Por que precisamos do Medicare for All

Em artigo publicado no jornal New York Times, Sanders discute as insuficiências e os problemas do Medicare, sistema de seguros de saúde dos Estados Unidos.

Bernie Sanders 16 out 2017, 21:37

Este é um momento crucial na história americana. Nós, como nação, nos juntamos ao resto do mundo industrializado e garantimos assistência médica abrangente para cada pessoa como um direito humano? Ou nós mantemos um sistema que é enormemente caro, dispendioso e burocrático, e é projetado para maximizar lucros para grandes companhias de seguro, a indústria farmacêutica, Wall Street e fornecedores de equipamentos médicos?

Nós permanecemos o único país central na terra que permite que executivos-chefes e acionistas da indústria de assistência médica fiquem incrivelmente ricos, enquanto dezenas de milhões de pessoas sofrem porque não podem ter a assistência médica que precisam. Isto não é o que os Estados unidos deveriam ser.

Em todo esse país, eu tenho ouvido falar de americanos que têm compartilhado histórias dolorosas sobre nosso sistema disfuncional. Médicos têm me contado sobre pacientes que morreram porque tiveram suas visitas médicas adiadas até que foi tarde demais. Eram pessoas que não tinham seguro ou não podiam bancar os custos impostos pelos seus planos de seguro.

Tenho ouvido falar de pessoas mais velhas que têm sido forçadas a dividir suas pílulas ao meio porque não podem pagar o preço escandalosamente alto dos remédios prescritos. Oncologistas me contaram sobre pacientes com câncer que não conseguiram adquirir tratamentos salva-vidas porque não podiam bancar. Isto não deveria estar acontecendo no país mais rico do mundo.

Americanos não deveriam hesitar sobre ir ao médico porque não têm dinheiro suficiente. Não deveriam se preocupar que uma estadia hospitalar irá fali-los ou deixá-los profundamente endividados. Eles deveriam poder ir ao médico que eles querem, não apenas um em uma rede particular. Eles não deveriam ter que gastar enormes quantidades de tempo preenchendo formulários complicados e argumentando com as companhias de seguro sobre se eles possuem ou não a cobertura que esperam.

Mesmo que 28 milhões de americanos permaneçam sem seguro e ainda mais estão com coberturas insuficientes, nós gastamos mais per capita em assistência médica que qualquer outra nação industrializada. Em 2015, os Estados Unidos gastaram quase US$ 10.000 por pessoa por assistência médica; os canadenses, alemães, franceses e britânicos gastaram menos que a metade disso, garantindo assistência médica para todos. Além do mais, esses países têm níveis mais altos de expectativa de vida e níveis mais baixos que mortalidade infantil do que nós.

A razão pela qual nosso sistema de assistência médica é tão escandalosamente caro é que ele não é projetado para prover assistência de qualidade pra todos de forma econômica, mas para prover grandes lucros para o complexo médico-industrial. Camadas de burocracia associadas com a administração de centenas de planos de seguro individuais e complicados é incrivelmente dispendioso, nos custando centenas de bilhões de dólares por ano. Como o único país central a não negociar preços de remédios com a indústria farmacêutica, nós gastamos dezenas de bilhões a mais do que deveríamos.

A solução para esta crise não é difícil de entender. Meio século atrás, os Estados Unidos estabeleceram o Medicare. Garantindo benefícios de saúde abrangentes para americanos com mais de 65 anos, tem provado ser enormemente bem sucedido, econômico e popular. Agora é a hora para expandir e melhorar o Medicare para cobrir todos os americanos.

Esta não é uma ideia radical. Eu moro 50 milhas ao sul da fronteira canadense. Por décadas, cada homem, mulher e criança no Canadá tem garantido assistência médica através de um único programa de assistência médica com financiamento público. Este sistema tem não apenas melhorado as vidas do povo canadense, mas tem também poupado para famílias e negócios uma imensa quantidade de dinheiro.

Na quarta-feira eu vou apresentar o Medicare for All Act no Senado com 15 co-patrocinadores e apoio de dúzias de organizações populares. Sob esta legislação, cada família na América receberia cobertura abrangente, e famílias de classe média poupariam milhares de dólares por ano eliminando seus custos de seguro privado assim que nós mudarmos para um programa com financiamento público.

A transição para o programa Medicare for All aconteceria ao longe de quatro anos. No primeiro ano, benefícios para as pessoas mais velhas seriam expandidos para incluir assistência dentária, cobertura da visão e aparelhos auditivos, e a idade de elegibilidade para o Mediacare seria reduzida para 55. Todas as crianças com menos de 18 anos seriam também cobertas. No segundo ano, a idade de elegibilidade seria reduzida para 45 e no terceiro ano para 35. Até o quarto ano, cada homem, mulher e criança no país seriam cobertos pelo Medicare for All.

Desnecessário dizer que haverá grande oposição a essa legislação por parte dos interesses específicos poderosos que lucram com o sistema dispendioso corrente. As companhias de seguro, as companhias de remédio e Wall Street irão indubitavelmente empregar muito dinheiro para fazer lobby, contribuições de campanha e anúncios de televisão para derrotar essa proposta. Mas eles estão no lado errado da história.

Garantia de assistência médica como um direito é importante para o povo americano não apenas sob uma perspectiva moral e financeira; isso também acontece de ser o que a maioria do povo americano quer. De acordo com uma pesquisa de abril feita por The Economist/YouGov, 60% do povo americano querem “expandir o Medicare para prover seguro de saúde para cada americano”, incluindo 75% dos Democratas, 58% dos independentes e 46% dos Republicanos.

Agora é a hora para o Congresso estar com o povo americano e assumir os interesses específicos que dominam a assistência médica nos Estados Unidos. Agora é a hora de estender o Medicare para todos.

Artigo publicado no New York Times. Tradução de Marcelo Martino.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi