China: Campo livre para Xi Jinping

Desde 2012, Xi Jinping ocupa posições-chave: presidente da Comissão Militar Central, secretário-geral do PCC e presidente da suposta República Popular.

Pierre Rousset 27 mar 2018, 13:35

Um mandato sem fim

Segundo a Constituição, o título de presidente não pode ser outorgado por mais de dois mandatos consecutivos, a fim de evitar a consolidação de um poder demasiado personalista e garantir a manutenção de certo caráter de colegiado da cúpula do partido. Sabia-se que Xi desejava se livrar de tal obrigação; por ocasião do 19º Congresso (em outubro de 2017), quando iniciou seu segundo mandato, não preparou sua sucessão ao se recusar a integrar os representantes da nova geração de quadros no comitê permanente, como era de costume.

Em janeiro, o plenário do Comitê Central (cujas decisões só foram a público em 25 de fevereiro) levantaram essas obrigações – uma medida que não surpreende, mas não deixa de assumir contornos particularmente radicais. As emendas constitucionais poderiam ter sido limitadas: por exemplo, autorizando o presidente a assumir um terceiro mandato de cinco anos, ou então dissociando a função de secretário-geral do Partido da presidência do país (que hoje se dão em par). Não foi o caso: eliminou-se a limitação do tempo do mandato. Com efeito, Xi pode manter todas as suas funções centrais pelo tempo que desejar… e puder. Ele fez tudo que pôde para instaurar uma ditadura personalista, intentando tomar o controle exclusivo do partido – conferindo ao partido exclusivamente o controle sobre a sociedade (às custas do governo, da administração e das forças armadas). Contudo, há que se perguntar, como exercer indefinidamente tamanho controle centralizado num país gigantesco em plena transformação e num partido com aproximadamente 90 milhões de membros?

As crises futuras

A ruptura com o regime político estabelecido, iniciada com Deng Xiaoping nos anos de 1980, está consumada; não há, no entanto, volta possível ao passado maoísta. Não somente as bases sociais da China, convertida em potência capitalista, mudaram qualitativamente; mas, por trás das aparências de um culto desenfreado à personalidade e de sua posição de presidente vitalício, Mao Tse-Tung era apenas o número um de uma equipe de direção composta por personalidades fortes, com horizontes diferentes e que gozavam de uma grande legitimidade auferida do papel desempenhado na luta revolucionária. Assim, após o fracasso desastroso da implementação do Grande Salto Adiante (a fome mortífera), Mao se vê em minoria no comando político e as tensões sociais e as lutas das fraçoes finalmente acarretam, nos anos de 1960, na crise geral do regime maoísta (a “Revolução Cultural”).

O anúncio da reforma constitucional suscitou muitas piadas na internet, na China. Xi Xinping foi comparado a Wnnie, o ursinho que se arrogava imperador – a ponto de toda e qualquer referência a esse personagem de desenho animado ser censurada nas redes sociais.

Para prevenir dissidências, Xi aposta, por um lado, no crescimento econômico, e por outro, no reforço do controle social, expurgos e repressão preventiva. Os poderes da Comissão Central de Disciplina Interna do PCC foram reforçados e ampliados: não atingem somente os membros do partido, mas todos os funcionários públicos. Isso, contudo, não bastará para proteger o regime, no futuro, das crises culturais, sociais e econômicas de massa.

7 de março de 2018

Nota publicada no semanário “L’Anticapitaliste” (nº 420). Tradução de Flavia Brancalion para a Revista Movimento


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 12 nov 2024

A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!

Governo atrasa anúncio dos novos cortes enquanto cresce mobilização contra o ajuste fiscal e pelo fim da escala 6x1
A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi