Começa a campanha eleitoral: afirmar o PSOL e preparar as lutas
Sobre os desafios políticos, o quadro eleitoral e as possibilidades do PSOL oferecer uma alternativa para os brasileiros.
Neste 16 de agosto, iniciou-se a campanha eleitoral mais curta e mais imprevisível da história recente do Brasil. Após anos de crise econômica, ajuste e ataques aos direitos do povo, encontra-se pouco entusiasmo nas ruas. Mesmo em círculos ativistas, a preocupação é mais forte do que a esperança de que a eleição nacional poderá oferecer uma saída aos graves problemas do Brasil e às dificuldades crescentes do povo.
Na última semana, o debate entre candidatos à presidência na TV Bandeirantes mostrou algumas das razões para a desconfiança popular. O nível em geral rebaixado das discussões, o caráter farsesco dos personagens e projetos apresentados, o flerte com a irracionalidade de candidatos como Cabo Daciolo e posições reacionárias como as de Bolsonaro serviram para encher as redes sociais de piadas nos dias seguintes, revelando, uma vez mais, que o regime político brasileiro faliu, suas instituições e partidos não têm qualquer legitimidade, seus personagens são alvo da ira ou, com sorte, do escárnio populares.
Nas linhas a seguir, continuaremos as análises sobre a política e o programa da esquerda socialista para a eleição de 2018. Desta vez, debruçamo-nos sobre os desafios políticos, o quadro eleitoral e as possibilidades para que o PSOL possa oferecer uma alternativa para milhões, organizando um polo político a serviço das intensas mobilizações que viveremos assim que as urnas se fechem. A crise e a instabilidade prosseguem.
A “visita” de Mattis ao Brasil e a turbulência no cenário internacional
Enquanto a campanha começa a tomar as ruas brasileiras, as contradições da situação internacional seguem desenvolvendo-se. Nos últimos dias, o derretimento da lira turca – motivado por um ataque especulativo a esta moeda após o anúncio de sobretaxas a produtos turcos por Donald Trump em represália à prisão de um pastor estadunidense na Turquia – mostrou a posição frágil das economias periféricas diante das pressões das agências de rating e do capital financeiro transnacional. Em um ano, a lira turca perdeu cerca de 40% de seu valor diante do dólar, numa trajetória de queda acompanhada por outras moedas. Na Argentina, em reação ao risco de “contágio”, o governo neoliberal de Macri, semanas após assinar um acordo com o FMI, ordenou que o Banco Central daquele país aumentasse a taxa de juros nacional para 45% ao ano.
Ao mesmo tempo, a crescente disputa entre EUA e China sobre a organização do comércio global nas próximas décadas mantém turvas as perspectivas futuras, numa situação global marcada por uma crise de sobreacumulação e acirrada disputa entre as diversas frações do capital transnacional em busca de ativos desvalorizados e formas de investimento lucrativo. Não por acaso, James Mattis, secretário de Defesa dos EUA, esteve no Brasil durante a última semana para tratar de uma agenda obscura sobre a incorporação da Embraer pela Boeing – empresa diretamente ligada ao complexo militar-industrial ativado pelo Pentágono e a seus interesses estratégicos –, a cessão de uso da base de Alcântara (MA) para os EUA e a crise política na Venezuela.
No Brasil, pântano na economia, desemprego e ajustes
Os analistas econômicos a serviço do “mercado” já alardeiam os riscos que a instabilidade eleitoral pode trazer para uma “recuperação” econômica depauperada. A prévia do BC de crescimento da economia em junho de 3,29% praticamente iguala a retração de 3,34% em maio na esteira da greve dos caminhoneiros. O governo continua projetando o crescimento anual de pífios 1,6% em 2018. Por outro lado, os dados do mercado de trabalho seguem desanimadores. O índice de desemprego apurado no segundo trimestre foi de 12,4%, num quadro em que 13 milhões de pessoas estão sem emprego. Ao mesmo tempo, segundo o IBGE, o desalento alcançou o número recorde de 4,6 milhões de pessoas. Os dados mostram também que, após a reforma trabalhista, já começam a alastrar-se contratações precárias, como o trabalho intermitente.
