Por uma candidatura do PSOL independente do lulismo em 2018

Precisamos imediatamente construir uma candidatura presidencial que reflita o acúmulo político do PSOL e seu perfil independente do lulismo.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 2 fev 2018, 11:02

Após a condenação de Lula pelo TRF-4 e com a diminuição das chances de que sua candidatura seja validada, intensifica-se o debate sobre a eleição presidencial de 2018. Nossa corrente manifestou-se em diversos momentos a favor do direito à postulação de Lula e contrariamente a que seus processos judiciais sejam instrumentalizados para fraudar a escolha do povo na eleição – uma vez que vários réus e indiciados na Lava Jato, como Temer, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra, Moreira Franco, Rodrigo Maia, Eliseu Padilha, Eunício Oliveira, entre tantos outros, seguem ocupando posições de comando do poder e com seus direitos políticos preservados. Esta posição política, independente de qualquer avaliação de mérito das acusações contra Lula, em nenhum momento significou apoio a sua candidatura nem muito menos defesa do legado dos governos petistas, contra os quais fomos oposição desde a primeira hora – uma definição sem a qual não existiria o PSOL.

Diante da crise e do impasse político vividos no Brasil, com um governo ilegítimo e corrupto que ataca diariamente os direitos do povo e da classe trabalhadora, aprofundando a desigualdade e ameaçando o futuro do país, temos a convicção de que o acúmulo político e programático construído pelo PSOL ao longo de sua história é fundamental para a construção de uma nova esquerda no Brasil.

Precisamos, com urgência, construir uma alternativa de esquerda à falência deste regime político apodrecido e dos principais atores partidários que o sustentam. Esta alternativa será construída nas lutas contra o ajuste e os ataques à classe trabalhadora. Fora da ação de massas não há esta possibilidade. Temos o dever de apresentar o que acumulamos também nas eleições de 2018. Do contrário, o povo encontrará na disputa de outubro uma esquerda agarrada ao passado que se confunde – pela defesa explícita ou por cumplicidade envergonhada – com os esquemas corruptos da burguesia e de seus agentes políticos. A ausência desta alternativa independente, anticapitalista e antirregime abre espaço para a canalização da indignação popular por projetos reacionários como o de Bolsonaro ou pelas tentativas do regime de reciclar-se com um “outsider” como Huck.

O debate sobre candidatura presidencial do PSOL

Nós, do MES, defendemos que os melhores nomes para representar o PSOL na disputa eleitoral seriam os de Luciana Genro ou Marcelo Freixo. Luciana por ser fundadora do partido, por acumular força deste período de enfrentamento corajoso e por encarnar o programa partidário com força em 2014. Também por ser uma mulher combativa num período de luta das mulheres. A outra opção seria Freixo, que mostrou sua força em 2012 e 2016, quando passou para o segundo turno das eleições do Rio. Infelizmente, Freixo não aceitou encabeçar esta tarefa. Porém, por divergências políticas com as posições do MES, o nome de Luciana sofreu oposição da US, não aceitando que a marca da luta contra a corrupção fosse a marca do PSOL. Não é a primeira vez que este bloco de forças no interior do PSOL atua desarmando o partido.

Em 2013, quando a US obteve maioria num congresso partidário graças às distorções das plenárias no Amapá, foi feita a escolha de Randolfe Rodrigues como candidato. O senador terminou desistindo pela pressão da militância e assumiu abertamente sua política de conciliação de classes saindo do partido para manter suas alianças com setores burgueses, com o DEM incluído.

Luciana Genro terminou sendo a representante do PSOL em 2014 e fez uma campanha vitoriosa, apesar do pouco tempo de preparação prévia e da ausência quase absoluta de recursos. Agora, seria muito mais forte. Infelizmente, a esquerda do PSOL continuou fragmentada, o que impediu a luta por esta possibilidade realizar-se. Desse modo, no congresso de 2017, a US pôde seguir dando as cartas com tranquilidade, apoiando-se também em lideranças independentes do PSOL e sobretudo – como nós do MES e de outras correntes denunciamos na oportunidade – se apoiando nas mesmas manobras do Amapá, aliada com Randolfe e Clécio (prefeito de Macapá), mesmo depois da ruptura de ambos com o partido.

O novo do congresso, porém, foi a possibilidade de uma aliança do PSOL com alguns movimentos sociais, particularmente com movimentos de moradia que se fortaleceram depois de junho de 2013. Concretamente, o MTST. Como somos uma corrente que reivindicou e participou ativamente de junho de 2013, valorizamos desde sempre esta hipótese. Lideranças independentes, em particular Marcelo Freixo, apresentaram sua intenção de que Guilherme Boulos fosse o candidato do PSOL.

Sobre a hipótese Boulos

O congresso terminou sem a escolha de um nome nem debateu um programa, mas autorizou o oferecimento da candidatura presidencial do PSOL a Guilherme Boulos. Ainda que tivéssemos assinado o apoio ao nome de Plínio Sampaio Jr., um economista marxista sério e militante do PSOL desde 2005, o MES resolveu, a partir desta decisão, mesmo sem o compromisso fechado de apoiá-la,  trabalhar a possibilidade de Boulos desenvolver esta hipótese e, caso as posições se aproximassem, apostar num compromisso sólido para as eleições e depois delas. Nossa corrente fez isto por razões óbvias: Boulos tem uma trajetória respeitável como liderança de um importante movimento social, com o qual já compartilhamos diversas lutas. Trata-se de um dirigente com muitas qualidades: jovem, com larga experiência de combate, e com ampla capacidade de diálogo, ao longo dos últimos 15 anos, com diversos setores da esquerda socialista brasileira.

