Mitos e verdades no debate da Jovem Pan: Segurança
No último capítulo da série, esclarecemos polêmicas no debate entre Sâmia Bomfim e Carla Zambelli sobre o tema de Segurança Pública.
No debate que rolou essa semana no programa Pânico na rádio Jovem Pan, a apoiadora de Bolsonaro apresentou argumentos questionáveis. Queremos então aproveitar a oportunidade para aprofundar a discussão sobre alguns dos temas levantados no programa.
Mito: Os Estados Unidos é um dos países menos violentos do mundo
Os defensores de Bolsonaro e do populismo penal tomam como referência o modelo de segurança pública dos EUA: alto encarceramento, pena de morte e população fortemente armada.
Verdade: Se há algo dos EUA que não deve ser copiado é o seu modelo de segurança pública. No ranking mundial de segurança elaborado pela Global Peace Index, os EUA aparecem em 114 de 163, muito atrás de qualquer outro país desenvolvido do mundo e atrás de países muito mais pobres, como Argentina e Chile. 3 das 50 cidades mais violentas do mundo são americanas, de acordo com estudo realizado pelo instituto Segurança, Justiça e Paz, do México. Em grande parte isso se deve ao altíssimo índice de armamento da sociedade civil naquele país: há mais de uma arma por indivíduo adulto, a maior média do planeta. Isto facilita os ataques em massa como o que ocorreu ano passado em Las Vegas que deixou 58 mortos e 500 feridos. De acordo com pesquisa publicada em abril pelo instituto americano Gun Violence Archive, foram 1624 ataques desse tipo nos 1870 dias anteriores à data da publicação do estudo: uma média de 9 ataques a cada 10 dias.
Mito: Os países mais seguros do mundo são também aqueles em que a população é mais armada.
Verdade: Não há qualquer relação de causa e efeito entre porte de armas e segurança. Mais ainda, provavelmente esta relação é inversa ao que Carla Zambelli afirmou. Considerando-se apenas o porte legal de armas, há sim países que estão entre aqueles com maior taxa de armas per capta que possuem os melhores índices de segurança do mundo. Entretanto, esta intersecção ocorre em países como Finlândia, Suíça, Noruega e Canadá. Vale lembrar que estes países são também recordistas em IDH (índice de desenvolvimento humano) e qualidade de serviços públicos (como educação e saúde), além de possuírem índices de desigualdade e pobreza baixíssimos. Já os países mais armados que não possuem esta realidade social estão entre os mais violentos: Iêmen, Arábia Saudita e Iraque (este último, o terceiro mais violento do mundo). Portanto, tudo indica que o fator que leva à segurança é a qualidade de vida, e não as armas. Considerando que os indicadores sociais do Brasil são péssimos, provavelmente a liberação das armas nos tornaria mais parecidos com os Estados Unidos e Iêmen, e não com a Suíça e o Canadá. Um elemento que corrobora esta hipótese é o fato de que, de acordo com o Sistema Nacional de Armas, 80% das armas apreendidas em crimes no Brasil possuem origem legal, ou seja, foram extraviadas das forças de segurança ou roubadas de civis com porte legal. Se mais armas estivessem disponíveis para a população civil, tudo leva a crer que um número maior delas iria parar nas mãos de quem comete crimes.
Material originalmente vinculado no Facebook da autora.