VI Congresso do PSOL: uma batalha que precisa seguir

Um balanço do congresso nacional do Partido Socialismo e Liberdade que ocorreu nos dias 2 e 3 de dezembro de 2017 no Distrito Federal.

Secretariado Nacional do MES 22 fev 2018, 01:59

Nos dias 2 e 3 de dezembro ocorreu o VI Congresso do PSOL, para definir a orientação política, a tática eleitoral e a eleição da nova direção partidária. Neste texto, apresentamos o balanço deste Congresso e alguns pontos para orientação de nossa corrente.

O VI Congresso do PSOL aconteceu quando estamos entrando no ano da eleição presidencial mais imprevisível desde 1989, no marco de uma crise nacional, econômica, social e política, quando o povo não confia no atual regime, não acredita em suas instituições fundamentais, nem no governo e muito menos no Parlamento. Ao mesmo tempo, os lutadores sociais não conseguem apresentar por sua própria força uma saída a esta crise. Diante disso, Temer avança com medidas regressivas (Reforma Trabalhista, PEC do Teto dos Gastos, uma antirreforma Política e ainda busca aprovar a Reforma da Previdência) sem que haja um polo que possa efetivamente confrontá-lo e impor derrotas ao governo. Isso ocorre pela falta de uma ação decidida da nossa classe, onde a política das velhas direções – políticas e sindicais – também explica a ausência de reação da maioria do povo. Em particular a do próprio Lula, cuja estratégia é deixar passar o ajuste e apresentar-se como alternativa em 2018, preferindo que Temer faça o trabalho sujo. A inércia social motivada pelo grande acordo entre os partidos da casta e as direções das centrais – que ainda por cima acabam de receber 500 milhões para levantar a paralisação do dia 05/12 – levou a uma aprovação relativamente fácil da reforma trabalhista e à manutenção do governo Temer.

Apesar de não ter sido derrubado, a popularidade do governo continua na lona e não tende a sair daí. Seu desgaste é tão poderoso, e o regime político tão incapaz de produzir expectativas de melhorias, que as duas candidaturas que se fortalecem são a de Lula e a de Bolsonaro. Ambas expressam a brutal crise de representatividade atual. Afinal, Lula teria que ser já na aparência expressão do que é na essência: um líder de massas do passado, incapaz de projetar uma nova perspectiva para o futuro do país. Mas não. Sua aparência é de quem insiste em ser o carro chefe de um bloco de forças políticas e sociais que ele liderou, apesar de não ser mais uma alternativa democrática e dos trabalhadores. Trata de se afirmar como tal e tem apelo de massas para tanto. Se apoiando nas políticas compensatórias de seu dois governos, atrai setores de massas mais pobres, em especial no Nordeste – mas não apenas no Nordeste –, além de canalizar a intenção de voto de parcelas da juventude mais crítica, enfrentada com o governo Temer, setores intelectuais, camponeses e classes trabalhadoras urbanas cujo peso do PT ainda existe, embora esteja no menor nível de sua história. Bolsonaro por sua vez trata de capitalizar uma base de massas antirregime democrático burguês, particularmente os setores mais desesperados das classes médias baixas, de setores populares mais desclassados, decepcionados com o PT, uma parcela da qual passou a odiar o petismo e por óbvio está afastada também dos partidos tradicionais da burguesia e quer que a crise dê lugar à ordem, uma ordem neste caso reacionária, cuja máxima – uma das mais populares – é: “Bandido bom é bandido morto”.

A polarização desenhada destes dois nomes comprova um quadro de interregno, uma marca da situação nacional e deste período histórico no país, onde o velho já morreu e o novo não nasceu. São estes períodos típicos de aparição de fenômenos mórbidos, como dizia Gramsci. No caso, líderes do passado incapazes de criar alternativas seguem vivos e forças reacionárias aparecem como novidades. Apesar disso, e neste caso é uma definição essencial, o PSOL é o partido que desponta como uma possibilidade real de uma política de emancipação, capaz de se postular como alternativa, ou como um polo de massas que fortaleça uma perspectiva democrática e popular e até mesmo, embora mais difícil, uma perspectiva anticapitalista. A força do partido nas eleições

