200 anos jovem

Der Junge Karl Marx é um retratado matizado e surpreendentemente acurado do revolucionário quando jovem.

Scott McLemee 17 fev 2018, 15:45

Lançado no ano passado, mas recebendo pouca cobertura da imprensa em inglês, Der Junge Karl Marx é um retratado matizado e surpreendentemente acurado do revolucionário quando jovem. Dito isso, eu não posso assegurar a cena da perseguição. Em relação a isso, prosseguimos mais adiante.

Antes um par de circunstâncias prenunciam boas possibilidades para o filme chegar a um público mais amplo, uma vez O Jovem Karl Marx (o título que vi em um festival de cinema recentemente) esteja disponível em DVD e em streaming. Seu diretor é Raoul Peck, o realizador haitiano cujo I Am Not Your Negro, um documentário sobre James Baldwin, foi nomeado para concorrer ao Oscar no ano passado. E o momento é bom: o próximo 5 de maio marcará o bicentenário de nascimento de Marx. Adicione, por exemplo, as conclusões do informe do Banco Mundial publicado no começo deste ano, The Changing Wealth of Nations 2018, e o potencial de interesse no filme parece promissor. Nas últimas duas décadas, a riqueza global “cresceu cerca de 66%”, diz o informe, “de $ 690 trilhões para $ 1.143 trilhões em dólares a preços constantes de mercado de 2014”, enquanto que “a riqueza per capita diminuiu ou se estancou em mais de uma dezena de países em diversos níveis de rendas”.

Em todo caso, essas cifras subestimam o abismo. Faz mais de dois anos, Oxfam definiu isso de maneira mais clara: “cerca do 1% mais rico tem acumulado mais riqueza que o resto do mundo reunido… Entretanto, a riqueza que possui a metade inferior da humanidade se reduziu em um bilhão de dólares nos últimos cinco anos”.

Como disse o Marx de meia-idade ao escrever para o The New York Tribune em 1859: “Deve haver algo de podre no próprio núcleo de um sistema social que aumenta sua riqueza sem diminuir sua miséria”. Sua compreensão desse sistema identificou as tendências à crise econômica e à ruptura como inerentes ao funcionamento normal do próprio capitalismo. Os ajustes e remendos improvisados para manter as coisas em movimento se tornam, em seu devido tempo, em fontes de turbulência. (Como enquadrar a estagnação dos salários com a necessidade de um poder aquisitivo constante renovado dos lares? Com mais e mais créditos de consumo, maior a possibilidade dos investidores apostarem valores vinculados às bolhas hipotecárias. Isso irá consertá-lo…). Estas são percepções das quais lamentavelmente se é necessário recuperar-se de vez em quando.

Fonte: Jacques Mandelbaum Photos Tobias Kruse/Ostkreuz para Le Monde/AFP

Peck e seus roteiristas aproveitaram-se de poucas das liberdades imaginativas geralmente permitidas na criação de uma biografia. O jovem Karl Marx se aproxima muito do registro, com alguns dos diálogos adaptados de correspondências ou de memórias; o diretor de elenco trabalhou claramente a partir de retratos das figuras originais. Pode ser difícil imaginar que tenha havido algum dia um jovem sob o icônico Marx, com sua barba profética e imponente. Mas August Diehl tem uma semelhança impressionante com um desenho de Marx aos vinte e poucos anos, e o interpreta com o toque de confrontação que aparecem em suas cartas a Friedrich Engels. O último é interpretado por Stefan Konarske – e novamente a semelhança com as imagens do jovem Engels, especialmente no comportamento, mostra mais atenção às fontes biográficas do que o gênero requer necessariamente.

Fonte: Jacques Mandelbaum Photos Tobias Kruse/Ostkreuz para Le Monde/AFP

O filme começa em 1842 com Marx e seus colegas filósofos-jornalistas do Rheinische Zeitung sendo presos pela cobertura mordaz de Marx sobre os debates no parlamento local – em particular, seus artigos sobre novas leis que eliminam o direito tradicional dos camponeses de recolher madeira morta em propriedades senhoriais. O próprio Marx escreveu que o relatório sobre assuntos tão sujos foi seu primeiro impulso para estudar questões econômicas. Na tela, parece ser o ponto de ruptura de Marx com os jovens hegelianos (não é um círculo que eu já esperava ver no filme) e o início de uma série de confrontos com funcionários do governo e movimentos apressados ​​de país para país com sua esposa e filhos – vivendo a vida de um exílio político impenetrável que continua muito depois do final do filme, o que coincide com a publicação do Manifesto Comunista em 1848. Para o registro, a cena final contém o único erro factual significativo que notei: Marx diz a Engels que irá escrever para The New York Tribune, embora, na verdade, este trabalho só lhe foi oferecido em 1851.

