Por Marielle, por Cacau, por Nazildo e por todos nós! Hoje e sempre!

Os casos do assassinato do militante do PSOL e do líder quilombola demonstram que a execução de lutadores do povo brasileiro segue como máxima.

Iago Gomes 19 abr 2018, 17:02

Nunca nos últimos anos ser o país das Américas onde mais se mata defensores dos direitos humanos fez tanto sentido. Os dados divulgados pela Anistia Internacional dão conta que 66 ativistas foram executados somente em 2017. Em 2018 começamos com a execução da vereadora do PSOL, Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, que foram exterminados em meio ao centro do Rio de Janeiro num contexto de Intervenção Militar violenta sobre a cidade, que a vereadora investigava e denunciava. No dia 11 de abril, há três dias do marco de um mês do assassinato de Marielle, o filiado e militante do PSOL, Antônio Carlos, Cacau, foi executado a tiros na cidade onde morava e atuava, Capim Grosso, Bahia, por dois homens armados e não identificados e com todos os vestígios de crime premeditado.

O caso de Cacau não ganhou repercussão nem na mídia tradicional e nem nos círculos de militância. Com pouca expressão popular, trataram sua execução como mais uma e desconsideraram elementos necessários presentes em grande parte dos casos de militantes assassinados país a fora. Mesmo o partido (o PSOL) levou cerca de 2 dias para se manifestar sobre o ocorrido e demonstrou em nota a insuficiência da leitura do fato, sem manter a divulgação material da cobrança por investigações e acompanhamento da família e sem demonstrar expressividade em mais um extermínio de militante do partido.

O Nordeste historicamente é uma das regiões brasileiras de maior resistência popular ao lado do Norte, que possui os maiores índices de execução de ativistas. Os vínculos escravocratas que imperaram durante todo o Brasil Colônia são marcas presentes ainda nas relações políticas das duas regiões. As oligarquias coronelistas são base forte na Bahia, por exemplo, que foi e é dominada pelo carlismo (vínculo relacionado às alianças e ao domínio de Antônio Carlos Magalhães – ACM), e permanentemente fortalecida por grandes fazendeiros e proprietários das regiões interioranas. Esse contexto gera uma dificuldade enorme para o nascimento de qualquer alternativa política, já que corriqueiramente as perseguições e ameaças se fazem presentes. Se na capital, Salvador, já é muito comum o peso do domínio sobre bairros periféricos, nos interiores a situação se agrava ainda mais. Em cidades menores, a ausência de movimentos sociais e a pouca atenção de partidos de esquerda faz com que muitas das figuras de militância fiquem isoladas e sem cobertura e proteção, o que muitas vezes se torna uma militância de perfis individuais públicos e sem a força necessária para uma alternativa de enfrentamento. O relatório da Anistia, por exemplo, aponta que no Brasil lideranças indígenas e trabalhadores rurais são as principais vítimas. Ainda esta semana o líder quilombola Nazildo dos Santos foi executado no Pará. Ano passado, o líder quilombola Binho do Quilombo, baiano da cidade de Simões Filho, foi assassinado dentro de seu carro. Em ambas situações pouca cobrança da mídia, dos partidos e dos movimentos sociais.

A situação é de necessária denúncia e organização popular com fortalecimento dos movimentos sociais e populares. Somos perseguidos por milícias nas capitais, que disputam a dominação territorial, mas que são fortalecidas pelo Estado, mas também enfrentamos milícias coronelistas rurais e urbanas nas cidades interioranas. Nas capitais ainda somos fortalecidos pelas mídias e popularizações através dos veículos reduzidos que temos através de muita pressão, mas nos rincões do país, temos nossas vidas arrancadas, histórias esquecidas e passamos invisíveis para maior parte dos partidos que fazemos parte, que poucas vezes em anos enviam seus representantes para cumprir estatutos partidários e colher assinaturas. As estratégias de militância desenvolvidas para esses espaços geográficos não são e não se equiparam às mesmas utilizadas nas capitais. Estamos mais propensos às diversas formas de violências e logo somos alvos mais fáceis dos coronéis e líderes políticos das regiões. Cacau era um de nós, Marielle era uma de nós, Binho do Quilombo era um de nós e os muitos e muitas que são assassinados na periferia, como os 5 jovens executados em Maricá, ao qual a esquerda de forma geral não denunciou como deveria e também eram ativistas. É preciso entender que a execução de todos eles carrega o peso de uma dura resistência num país forjado no racismo colonial, basta olhar a cor e a etnia de maioria das vítimas. O assassinato de cada negro e negra, de cada quilombola, de cada membro dos povos originários é um crime político. Queremos justiça, mas queremos mais que isso: queremos um mundo onde nós tenhamos o direito básico de viver e ter nossos direitos garantidos!


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