das prefeituras em 2016, onde em muitas cidades o partido disputou com o PT o lugar de força mais importante do chamado campo genérico da esquerda, é uma expressão recente desta possibilidade. E a situação particular mais avançada do Rio de Janeiro, onde o PSOL pode se desenvolver sem competir com o PT, liquidado já no distante ano de 1998, quando ocorreu a intervenção de Lula e José Dirceu contra Vladimir Palmeira, mostra que o partido pode ter influência de massas e ser a alternativa contra o regime atual e contra a extrema-direita. Apesar disso, devemos desde já assinalar que no plano nacional o Congresso do partido seguiu sem dar passos para apresentar o PSOL como polo nacional. A expressão maior desta falência – temporária, mas real – é que na última pesquisa de intenção de votos sequer o nome do partido constava na cartela de opções.

Mas se o PSOL está com dificuldades, também a burguesia brasileira não tem sua política eleitoral resolvida. A burguesia, por exemplo, embora esteja razoavelmente unificada na defesa de medidas de ajuste econômico, encontra uma enorme dificuldade de encontrar um candidato com peso eleitoral que durante a campanha não dinamite o discurso favorável às medidas aplicadas e que, uma vez no governo, dê continuidade com capacidade política de execução. O cenário eleitoral segue instável e a própria candidatura de Lula tem grandes chances de ser cassada, embora seja certo que seu nome irá polarizar a disputa eleitoral de qualquer forma. Isso dificulta a elaboração tática do PSOL, sobretudo depois que o partido abdicou de ter uma luta pesada contra a corrupção, se separando mais claramente do lulismo.

Apesar destas dificuldades e destas oportunidades perdidas pelo partido, isto é, de sua debilidade e de uma orientação para se apresentar mais claramente no plano nacional como um partido capaz de mobilizar contra os planos de ajuste da burguesia e sobretudo de se postular como partido de combate sem trégua aos esquemas de corrupção que marcaram os governos do PMDB, PT e PSDB e seus aliados, o PSOL segue como um partido com condições de disputar um espaço à esquerda de massas. Este capital político se deve a muitos fatores, desde o fato de ter sido fundado antes dos escândalos de corrupção envolvendo o PT, pela participação independente nas eleições, pela combatividade da militância, pela ação dos parlamentares do PSOL. É notório, por exemplo, que o discurso da bancada federal, sobretudo de Chico Alencar, nosso líder de bancada que teve de longe maior destaque, atuava e se pronunciava fortemente a favor da Lava Jato, linha oposta aos discursos do campo da US nas internas de diretórios. O partido tem ocupado espaço, e tal espaço existe em alguns setores – na juventude, na classe trabalhadora – e tem aumentado.

Tem aumentado também pelo protagonismo maior da comunidade LGBT, do movimento de mulheres e do movimento negro. Na realidade o PSOL é o único partido brasileiro que pode responder à necessidade de construção de uma alternativa. Vejamos o que significou o Congresso neste sentido.

A composição do VI Congresso do PSOL

O Congresso contou com a presença de 380 delegados eleitos, representando aproximadamente 27 mil filiados reunidos nas plenárias de base. O congresso revelou uma composição muito diversa, com peso significativo do movimento feminista e LGBT e com presença crescente do movimento negro, ecossocialista e dos povos indígenas. É significativo que as setoriais partidárias tenham tido tamanha representatividade e que possam seguir avançando, com o apoio do partido. Ainda falta unidade e articulação maior na intervenção, mas há um acúmulo razoável para dar conta deste desafio.

Por outro lado, a fraqueza notável na composição do Congresso foi a presença do movimento operário. A inserção do partido se mostra fraca nas fábricas e nos batalhões do proletariado. Se viu alguma presença por conta de dirigentes operários do Vale do Paraíba e de Campinas, lideranças do metrô de SP (carro-chefe atualmente de lutas gerais), de bancários, lideranças da Fasubra, dos professores, entre outros trabalhos. Mas não era uma presença marcante, nem foi central nas diretrizes do Congresso – um Congresso que não discutiu como se pode avançar na organização das lutas do povo. Também o movimento juvenil teve menos peso do que necessitamos. A presença do movimento popular e camponês foi fraca. Em nossa delegação do MES tínhamos parcela importante dos jovens e das representações dos trabalhos ligados ao MST do Maranhão e do Rio Grande do Norte.

