É hora de luta: votar 13 para enfrentar os ataques de Bolsonaro à democracia e a nosso povo

Os resultados eleitorais do primeiro turno e a onda dos bolsonaristas nos estados ilustram o elemento de implosão do atual sistema político.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 23 out 2018, 19:26

Estamos a menos de uma semana do segundo turno. Com o final de semana marcado por atos contra e a favor de Bolsonaro, o clima esquenta. A verdade é que os dois fatos mais graves da eleição até aqui vieram à tona em poucos dias. Primeiro, a Folha de S. Paulo revelou o escândalo de uso de caixa 2 pela campanha de Bolsonaro para disseminar milhões de notícias falsas pelo whatsapp, utilizando financiamento empresarial ilícito. Dias depois, o clã Bolsonaro, que passou a eleição tentando esconder sua verdadeira face, revelou-se em sua plenitude: Eduardo Bolsonaro, um dos filhos que Jair Bolsonaro elegeu deputado, afirmou que bastariam “um soldado e um cabo” para fechar o STF, caso o tribunal criasse obstáculos ao pai. Já o candidato do PSL, em transmissão para o ato em seu favor em São Paulo, prometeu “varrer” a oposição, promovendo uma “limpeza” contra os movimentos sociais e a esquerda, que iriam ou para o exílio ou para a cadeia em seu governo.

A escalada para intimidar o ativismo na reta final da campanha é parte da sua estratégia de violência e interdição do debate. A jornalista Patrícia Mello Franco, autora de reportagem que revela o esquema das notícias falsas, recebeu ameaças e constrangimento. O papel de um setor de ultra-direita do empresariado nacional ficou exposto com o tamanho do financiamento do esquema. Segundo a reportagem, cada um dos vários contratos realizados com 4 agências de difusão de mensagens pelo whatsapp poderia custar R$ 12 milhões. Luciano Hang, dono das lojas Havan – apontado pela Folha como um dos empresários que pagaram a difusão de mensagens falsas –, e Mário Gazin, das lojas Gazin, gravaram um vídeo antes do primeiro turno pedindo aos eleitores que votassem em Bolsonaro para que a eleição não fosse ao segundo turno, evitando que eles “gastassem mais dinheiro”.

A crise do STF, por sua vez, levou às falas vários ministros, como Celso de Mello e Alexandre de Moraes, que pediu investigações da PGR e para quem Eduardo Bolsonaro teria cometido crime tipificado na Lei de Segurança Nacional. A gravidade das últimas declarações levou Marina Silva a declarar voto crítico em Haddad e Fernando Henrique Cardoso a condenar declarações “que cheiram a fascismo” do clã Bolsonaro.

A polarização cresce nos últimos e decisivos dias de campanha. Estamos atuando com força na luta para derrotar Bolsonaro e construir uma linha de resistência. Assim marcharam nossas colunas e figuras nos atos políticos do último sábado, dia 20, em todo o Brasil. Estamos junto ao PSOL envolvidos na campanha de Haddad e Manuela, como afirmamos dias após a apuração dos resultados do primeiro turno. É preciso fortalecer campanha, compreendendo o que está em jogo neste momento: a defesa das liberdades democráticas e a luta pelos direitos do povo, da juventude e dos trabalhadores.

O debate político interditado

Os resultados eleitorais do primeiro turno e a onda dos bolsonaristas nos estados ilustram o elemento de implosão do atual sistema político. Uma eventual vitória de Bolsonaro confirmaria que se está transitando para um novo tipo de regime, mais regressivo social e politicamente.

O elemento da falta de debate geral inicia com o impedimento da candidatura do líder das pesquisas até o início da campanha eleitoral, Lula. O caráter farsesco dessa medida já colocou a legitimidade do processo em suspenso. Contribuindo para o esvaziamento da eleição, Jair Bolsonaro, agora favorito, abriu mão de participar de debate eleitoral. O que se operou, com a ajuda de uma maquinaria internacional de produção de fake news, associada à entrada de setores da mídia como a Record e o peso de grandes igrejas evangélicas fundamentalistas, foi uma ruptura com a própria racionalidade eleitoral para um setor de massas.

São um escárnio a recusa de Bolsonaro de participar de debates e sua postura nas poucas entrevistas, quando não se submete a perguntas ou questionamentos, apenas repetindo suas bravatas e ofensas de baixo nível com jornalistas dóceis e amestrados. O papel de parte da mídia corporativa é criminoso. Sem debates e com falsas notícias sendo repetidas freneticamente, o padrão do debate é assustador. Existem exemplos de resistência, como o jornalista gaúcho Juremir Machado da Silva, que pediu demissão de um programa de rádio quando não pôde fazer perguntas diante de “entrevista” de Jair Bolsonaro.

O retrocesso está no horizonte

O grupo de trabalho que organiza o programa do PSL, conformado na sua maior parte por generais, informou à imprensa o esboço de 22 medidas iniciais de um eventual governo Bolsonaro. O que os generais estão defendendo é um verdadeiro plano de guerra contra o povo.

O tripé de seu plano é relativamente simples: implantar um novo marco jurídico para a ação das forças policiais, alterando o Código Penal, com a exclusão da ilicitude, dando permissão para os policiais matarem em qualquer caso; expurgar os direitos humanos e as conquistas democráticas; liquidar os direitos sociais, com a nova carteira de trabalho e a segunda fase das reformas: previdência, trabalhista e educativa. Além disso, está clara a destruição de marcos civilizatórios previstos na Constituição de 88, como a defesa da demarcação de terras para indígenas, quilombolas e pequenos agricultores, e as ameaças ao Ibama e ao ICM-Bio.

Bolsonaro já avisou que pode impor a cobrança de mensalidades nas universidades públicas, ferindo por completo a autonomia e indicando reitores alinhados com o novo governo. Tudo isso num ambiente em que suas declarações ajudam a liberar energias de grupos de extrema-direita, ampliando a xenofobia, o machismo, o racismo, a LGBTfobia e a violência contra os diferentes, de são exemplos dezenas de casos em todo o país.

Cada voto a favor dos direitos é uma conquista importante

A tarefa da reta final é lutar para virar. Os últimos acontecimentos trouxeram importantes deslocamentos para a campanha Haddad, sendo o mais expressivo o apoio de Marina Silva, que se soma aos ex-candidatos Ciro Gomes, Guilherme Boulos, João Goulart Filho, Vera Lúcia e Eymael no voto 13.

Não abrimos mão da crítica à política que Haddad e o PT tiveram para o processo eleitoral, seja do ponto de vista de suas alianças, seja do ponto de vista dos eixos programáticos. Contudo, não se pode perder de vista que temos um inimigo principal que precisa ser derrotado. O ideal seria a convocação de uma ampla unidade de ação, baseada em pontos mínimos, para evitar que um apologista à ditadura e aos torturadores chegue à presidência da República. A recente pesquisa Ibope demonstrou que a distância diminuiu, com Haddad baixando sua rejeição em sete pontos e Bolsonaro caindo nos votos válidos e aumentando sua rejeição. É mais um elemento para incrementar nosso combate na reta final, nos dias que nos restam.

É preciso seguir a campanha de base, nos bairros, locais de trabalho e estudo e construir os atos de hoje no Rio, na Lapa, e amanhã em São Paulo no Largo da Batata. Também é hora de debater com amigos e familiares, explicando o que significará uma vitória de Bolsonaro e convencê-los todos a votar em Haddad e Manuela 13. Vamos lutar pela virada!


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