargas ou a venezuelana Soledad Bravo.
A partir de seu segundo disco Hombres de nuestra tierra, começou a trabalhar na musicalização de poemas de escritores como Líber Falco, César Vallejo, Rafael Alberti e Federico García Lorca, entre outros.
Uma vida e obra marcada pela repressão e pelo exílio
Viglietti, conhecido por seu ativismo em lutas populares, foi detido em 1972 pelas autoridades uruguaias no marco de repressão dos movimentos de esquerda que precedeu ao golpe de estado civil-militar de 1973. A campanha por sua liberação desde o exterior foi encabeçada por nomes como Jean Paul Sartre, François Mitterrand, Julio Cortázar e Oscar Niemeyer.
Entre 1973 e 1984, durante a ditadura, exilou-se primeiro na Argentina e depois na França. Neste último país, permaneceu durante 11 anos. Durante este tempo, percorreu o mundo em turnês musicais solidárias, levando seu canto e denunciando a ditadura no Uruguai e vários países da América Latina. Ressalta seu trabalho, como ele mesmo assinalava “não por casualidade”,Trabajo de hormiga. Nesse período gravou também em Cuba, junto a artistas como Silvio Rodríguez, Pablo Milanés e Chico Buarque.
Seu exílio terminou com sua volta a Montevidéu em 1 de setembro de 1984. Ali o receberam milhares de pessoas e realizou um recital que sempre recordou como “o mais emocionante de seus 40 anos de carreira”.
A partir de sua volta, trabalhou na edição de numerosos trabalhos que nunca perderam o conteúdo de denúncia e crítica social. Entre eles, destaca A dos voces com Mario Benedetti, reflexo de numerosos recitais realizados junto com o grande poeta uruguaio durante o exílio compartilhado por ambos.
Fonte: http://www.publico.es/culturas/daniel-viglietti-fallece-cantautor-daniel-viglietti-voces-resistencia-popular-uruguaya.html