A diversidade de movimentos é extremadamente positiva, mostra o dinamismo do PSOL entre estes setores e a possibilidade do partido de se consolidar como principal ferramenta entre eles. Ao mesmo tempo, não podemos perder de vista a urgência do partido estreitar sua relação com a luta dos trabalhadores. Sem a classe trabalhadora, sem peso nas fábricas, o partido será incapaz de oferecer uma alternativa anticapitalista que questione estrategicamente o regime de propriedade privado dos meios de produção. Nem mesmo poderá se estruturar como um partido capaz de assumir a mobilização de massas como sua orientação política central.

Apesar do numero de reunidos significativo e da diversidade da composição, o Congresso comportou uma representação distorcida pelo peso desproporcional da delegação do Amapá. Este estado elegeu quase a mesma quantidade de delegados ao Congresso que o Rio de Janeiro. No Rio, o PSOL tem atingido uma força eleitoral de massas devido à sua inserção social e o peso de suas figuras públicas. No Amapá, os principais dirigentes do PSOL foram há três anos para a Rede e governam Macapá hoje com o DEM. Esta prefeitura tem secretários acusados de serem escravocratas e que apoiam o Bolsonaro. Mesmo assim, o PSOL está dentro deste esquema com quatro secretários no governo e com indicativo de apoio ao DEM [Davi Alcolumbre] para o governo. A explicação do número de delegados do Amapá, todos ligados a US, foram as fraudes ocorridas. Por isso também não podemos dizer que a totalidade dos votos computados são de fato militantes que participaram do Congresso de forma consciente e ativa da política do partido.

Assim, o peso da representação na sociedade é distorcido no regime interno do partido. Foi esta fraude que garantiu a ligeira maioria da US no Congresso do partido. E essa distorção não foi ainda maior por conta da rigorosa fiscalização que fez a militância do MES, além de outras forças do Bloco de Esquerda que auxiliaram.

Com o dito acima queremos assinalar três conclusões fundamentais do Congresso:

a.A fiscalização e o trabalho do Bloco de Esquerda não impediu a fraude do Amapá, embora tenha reduzido seu peso. Esta derrota deu a vitória da US. A contrapartida da US foi dada no Congresso mantendo a participação no governo burguês de Clécio. Tal vitória impediu que Marcelo Freixo fosse eleito presidente do PSOL.

b.O plano da US de distorcer o Congresso a tal ponto de obter 70% dos votos foi derrotado. Para que isso ocorresse a fraude teria que se estender a outras estados. A fiscalização impediu que ocorresse. No final as forças do Bloco tiveram cerca de 40%, a US menos de 50 (as outras forças foram Rosa Zumbi, que está aliada com a US e a Insurgencia, que não cumpriu nenhum papel de destaque no congresso). Também para impedir estes 2/3, que permitiriam à US ter o controle dos principais postos de comando do partido, contribuiu a própria divisão da US, em especial em Pernambuco, Maranhão e Bahia. Um posto chave para lutar contra a burocratização ficou com a esquerda do partido: a Tesouraria.

c. Setores independentes que têm peso de massas no partido fizeram a experiência com a US e viram que o núcleo de direção deste setor não tem como linha ligar o PSOL aos movimentos sociais, aos artistas, aos intelectuais, defendendo a seleção de quadros meramente na lógicas de defesa de seu próprio aparelho.

Mas antes de voltar a alguns destes temas, vejamos as insuficiências que a linha da US produziu no Congresso.

Uma resposta insuficiente, que dificulta o PSOL como alternativa

Do ponto de vista da resposta política o Congresso não esteve à altura das necessidades atuais. Não apontou um plano de lutas e não foi capaz de refletir uma estratégia para unir a resistência à construção de um polo alternativo no país. A despolitização que atua sobre a vanguarda também deu as caras no Congresso do PSOL. Um Congresso com distorções democráticas graves (como a artificialidade de parte de sua delegação), não pode mesmo resolver problemas fundamentais oriundos dos conflitos reais da luta de classes.

