Agrotóxico e Centrífugas de Ahmadinejad no entorno do DF
A tecnologia de enriquecimento de urânio tem uma aplicação dual que vai de utilidades bélicas até matéria-prima na fabricação de agrotóxicos.
Em um mundo em que as relações de poder entre as principais potências se baseiam na capacidade militar nuclear, o programa nacional iraniano de enriquecimento de urânio se tornou na década de 2000 um elemento de forte instabilidade na região mais conflituosa do planeta. Foi o ministro Celso Amorim, junto com o chanceler turco, quem coordenou a assinatura de um acordo em 2010 que previa instrumentos de controle da capacidade de enriquecimento de urânio do Irã.
Nos meses anteriores à assinatura do acordo, o então primeiro ministro iraniano, Mahmoud Ahmadinejad buscou aumentar a capacidade persa de enriquecimento do minério, instalando milhares de centrífugas em locais secretos, um dos quais no interior de uma montanha. O principal da questão era a tecnologia de enriquecimento de urânio, que tem uma aplicação dual. Ela permite a elaboração de produtos com finalidade militar, assim como para civil. O urânio enriquecido é usado em equipamentos médicos e para gerar energia elétrica. O que diferencia o uso civil do militar é o nível de enriquecimento desse minério. A 90%, o urânio se torna instável e pode ser usado para a produção de um artefato nuclear.
Dentre as tecnologias duais, a mais significativa para a sociedade atualmente é aquela usada para produzir agrotóxicos. Ela deriva da experiência alemã no desenvolvimento de armas químicas, que gerou posteriormente produtos para uso agrícola. Do pesticida Zyklon A por exemplo, usado nas décadas de 1920-1930 na agricultura alemã, derivou a arma química, usada nos campos de concentração nazistas, o Zyklon B.
A caráter dual da tecnologia usada para desenvolver agrotóxicos é assunto corrente e há publicações científicas que lembram que produtos à base do herbicida mais difundido do mundo, o glifosato, “são dez vezes mais tóxicos se inalados do que absorvidos oralmente”. A inalação do herbicida Roundup, à base de glifosato, provocou em ratos de laboratório “sintomas de toxicidade… que consistiam em falta de ar, olhos inflamados… ficando os pulmões vermelhos ou congestionados de sangue”[i]. É necessário lembrar igualmente que a quantidade de agrotóxicos aplicados está correlacionada com plantio de grãos trangênicos. A principal empresa do setor por exemplo (a Monsanto/Bayer), desenvolveu sementes trangênicas para que se tornassem resistentes ao herbicida e não às pragas.
A partir da entrada em vigor do novo Código Florestal as plantações de trangênicos se alastraram nas terras do entorno do Distrito Federal, transformando perenemente aquela savana. Estamos vivendo a aventura de subordinarmos o território nacional aos cálculos estratégicos de outros países, remunerando a pesquisa e o desenvolvimento de uma tecnologia dual, que pode derivar na produção de armas de destruição em massa. Fica-se com uma vaga impressão de que isso equivaleria a autorizar o Irã a instalar centrífugas no Cerrado.
Essas são informações básicas para o debate atual sobre a redução de restrições ao uso de agrotóxicos. É uma perspectiva que permite compreender o problema de uma forma desapaixonada e franca. E ajuda igualmente a explicar a complexidade de interesses setoriais e industriais em torno da produção de agrotóxicos. E de repente, toda a virulência das vozes pela redução de critérios de fabricação e pela liberação da identificação desses produtos se torna mais clara e compreensível.
[Extraído de: https://jornalggn.com.br/noticia/agrotoxico-e-centrifugas-de-ahmadinejad-no-entorno-do-df-por-carlos-potiara-castro#.w2skjzmeqgw.whatsapp]