Uma candidatura de Guilherme Boulos à presidência pelo PSOL poderia significar, então, a combinação do acúmulo de nosso partido – que enfrentou a política econômica pró-capital dos governos do PT e a corrupção da casta política – com a ideia poderosa de que só a luta do povo pode parar o ajuste da burguesia e obter conquistas. Sem dúvida, uma candidatura de Boulos pelo PSOL, com perfil claramente independente do lulismo, poderia recuperar o diálogo estabelecido pela campanha de Luciana em 2014 com o exemplo de junho de 2013. Recuperar e ir além, já que agregaria o componente da ação direta com muito mais força. Afinal, para nós, junho segue sendo uma bússola para a construção de uma nova esquerda no Brasil, baseada na ideia da mobilização popular e no combate ao regime falido da Nova República, cujas instituições estão a serviço, de forma cada vez mais escancarada, dos interesses da burguesia, da autopreservação e dos negócios de seus agentes políticos.

O MES reivindica seus encontros com Boulos e com o MTST nas ruas de São Paulo em junho de 2013 e nas mobilizações por moradia. Por isso, nossa corrente, inclusive, entenderia que Boulos expressasse posições particulares, de críticas duras ao judiciário e até mesmo à Operação Lava Jato. Aceitaríamos porque nossa corrente é crítica e combate este poder judiciário que persegue os pobres, os jovens, os negros, os movimentos sociais. Então, sobre isto, nem sequer seria uma concessão, mas a expressão de nossa convicção. Mas o MES também aceitaria fazer concessões. É o caso da Lava Jato, tendo em vista que oferecemos nosso apoio ao combate aos corruptos e corruptores, e defendemos neste sentido seu papel no desmonte de quadrilhas partidárias, como a do PMDB do Rio. Mesmo reafirmando nossa linha, nossa corrente aceitaria que Boulos se separasse da Lava Jato e mesmo apresentasse críticas, até porque não somos apoiadores incondicionais de uma operação que é desviada por interesses políticos e hoje está sendo mais dura com uns em detrimento de outros, mesmo que por influência de instâncias superiores da Justiça.

Mas, infelizmente, Boulos tem ido muito além disso. Lamentamos que no último período as posições de Boulos estejam cada vez mais próximas do PT. A política que tem defendido não é a política votada pelo PSOL em seus congressos, já que o partido sempre se definiu como oposição aos governos petistas. Boulos tem reivindicado os governos de Lula e Dilma como progressistas, buscando um diálogo com uma posição de disputa da “herança do lulismo”. Está muito longe de dizer o que o PSOL tem afirmado ao longo de sua história: que os governos do PT estiveram a serviço dos capitalistas, dos banqueiros, grandes empresários e até mesmo do latifúndio. Assim, envolveram-se em corrupção. Os governos do PT foram inimigos dos trabalhadores. Em nenhum momento, Boulos tem feito esta definição. Não se trata de fazer do PT nem de Lula o centro de nossa campanha. Isso não faria sentido. Não é mais o PT que governa. Então, é claro que não tem sentido do ponto de vista dos interesses dos trabalhadores fazer do PT o inimigo principal. Esta é a posição do MES. O inimigo principal é o governo, os partidos que o sustentam e os golpistas. Mas não aceitamos que o PT seja absolvido. E Boulos foi mais longe: disse que o povo brasileiro absolveu Lula. De nossa parte, embora defendamos o direito de Lula ser candidato e sejamos contra sua prisão, não o absolvemos como representante do povo.

Por isso, o MES passou a descartar a hipótese de que a candidatura de Boulos seja independente do lulismo. Para a corrente, esta hipótese perdeu força por Boulos assumir como eixo a defesa de Lula. Ao atrelar a defesa do direito do ex-presidente ser candidato à defesa política dos governos petistas, Boulos acaba se aproximando e reproduzindo posições formuladas pela cúpula nacional do PT.

Atualmente, o partido chega às vésperas da conferência eleitoral sem um nome nas pesquisas, sem aparecer diante da imprensa e do povo com um pré-candidato. Nessas circunstâncias agudas, a ausência do PSOL do debate nacional é um problema grave.

Unir a esquerda do PSOL e lutar por uma candidatura independente do lulismo

É necessário o partido acertar seu rumo. Ainda há tempo para evitar a diluição de nosso perfil em favor da estratégia de sobrevivência de Lula e do PT. Para isto, precisamos imediatamente construir uma candidatura presidencial que reflita o acúmulo político do PSOL e seu perfil independente do lulismo – o que as atuais posições de Boulos não permitem fazer.

O partido deve aprofundar seu debate programático, oferecendo uma análise da crise brasileira e uma política capaz de enfrentar o ajuste, o desmonte do patrimônio público e a falência das instituições burguesas, desmoralizadas pela corrupção. Além de construir um programa, o PSOL necessita de um debate mais amplo para definir seu candidato e para que este seja legitimado pela base partidária.

Por fim, precisamos de um nome que unifique a esquerda partidária e represente este acúmulo programático. Durante o congresso do PSOL, apoiamos o nome do companheiro Plínio Sampaio Jr., respeitando as postulações de outros nomes. Somos parceiros para seguir este debate com aquelas e aqueles que concordem com a necessidade de uma candidatura independente do lulismo para o PSOL. Para isto, é preciso buscar já a unidade em torno de um nome para representar o acúmulo coletivo de nosso partido.


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Pedro Micussi