Neste Congresso, o PSOL abriu mão de definir um nome imediatamente para a disputa presidencial. Mais uma vez esta decisão foi adiada, agora para uma conferência eleitoral bem mais restrita que o Congresso, embora tenha sido derrotada a proposta inicial do núcleo de direção da US de definir o nome num diretório nacional. Mas o mais grave é que o Congresso não definiu as diretrizes programáticas do partido. Não discutiu as medidas econômicas, nem o balanço da experiência dos governos petistas, nem planos de lutas, nem a questão sindical etc. O máximo da política é a reivindicação da linha contra o golpe, uma definição correta – se não for comparada com a falsa analogia com o golpe de 64, como o PT tratou de fazer para unir todas as forças na defesa de Dilma –, mas que não ultrapassa e não sai do horizonte do lulismo. Essas ausências são expressões da debilidade da US, mas também são fruto de suas escolhas políticas. Por exemplo, até poucos dias antes do Congresso o nome de Luciana Genro estava à disposição do partido.

Luciana era objetivamente o nome com maior força, por sua representatividade e pelo acúmulo de sua campanha em 2014. Mas o partido seguiu sem definir. O Congresso decidiu apostar na candidatura ainda indefinida de Boulos.

No terreno das escolhas políticas, a maioria das correntes do PSOL optou por não ter uma posição decidida favorável à luta contra a corrupção, diferente da posição adotada por Luciana e nossa corrente. Um setor importante do núcleo dirigido por Ivan Valente (APS-Corrente Comunista) se opôs à Lava Jato. Contudo, este é o principal tema que polariza atualmente a conjuntura nacional, sendo o calcanhar de Aquiles do governo Temer e dos principais partidos da ordem. Mas, pelo fato de a direção do PSOL não se dispor a integrar a luta contra a corrupção de forma entusiasmada, nosso partido foi acometido por profunda paralisia política nos últimos meses. Isso deixa campo livre pra Lula surfar. E o PT tira espaço do PSOL. E se permite que Bolsonaro capitalize pela direita a indignação justa do povo contra aqueles que pilham suas riquezas. Infelizmente, hoje Bolsonaro é a representação (de direita) mais forte de um sentimento “antissistema”. Assim, ele também tira espaço do PSOL, que se recusa a apresentar uma linha radical contra a casta política e a corrupção. A declaração de Lula defendendo Cabral e a máfia do Rio para atacar a Lava Jato é parte da luta contra a lava Jato e mostra que o PSOL não pode ceder a Lula se quiser até mesmo lutar de modo firme contra o PMDB.

Apesar dos problemas de orientação, em comparação com as outras legendas, pela via da nossa atuação parlamentar, o PSOL segue se desenvolvendo como um partido diferenciado e capaz de defender direitos. Porém, pelos erros políticos cometidos no período anterior, sobretudo minimizar a centralidade da luta contra a corrupção, o partido não figura, por enquanto, como uma alternativa crível para a disputa presidencial e da reorganização do país e da esquerda.

A luta por uma alternativa é urgente

O Congresso votou por decidir em fevereiro o nome do candidato, na expectativa de uma definição de Guilherme Boulos. Nossa corrente considera que Boulos pode ser uma candidatura que contribua para o crescimento do PSOL e sua construção como um polo alternativo. Trata-se de um dirigente genuíno do movimento social. Tem a seu favor o fato de ser liderança de lutas sociais, o que traduz um ponto programático fundamental nosso: a ideia da mobilização social como eixo da política. Este não é um acordo menor. Como discutiremos em nossa conferência, um dos maiores riscos do PSOL é se cristalizar como um partido eleitoralista, cuja estratégia se assente na luta por eleger parlamentares e um ou outro governo. Seria uma repetição rebaixada do PT, já que o petismo teve esta estratégia consolidada depois de anos de tensões internas e tendo uma figura com o peso de massas de Lula que levava o partido a ter e produzir ilusões de que com a disputa pelo cargo máximo da República, pela via eleitoral, pudesse vencer as eleições e realizar a partir daí uma revolução democrática. Este foi o discurso petista. Sabemos que a adaptação programática chegou antes da vitória e a colaboração de classes substituiu a revolução democrática. Mas a ideia de que as eleições devem ser o centro da disputa, que tudo deve estar subordinado às eleições e a construção da linha ideológica de via eleitoral pacífica para um reformismo forte foi a marca do petismo. Como sabemos, o resultado foi trágico. O PSOL repetiria isso como farsa se tiver como eixo eleger deputados e algum ou outro governo, sem sequer ter um nome forte como Lula. Caso tivesse um nome forte nacional e tentasse repetir a estratégia, a farsa não seria menor, mas seria menos evidente.