Agora, um filme que começa com seu herói escrevendo para um jornal e termina com ele assumindo uma posição em outro jornal, vai precisar muito mais do que verossimilhança. E isso também é verdadeiro mesmo – ou talvez especialmente – quando os desenvolvimentos intervenientes dizem respeito, em grande parte, à formação de uma doutrina política. O que O Jovem Karl Marx tem a seu favor é que a década de 1840 foi uma década excepcionalmente animada. Os relatos da Era da Guerra Fria às vezes faziam parecer que Marx era um recluso misantrópico, rabiscando diatribes que seriam lidas principalmente por outros fanáticos. Peck desmistifica isso na primeira cena de Karl e Jenny em Paris, participando de um banquete político dirigido por Pierre-Joseph Proudhon.

Esses banquetes eram uma grande parte da cena política de oposição na França na época. Ao ler sobre eles, eu sempre imaginei um grande salão com garçons trazendo comida para grandes mesas – nada parecido com o evento retratado no filme. O que vemos é mais como uma manifestação ao ar livre durante o dia, com barracas de comida e livros à venda. Proudhon toma o palco para falar sobre a necessidade de uma economia que não irá moer as pessoas na terra. Ele está cercado pelo que parece uma comitiva de discípulos que não se parecem especialmente felizes quando Marx lança “ao mestre” uma pergunta difícil, embora ele e o público pareçam aproveitar o intercâmbio. E sucede que algumas dessas audiências são negras – um toque agradável e o lembrete de Raoul Peck de que seus antepassados faziam parte da história francesa, mesmo que os historiadores as escrevessem poucas vezes.

Em suma, temos um vislumbre de uma cultura de debate político – o primeiro de vários. Em eventos posteriores, a audiência consiste cada vez mais em homens e mulheres operários, alguns dedicados a Proudhon, outros atraídos para a visão radicalista de Wilhelm Weitling, um alfaiate de grande eloquência alemã. Com o tempo, Marx e Engels se encontram trabalhando e discutindo com esses camaradas, com Marx, em particular, provando constitucionalmente incapaz de ser polido. Evidentemente, ele é ainda menos diplomático ao conhecer um industrial britânico que insiste que, se o trabalho infantil for abolido, ele não poderá lucrar.

Os manuais escolares padrões tem insistido que o Manifesto lançou um movimento revolucionário internacional. Mas O Jovem Marx mostra o que está por trás desse truísmo: Marx e Engels eram parte de, e foram moldados por, um movimento de baixo das pessoas que não lutavam por ideais, mas por sobrevivência. O objetivo do manifesto era dar a esse movimento uma análise de amplitude e profundidade. Quaisquer que sejam as falhas das projeções de mais curto prazo de Marx e Engels, as linhas lidas em voz alta dizem respeito a algo mais próximo do que as condições sociais do século XIX.

Não consegui anotar exatamente qual passagem foi usada, mas, ao examinar o texto, voltei a me surpreender com a lucidez e a precisão do que os autores viram: “Todas as indústrias nacionais antigas estabelecidas foram destruídas ou estão sendo destruídas diariamente. Eles são desalojados por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão de vida e morte para todas as nações civilizadas, por indústrias que já não trabalham com matéria-prima indígena, mas matéria-prima extraída das zonas mais remotas; indústrias cujos produtos são consumidos, não só em casa, mas em cada quarto do globo. No lugar dos velhos desejos, satisfeitos com a produção do país, encontramos novos desejos, exigindo para satisfação os produtos de terras distantes e climas. No lugar da antiga reclusão local e nacional e da autossuficiência, temos intercâmbio em todas as direções, a interdependência universal das nações. E como no material, assim também na produção intelectual. As criações intelectuais de nações individuais tornam-se propriedade comum”.

Esta visão de hibridez se aplica a O Jovem Karl Marx – um filme em alemão, francês e inglês, dirigido por um haitiano em um meio bem adaptado para se comunicar entre amplas diferenças culturais. O que me traz de volta a como no filme, pouco depois que Marx e Engels se encontram e começam a trocar ideias, eles logo se deparam com policiais que estão incomodando imigrantes. Eles tentam escapar, e a perseguição começa! Verifiquei as biografias e não vi indícios de que isso realmente acontecesse. Mas talvez o diretor esteja acenando para o cinema americano ao imaginar Marx e Engels em um filme de amigos.

Fonte: https://www.insidehighered.com/views/2018/02/02/review-young-karl-marx


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