Uma esquerda que não tema dizer seu nome para enfrentar Bolsonaro

O economista Plínio de Arruda Sampaio Júnior tem razão: o maior partido do Brasil é o partido “Estancar a Sangria” – que encontra adeptos entre a velha esquerda e a direita.

Samir Oliveira 1 nov 2017, 17:24

A conjuntura política brasileira coloca desafios gigantescos para a esquerda. O golpe parlamentar que instalou Michel Temer na presidência opera para dinamitar os direitos trabalhistas e as precárias estruturas de proteção social no Brasil. O quadro até o momento para as eleições de 2018 apresenta um cenário desolador: um retorno ao passado versus a direita e seus projetos de ataques aos interesses populares.

O governo possui apenas 3% de apoio popular e ainda assim não há uma movimentação de massas por sua queda. As ruas vazias pavimentam o caminho seguro para a compra indiscriminada de votos no Congresso em troca de blindagem ao presidente e a Aécio Neves contra as investigações. O economista Plínio de Arruda Sampaio Júnior tem razão: o maior partido do Brasil é o partido “Estancar a Sangria” – que encontra adeptos entre a velha esquerda e a direita.

O desencanto e a paralisia são ingredientes importantes que explicam a permanência de Temer no poder. Mas não são os únicos. O ano de 2017 começou com um forte salto nas lutas populares. O dia 8 de março demonstrou isso, com as mulheres saindo às ruas em todo o país. Era frequente a organização de datas nacionais de luta contra as reformas neoliberais. Uma histórica greve geral paralisou o Brasil e uma marcha unificada em Brasília emparedou o governo. A reação popular estava no centro da pauta política e a possibilidade de que Temer pudesse ser derrubado pelas mãos da classe trabalhadora estava colocada.

O julgamento no TSE foi o ponto de inflexão neste acúmulo. PMDB e PT atuaram em conjunto para costurar com Gilmar Mendes a curiosa jurisprudência de ocasião que salvou a chapa Dilma-Temer. A tentativa de uma segunda greve geral foi desmontada pelas centrais sindicais ligadas à cúpula petista.

Isso não significa que não há mais luta no Brasil. Pelo contrário: de Norte a Sul os servidores públicos travam duras batalhas contra os governos que querem retirar direitos. Em Porto Alegre os municipários sustentam há quase 30 dias uma greve. Os professores gaúchos estão na linha de frente do enfrentamento a Sartori. A população LGBT reage com firmeza a tentativas fascistas de ataque à diversidade. E as ocupações urbanas do MTST representam o que existe de mais pulsante no movimento social hoje em dia, apostando no método da ação direta e levando dezenas de milhares às ruas.

Que alternativa política é capaz de unificar estes polos em torno de um programa real de mudanças? A velha esquerda governou o país durante 13 anos e foi incapaz de dar um passo adiante nestas lutas. E quando se fica no meio do caminho, está aberto o espaço para que a direita tome conta. É isso que estamos vendo agora, com o crescimento da candidatura de Bolsonaro e as movimentações em torno de Alckmin e Dória.

A melhor forma de enfrentar Bolsonaro e a extrema direita é através de uma esquerda que não tema dizer seu nome e propor um nova alternativa político ao país. A Nova República está falida. As investigações demonstram que ela foi construída sobre os escombros do patrimonialismo e das relações corruptas entre a casta política e a elite econômica. É preciso negar este regime e os partidos que lhe deram sustentação para que possamos construir algo novo.

PSOL terá candidatura própria à presidência. É preocupante que o partido ainda não tenha apresentado um nome e um programa para se postular na disputa, ficando de fora das pesquisas eleitorais e da ideia de uma referência como alternativa.

É legítimo que Marcelo Freixo e Chico Alencar tenham declinado da possibilidade de uma candidatura presidencial em nome da busca de maior representatividade do PSOL no Congresso. Esta decisão coloca para o partido de forma ainda mais vigorosa a necessidade de um nome que apresente nosso programa em 2018.

Em 2014 a candidatura de Luciana Genro expressou isso muito bem. Denunciou o sistema apodrecido, apresentou propostas concretas para o combate à crise econômica e envolveu a juventude, as mulheres e a população LGBT em um novo ciclo de lutas ignoradas pela velha esquerda e combatidas pela direita. O PSOL do Rio Grande do Sul apresenta seu nome à disputa presidencial de 2018 com a clareza de que é preciso postular o partido como uma alternativa diante da atual conjuntura.

É verdade que existem outros nomes. A possibilidade de que Guilherme Boulos se filie ao PSOL e seja candidato a presidente está colocada. Ela pressupõe um debate programático em torno do caráter desta candidatura. O PSOL gaúcho entende que a candidatura presidencial do partido deve expressar o fortalecimento de um terceiro campo na política, que faça um duro enfrentamento com a direita e que não atue na sombra da velha esquerda. É por isso que levaremos o nome de Luciana Genro para apreciação no Congresso Nacional do partido, que ocorre no início de dezembro.

A reconstrução da esquerda brasileira não depende de apenas um partido ou organização. É fundamental a unidade de ação contra as reformas neoliberais e os governos do ajuste. A defesa de um programa de transição que defina os marcos para a ruptura com este sistema injusto e desigual e melhore as condições de vida do povo é uma tarefa urgente. Nós temos as bases deste programa e um nome que o encarne.

Artigo originalmente publicado no portal Sul 21.


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