Fidel Castro

Dois anos após a morte do líder cubano, publicamos artigo que refletiu à época o significado do acontecimento,

Francisco Louçã 25 nov 2018, 19:12

Com a morte de Fidel Castro, desaparece uma das últimas grandes figuras que marcaram o século XX. Dirigente da única revolução socialista vitoriosa no Ocidente, enfrentou o maior poder da nossa era, o de Washington, e resistiu a invasões e agressões militares, a inúmeras tentativas de assassinato, ao bloqueio permanente e a todas as pressões. Fidel sai da vida como um vencedor.

À frente de um pequeno exército guerrilheiro, de apenas cinco mil homens e mulheres (só tinha sobrevivido uma dúzia quando desembarcaram do Gramna para iniciar a luta), conquistou Havana porque o povo não tolerava mais aquela combinação de ditadura e máfia dos casinos, a subserviência e a miséria que alimentava a corte de Fulgêncio Batista. A revolução cubana tinha essas raízes na esperança de uma vida digna e é por isso que, ao contrário de outros regimes, manteve uma base popular tão expressiva e se tornou um exemplo continental.

Fidel nunca dependeu estritamente de Moscovo: tentou criar a Tricontinental para desenvolver uma acção internacionalista autónoma, desencadeou sem autorização do Kremlin a operação militar para salvar Angola da invasão sul-africana – e venceu o mais poderoso exército de África, contribuindo assim para a futura derrota do apartheid – e prosseguiu uma política latino-americana baseada na estratégia de criação de um ciclo anti-imperialista. Também é certo que, noutros casos, se submeteu a razões de conveniência (Havana, como Moscovo e Pequim, opôs-se à independência de Timor). Em qualquer caso, a sua independência reforçou a posição de Cuba.

Durante estas décadas, Cuba sofreu de tudo: um bloqueio destruidor, uma vinculação económica aos interesses da URSS que lhe impôs a monocultura do açúcar e, depois, uma transição difícil, sem petróleo e sem indústria. Sobreviveu, com grande custo, mas constituindo uma notável excepção na América Latina, com níveis de desenvolvimento distantes de outros países e com resultados notáveis, sobretudo na medicina e educação. Internamente, manteve um regime de partido único, o que se impôs sempre contra a capacidade de expressão popular e de mobilização democrática, mas, ao contrário da história trágica da URSS e da mortandade de comunistas e opositores que foi a marca de Estaline, permitiu e até estimulou formas de diversidade cultural de que são exemplo a publicação dos livros de Leonardo Padura (leu “O Homem que Gostava de Cães” ou os seus romances policiais?) ou o cinema crítico (por exemplo, “Morango e Chocolate”, de Tomas Alea em 1994, no auge do período mais difícil da economia cubana). Foi portanto uma liderança popular e marcante.

Marcelo Rebelo de Sousa, homem de direita, resumiu tudo ao dedicar a sua visita a Cuba ao esforço de conseguir um encontro com Fidel. Agora, terminou esta história que nunca absolve, mas que compreende e que luta pela memória.

Artigo originalmente publicado no O Público em 26 de novembro de 2016.


TV Movimento

Calor e Petróleo – Debate com Monica Seixas, Luiz Marques + convidadas

Debate sobre a emergência climática com a deputada estadual Monica Seixas ao lado do professor Luiz Marques e convidadas como Sâmia Bonfim, Luana Alves, Vivi Reis, Professor Josemar, Mariana Conti e Camila Valadão

Encruzilhadas da Esquerda: Lançamento da nova Revista Movimento em SP

Ao vivo do lançamento da nova Revista Movimento "Encruzilhadas da Esquerda: desafios e perspectivas" com Douglas Barros, professor e psicanalista, Pedro Serrano, sociólogo e da Executiva Nacional do MES-PSOL, e Camila Souza, socióloga e Editora da Revista Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni
Editorial
Israel Dutra | 20 fev 2025

Altas temperaturas no cenário político

A emergência climática, a crise do governo Lula e a pressão pela prisão de Bolsonaro aquecem o cenário político
Altas temperaturas no cenário político
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 55-57
Nova edição da Revista Movimento debate as "Encruzilhadas da Esquerda: Desafios e Perspectivas"
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as "Encruzilhadas da Esquerda: Desafios e Perspectivas"