A burguesia está unificada ao redor das medidas para recuperar os lucros e pretende utilizar a eleição para legitimar este programa, tentando também recuperar de alguma forma o regime político e reciclar seus partidos e dirigentes, de todos os matizes, profundamente envolvidos em escândalos de corrupção. Está em jogo a continuidade do ajuste estrutural, organizado ao redor: 1) da compressão dos custos do trabalho, com a reforma trabalhista, a pressão do desemprego e os contratos precários; 2) reforma da previdência e captura dos fundos públicos para a remuneração do rentismo e para criar oportunidades de negócio com a privatização de serviços públicos e empresas estatais; 3) aprofundamento da espoliação das terras, dos recursos naturais e dos direitos do povo; e 4) reorientar internacionalmente o país, consolidando-o como fornecedor de bens primários e como local de produção a baixos custos. As discussões orçamentárias para 2019, que mostram os efeitos perversos da lei do teto no desmonte de áreas fundamentais como a educação, a ciência e a tecnologia, vão nesta direção.
No debate da Band, primou o que Guilherme Boulos nomeou os “50 tons de Temer”, um debate sobre quem será o novo inquilino do Palácio do Planalto para adotar a agenda de reformas antinacionais e antipopulares em curso. A burguesia tenta manter o debate político nos limites de classe que considera aceitável: o ajuste estrutural é uma imposição e a legitimidade das urnas é útil. Seu grande desafio é eleger Geraldo Alckmin como a continuidade do governo Temer e de seus agentes corruptos, numa tentativa de empurrar para a frente as contradições do regime.
À direita, o PSDB enfrenta obstáculos importantes, como a perda de votos para a extrema-direita de Bolsonaro e seu programa ultraliberal de ajuste, com o qual alguns empresários começam a flertar, e a disputa de votos com Alvaro Dias e Henrique Meirelles, duas candidaturas que expressam o mesmo programa. À esquerda, as manobras do PT durante a fase final de negociações partidárias e a manutenção do nome de Lula como candidato, contra todas as expectativas de sua viabilidade jurídica, mostraram que o objetivo deste partido é preservar sua bancada parlamentar e governos estaduais ao mesmo tempo em que impede a qualquer custo o surgimento de uma liderança na centro-esquerda que lhe possa fazer sombra, do que são exemplos o vergonhoso saldão para retirar o apoio do PSB a Ciro Gomes e as negociações até o último minuto com a cúpula do PCdoB pela retirada de Manuela Dávila.
Diante de uma crise sem precedentes, PT e PSDB, responsáveis pela tragédia em que se encontra o país, pretendem repetir a polarização das últimas eleições presidenciais e reciclar um regime político naufragado, reduzindo o espaço para os concorrentes, como Marina Silva e Ciro Gomes, que aparecem bem posicionados nas pesquisas, mas não contam com as máquinas partidárias, eleitorais e o tempo de televisão das campanhas de Alckmin e de Haddad, virtual candidato petista.
É hora de levantar uma alternativa para a eleição e para as lutas que virão
Infelizmente, as eleições de 2018 não resolverão as graves contradições brasileiras e nem emanciparão um povo cansado com a violência do desemprego, da humilhação diária e da opressão do crime nos bairros e cidades. Para combater o programa de longo prazo da burguesia para o Brasil, será preciso mobilização permanente em defesa de nossos direitos, da soberania nacional e contra a entrega de nossas riquezas.
A eleição é um capítulo importante desta luta. A candidatura de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara, da aliança entre PSOL, PCB e MTST, pode apontar um caminho e auxiliar a construir um polo político, para o qual nossas figuras e candidatos em todo o país têm grande importância. Nos estados, teremos candidaturas de referência do PSOL. Podemos fortalecer bancadas combativas, que sirvam como ponto de apoio para as lutas do povo. É hora de lutar, nas ruas de todo o país, por outro Brasil!