27N: Duas saídas alternativas depois do 21D

Em mais uma “crônica catalã”, Alfons Bech os cenários possíveis na região tendo em vista as eleições marcadas para dezembro.

Alfons Bech 30 nov 2017, 18:41

Perfilam-se duas alternativas possíveis depois das eleições do 21D. Uma delas é a autoritária, a do reforço do centralismo do Estado, da anulação de muitas conquistas democráticas, econômicas, laborais. É a que está avançando a partir da aplicação do artigo 155.

A outra seria retomar a via da ruptura deste regime, que passaria por dar continuidade à proclamação (congelada) da República catalã. Nesse caso a força deve ser ainda maior à demonstrada até o 3-O, dia da greve geral.

No primeiro caso, o panorama que desenharia uma vitória do bloco do 155 é muito obscuro. Apresentemos alguns exemplos.

O PSC levou um recurso à Junta Eleitoral contra os símbolos amarelos, como laços, ou então cartéis nos quais se faça menção aos presos políticos. Alegam que se trata de uma “propaganda eleitoral” já que os partidos soberanistas têm em seu programa a liberdade dos presos políticos. E a Junta Eleitoral lhes deu a razão a esses bons garotos “socialistas” informantes. Como consequência disso já proibiram os laços e alguns cartazes foram retiradas, como a do Ajuntamento de Barcelona, da Barcelona en Comú da Prefeita Ada Colau.
Outro exemplo. O Ministério do Interior abriu um correio e um telefone para que a cidadania possa denunciar anonimamente “delitos de ódio”. A polícia investigará e rastreará a partir daí o que faça falta: professores de colégios, mensagens de Tweet, de Facebook, conversas, cartazes, desenhos, escritos que se exibam, etc. É preciso dizer que isso já está em marcha e muitas pessoas, professores, blogueiros, tuiteiros, foram intimados a depor.

Mais ainda. O candidato do PP às eleições na Catalunha, Albiol, defendeu tirar os atuais trabalhadores da Corporação catalã de meios de comunicação (TV3, Catalunya Radio) e por trabalhadores “normais”, em nome de que a “manipulação” que existe em tais meios. O qual tem indignado a todo o comitê de empresa e sindicatos.

Também o Ensino catalão em seu conjunto está sendo questionado pelo PP e Ciudadanos, e são múltiplas as ameaças que recebeu uma das melhores educações do Estado espanhol, que consegue resultados superiores à média, pelo simples fato de que a língua veicular é a língua própria da Catalunha, o catalão, como é normal. Mais indignação.

No Congresso, o desrespeito aos mais de mil feridos (exatamente 1066) por parte do ministros da Justiça, dos membros do Governo e dos deputados do PP e Ciudadanos, que se atrevem a insinuar que não gravaram particulares, TV3 e cadeias de televisão internacionais como BBC, são mentira. Isso já leva à raiva.

Também é um sinal o auge de agressões fascistas a simples cidadãos quando se produzem manifestações unionistas, os destroços, os ataques xenófobos, as ameaças para gerar medo, coisa que nunca ocorreu em nenhuma das manifestações independentistas. E aí, claro está, nunca se aceitou que tivesse nenhum “delito de ódio”. Tampouco nas localidades da Espanha onde se permite ataques a tudo o que seja Catalão, como já vimos nas marchas policiais e Guardas Civis onde se gritava “A por ellos!” [Para cima deles]. Volta o atrevimento fascista!

Portanto estamos ante um Estado de exceção encoberto, ante um Estado policial e demofóbico, parecido a outros tempos de delação fascista, onde será realizada uma campanha eleitoral que o Governo e o tripartido do 155 (PP-PSOE/PSC, Cs) qualificam de “volta à normalidade”. Mas em realidade é uma campanha onde se pretende dar macha ré na história, para ir a tempos de antes do 78, sob a agressividade de dois partidos que vão tirando a máscara democrática, o PP e o Cs, e com a conivência de alguém que diz ser de “esquerdas”, o PSOE/PSC, mas que já nem sequer tem o rubor de disfarçar seu enxerto com a direita nas listas e incorpora personagens democrata-cristãos dos mais reacionários e neoliberais.

Frente a este Muro reacionário do 155, há três candidaturas independentistas, a do Presidente Puigdemont, chamada “Junts per Catalunya”, a de ERC, a da CUP, bloco soberanista com presos na cárcere. E uma candidatura intermediária, nem independentista, nem do bloco do 155: Catalunya en Comú Podem.

É evidente que para vencer o bloco do 155 deveria haver uma aliança entre este segundo e terceiro bloco. E em determinado, ela existe, como na exigência da liberdade dos presos políticos. Mas não em outros. Por exemplo, não é um elemento comum se deve haver uma continuação da luta pela República, nas condições que deva se fazer para uma estratégia que amplie o campo social, ou seja, para fazer partícipes à classe operária e camadas mais pobres da população.

Mas os ataques aos meios de comunicação catalães, à língua, aos professores, à liberdade de expressão, à economia catalã ou à violência contra as mulheres que não cessa, exigem uma aliança entre independentistas e Catalunya en Comú Podem, aliança a qual se resiste esta última candidatura por medo de ser acusada de “pró-independentista”. Se esse medo vence, no fundo, não seria outra coisa que ceder à pressão do Estado e do regime de 78. Porém, ceder quando estamos em uma profunda involução ou dar um passo adiante até uma ruptura republicana é muito pouco de esquerdas. E seria uma irresponsabilidade.

27 de Novembro


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