Então, o mérito de Boulos é tratar de tirar conclusões da necessidade da mobilização social estar no posto de comando da política. Seu discurso no Congresso assinalou isso. Foi um discurso fraco em análise do país, mas assinalou este ponto programático fundamental. A questão é que o programa não se resume a isso. Suas definições de que o governo petista foi progressista – ao invés da definição correta de que foi um governo social-liberal – pode levar o PSOL a se confundir com o PT. Nosso esforço, portanto, é de discussão sobre o programa. Há questões na qual temos diferenças e devemos buscar o máximo de aproximação, tratando de que Boulos, por exemplo, se aproxime ao máximo do discurso e das posições que Chico Alencar expressou no Congresso Nacional e que garantiu muito sucesso da bancada federal do PSOL, tão reivindicada por todos. Em outros pontos somos conscientes de que as nossas ideias têm identidade e tais identidades devem ser fortalecidas. É o caso da luta contra o PMDB, contra as alianças com tais partidos, o combate contra os privilégios e o poder do capital financeiro, das empreiteiras etc.

Consideramos que sua ida ao Congresso foi importante para que estes debates possam começar a ser feitos. Infelizmente o Congresso não foi aproveitado neste sentido. Como também é importante sua relação com Freixo, a capacidade de incidir sobre setores como Tarso Genro, sua localização no movimento popular em SP e a possibilidade de disputar um setor da vanguarda juvenil. Na questão presidencial, o Bloco também demonstrou sua fragilidade ao não defender um nome capaz de fazer a disputa externa. As forças em geral fizeram a opção por lançar cada uma o seu nome ideal em termos de programa. Foram lançados ótimos nomes sob este critério: Plínio, Sônia, Hamilton e Nildo. Nomes que podem ajudar, e muito, na formulação do programa, mas que evidentemente nem têm condições de alterar a relação de forças do Congresso e serem escolhidos como candidatos. A única candidatura que poderia alterar esta quadro e ser uma pressão mais pesada teria sido a de Luciana Genro. Com a retirada de seu nome e a decisão do congresso de adiar a escolha, deixou a decisão na mão de Boulos. Caso a decisão de Boulos seja por não se candidatar, tal possibilidade, ou seja, a possibilidade de que um dos quatro seja escolhido, será reaberta, embora seja difícil. Se Boulos decide ser o candidato, seu nome será o escolhido, como demonstrou claramente a vontade do Congresso. O que o Congresso não definiu é qual o programa. E nisso devemos nos debruçar e incidir. Para isso as pré-candidaturas serão decisivas, ou seja, para discutir e influenciar no programa e até na composição da chapa, com a escolha do vice.

Como linha política imediata, defendemos a abertura de um debate programático radical e aberto, incluindo também Boulos. Devemos ser parte da articulação para ordenar o debate programático imediatamente dentro do PSOL, em plena consulta à base, tomando como base um acordo entre os pré-candidatos postos ao debate, sinalizando com seminários e iniciativas que coloquem a batalha do programa na ordem do dia.

A luta pela direção do PSOL

O fato novo na disputa pela direção do PSOL foi a disposição e a luta de Freixo para ser presidente do partido. Se postulando desta forma, Freixo mostrou que quer um PSOL ativo, não uma máquina burocrática sem vida e sem relação forte com a sociedade. Mostrou que está querendo disputar este caminho. Esteve nesta batalha apoiado pelo Bloco de Esquerda. Apesar disso, a US insistiu num nome selecionado na pequena máquina partidária, desconhecido do público e sem experiência de direção de lutas. Não se trata de desmerecer o nome de Juliano Medeiros, o nome escolhido, mas de reconhecimento de um fato. Assim, a direção do PSOL, ao invés de sair mais forte, sai mais fraca do Congresso. Por outro lado, as perspectivas de construção de uma aliança no interior do partido para que o PSOL seja um partido mais ligado aos movimentos e as lutas se fortalecem.

Apesar da demonstração burocrática de setores da US ao negar a possibilidade de Freixo presidir o partido, foi positivo o passo dado por ele no sentido de disputar mais o partido. A negativa a esta política é prejudicial a todo o partido. Evita uma maior democratização e reforça os sintomas de debilidade do PSOL. E, caso Marcelo Freixo fosse presidente do PSOL, isso poderia facilitar a aproximação de Guilherme Boulos.

