No Brasil e no mundo, construir um 8M dos 99%

Mesmo que as tentativas de nos silenciar e nos diminuir sejam fortes, nossa resistência é ainda maior.

Giovanna Marcelino e Paula Kaufmann 5 mar 2018, 23:26

Em 2017, as mulheres organizaram um movimento internacional e ocuparam as ruas no dia 08 de março. O Dia Internacional de Luta das Mulheres teve, pela primeira vez nos últimos anos, uma articulação entre feministas de diversos países que, através de uma greve de um único dia, pararam suas atividades em defesa de suas vidas e pelo fim da retirada dos direitos das mulheres e dos trabalhadores. O 8M brasileiro foi marcado por fortes e enormes manifestações e, posteriormente, tido como o primeiro grande movimento de enfrentamento a Temer e suas reformas em 2017.

É novamente março. E desde então, a situação das mulheres brasileiras piorou.

As políticas neoliberais, já presentes há tantas décadas no Brasil, se fortaleceram. A misógina reforma trabalhista foi aprovada no Congresso Nacional e entrou em vigor, precarizando ainda mais a situação dos trabalhadores no Brasil e, em especial, das mulheres trabalhadoras. A “PEC do Teto”, aprovada em 2016, passou a mostrar seus efeitos, reduzindo investimentos em serviços públicos básicos, como saúde e educação, e sobrecarregando ainda mais as mulheres cujas famílias dependem destes serviços. A Reforma da Previdência, ainda em discussão, pode fazer com que mulheres, que hoje exercem dupla ou mesmo tripla jornada de trabalho, se aposentem mais tarde. A PEC 181 que tramita em Brasília pretende retroceder na ainda insuficiente legislação sobre aborto legal no Brasil e criminalizar todos os casos de interrupção de gravidez.

Mesmo que as tentativas de nos silenciar e nos diminuir sejam fortes, nossa resistência é ainda maior. Respondemos a todos estes ataques com muita luta.

Em resposta à investida contra nossos direitos trabalhistas, contribuímos na construção da maior greve geral desta geração. Organizamos atos de mulheres por eleições diretas contra o governo corrupto de Temer. Fomos milhares nas ruas para barrar a PEC 181 em nome do nosso direito de escolher.

Foi ano de romper com o silêncio. As mulheres Hollywood denunciaram o ambiente misógino em que trabalham. As ginastas norte-americanas denunciaram anos de abuso sexual de um dos médicos da equipe olímpica do país. Aqui no Brasil, até mesmo a Rede Globo teve que lidar com o barulho daquelas que resolveram que não irão mais conviver com o silêncio da dor do assédio.

Os transportes públicos das grandes cidades brasileiras se tornaram um campo de batalha para as mulheres. Deixamos de nos silenciar sobre as centenas de casos diários de assédio e organizamos fortes campanhas como “Meu corpo não é público”, que abriram um importante debate sobre os limites da legislação brasileira sobre o tema e a insuficiência de políticas públicas de combate ao assédio.

Aquelas mulheres cada vez mais marginalizadas na sociedade, que têm os postos mais precários de trabalho, sofrem mais com o crescente desemprego, não tem acesso à serviços públicos de qualidade e são em sua enorme maioria mulheres negras, têm exposto a ferida aberta da sociedade racista em que vivemos. Estas mulheres são cada vez mais encarceradas em péssimas condições. São elas que perdem seus filhos nas mãos da polícia assassina. São elas que lutam contra a fome das suas famílias. E por isso precisamos gritar.

Em 2018, seguiremos rompendo com este silêncio. Vamos às ruas contra aqueles homens que nos violentam e contra o sistema que consente e silencia. Ocuparemos as ruas contra os poderosos que querem traçar as linhas dos nossos destinos.

Iremos gritar por políticas sociais que permitam nossa sobrevivência. Vamos marchar por trabalho e salários dignos. Vamos lutar pela manutenção dos direitos trabalhistas duramente conquistados pela nossa classe. Iremos parar as ruas de todo o mundo pelo nosso direito à vida e ao futuro.

No dia 08 de março vamos fazer uma greve internacional contra o feminicídio, o encarceramento em massa, as políticas neoliberais, o massacre na Síria.

Romperemos o silêncio por Ahed Tamimi e o povo palestino, pela liberdade e pela autonomia das mulheres, pela nossa condição de donas dos nossos destinos.

Sairemos às ruas para construir um feminismo dos 99%. Mulheres brancas, negras, indígenas, trans, cis, lésbicas, bissexuais, heterossexuais, mães, imigrantes: todas lutando por uma sociedade mais justa para as trabalhadoras e trabalhadores. Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.


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