Fomos vanguarda, junto com setores do Bloco, para que essa proposta se viabilizasse, com uma fórmula que preservaria a correlação de forças. Foi uma experiência para o próprio Freixo a “mão de ferro” da US, impondo Juliano. Essa postura irredutível e burocrática reforçou o mal-estar que já vive a US como maioria da direção do partido – crise sempre agravada pelo fato de que entre os militantes esta maioria não existe.

A postura resoluta de Marcelo Freixo foi um salto, sinalizando para os parlamentares independentes – como os do Rio, Áurea, Ivan Moraes, entre vários – que a disputa e construção do partido têm repercussões na sociedade. Por outro lado, mostrou o caráter burocrático de uma parte da US. Essa luta apenas começou.

A esquerda dá vida ao partido

Sobre a disputa de direção no Congresso, o resultado foi o seguinte: Chapa da US/Rosa Zumbi/Glauber(207 votos), Bloco de Esquerda (148 votos), Insurgência e independentes do Rio (25 votos).

Com contradições e algumas insuficiências, o Bloco de Esquerda tem sido fundamental para o PSOL. Apesar de algum ou outro setor não apostar no Bloco, por vezes defendendo mais seus próprios interesses, a despeito da unidade do Bloco, a dinâmica que se impôs no Congresso foi a de uma batalha unificada ao redor da política.

Apesar das distorções do Amapá, a esquerda teve peso na direção do partido e conquistou a Tesouraria, o que é a melhor segurança, em termos de postos partidário, para conter tendências burocráticas. A crise da US se verificou em vários congressos estaduais, com a ruptura de chapas e um tensionamento grande entre correntes, como Fortalecer o PSOL e Rosa Zumbi. Mesmo com todo esforço e com uma maior fraude no Amapá, onde a delegação é quase 10% de todo o Congresso, a soma da US e Rosa Zumbi é praticamente igual à do último Congresso. A US perdeu peso em vários dos seus estados prioritários ( Edilson Silva foi derrotado em Pernambuco, o bloco venceu no DF, no Paraná, no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espirito Santo, Rio, Piauí, Ceará, RN, Sergipe, AM). E a US saiu derrotada no seu objetivo maior, que era uma “grande chapa dos 2/3”

para controlar o aparato e dar um salto na burocratização do PSOL. Isso não aconteceu e o próprio Congresso foi uma expressão dessa vitória do MES e do Bloco de Esquerda. Destacar essa vitória é, do nosso ponto de vista, o eixo de um balanço que prepare as próximas batalhas. A construção do Bloco, com tantas opiniões e visões diversas, foi uma vitória enorme da nossa política. Apesar da aproximação da Insurgência – que se dividiu no ano passado em quatro setores – com a US, afastando-a do Bloco, o polo democrático e combativo teve cerca de 40% dos votos no Congresso. Podemos dizer que a US é minoria na base, se considerarmos que a distorção de Macapá não faz parte da vida real do PSOL (salvo as manobras de Congresso).

O Congresso votou, por unanimidade, o ingresso do MAIS como membro pleno no partido. Terá direito a um assento no Diretório Nacional. Este ingresso foi fundamental, porque tem grandes chances de fortalecer as forças mais vivas do PSOL, ligadas à luta de classes. Em que pese certas leituras distintas da realidade, o MAIS como expressão de um setor que rompe com o sectarismo do PSTU – mas conserva experiência na luta de classes, anos de formação marxista e a cultura internacionalista – é uma grande ajuda para corrigir os rumos do PSOL, tanto de política como de regime interno. É a prova (igual ao que aconteceu com a Esquerda Marxista) de que o PSOL é o polo capaz de reagrupar a esquerda depois do colapso do PT.

A entrada de Freixo no debate interno também é uma esperança na batalha que vai seguir, interna e externa ao PSOL, para construir uma via socialista de massas, no bojo da reorganização do “pós- Lula”.

Estamos muito orgulhosos de nossos aliados, no bloco de esquerda. Nossa relação com nossos camaradas da APS , fortes na Bahia, no Pará e no Espírito Santo. Reconhecemos a importância papel que o agrupamento Somos Viamão teve, como parte da nossa tese e do próprio Bloco. Na articulação para que o a chapa e o bloco tivessem coesão, vale referir o trabalho da TLS e seu combativo dirigente Leandro Recife, com uma bancada expressiva de Pernambuco, com destaque para as lideranças do sindicato dos policiais. Grupos como o Barulho- do novo presidente do Partido no DF, Fábio Felix, e o coleitvo Rizoma(MInas Gerais) também enriqueceram a construção do bloco. Vamos seguir relacionados com a Esquerda Marxista. Temos apreciado muito o trabalho do 1 de Maio. Mantivemos a nossa relação respeitosa com a CST e a LSR. E também queremos estreitar nossas relações com as outras correntes do Bloco como Comuna, Subverta, NOS, CL, LRP e grupos menores. E também com a LS e CS.

O MES é uma força vital para o PSOL

O papel do MES durante o pré-Congresso e o Congresso mostrou que somos uma força vital, indispensável não só para dar vida ao partido, mas também com a grande responsabilidade de aportar muito para corrigir os atuais rumos do PSOL. Estivemos entre os setores decisivos para manter a unidade do Bloco. Tivemos 53 delegados, com representação do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília, Maranhão, Pará, Amazonas, Rio Grande do Norte, Pernambuco, sendo a maior corrente do Bloco. Nossa plenária armou a necessidade de organizar a conferência que acontecerá na Páscoa de 2018. A precária condição de debate do PSOL não impediu que nos reconhecêssemos como uma corrente mais nacional. Ampliamos nossa representação na condução do Rio Grande de Sul e do PSOL potiguar; fomos parte da coalizão que impôs a maior derrota à US, a vitória do Bloco de Esquerda no Distrito Federal; o MES ganhou a presidência do Diretório do Paraná; fizemos uma maior polarização no Congresso de São Paulo; junto com a CST, fomos a maior delegação do PSOL fluminense; e seguimos nossa construção nos estados, como já dito, elegendo delegados nas cinco regiões do Brasil.

Para além da disputa renhida pelos rumos do PSOL, elencamos três saltos nesse ano: nossos novos mandatos nos permitem intervir diretamente na conjuntura local; entramos onde éramos mais frágeis, na frente sindical com o Mover; ampliamos nossa capacidade de propaganda e editorial com as iniciativas da Revista, do site e do livro Stalin pela editora Movimento. Ainda seguimos e devemos apostar ainda mais no Juntos, que levou 150 jovens para o Congresso da UBES em Brasília, costurando uma chapa unitária do PPL com a Oposição de Esquerda. E com nosso desenvolvimento via o Emancipa, o trabalho de mulheres, de negros e negras, nosso portal de Izquierda e nossas relações internacionais. Devemos apostar na relação dialética entre a construção do MES e o fortalecimento do PSOL e suas alas anticapitalistas e democráticas.

Uma batalha de longo prazo

Saímos cientes de que a batalha está em pleno curso, que é uma batalha de longo prazo e que devemos tanto fortalecer nossas fileiras quanto sermos generosos e democráticos com as organizações do campo revolucionário que corretamente depositam no PSOL as suas expectativas. Teremos 9 membros no Diretório Nacional, sendo 3 na Executiva. O Secretariado vai conduzir o debate para que todos possamos fazer um bom balanço do VI Congresso do PSOL e nos preparamos para a conferência e para a luta social e eleitoral de 2018.

Temos que ser conscientes de que estamos em uma batalha longa que depende de nós e das reflexões que o conjunto da esquerda do PSOL faça do Congresso para seguir adiante (também entre eles os companheiros da Insurgência). Mas esta batalha não depende apenas de nós e sim, também, do curso da luta de classes. Neste sentido apostamos na reação positiva do movimento de massas, do qual somos parte da construção de uma nova direção.

A conferência do MES estará a serviço desta estratégia. Será para nos fortalecer, enraizar-nos mais no movimento, melhorar nosso funcionamento, vacinando-nos melhor para evitar todo contágio das deformações que tem o PSOL e para ter a paciência necessária para não cair na autoproclamação e na luta internista como eixo.

Pelo contrário, compreender cada vez mais que a melhor forma de corrigir os atuais rumos político do PSOL e seu regime é intervindo na luta de classes, avançando na inserção no movimento, na formação política, nos politizando e ajudando a que os militantes do PSOL e as correntes mais afins o sejam também.

Porto Alegre, 08 de dezembro de 2017


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Pedro Micussi