Dia 30 foi maior: mobilizar até vencer os cortes e derrotar o governo!

Uma análise dos atos de 30 maio. O levante da educação segue e enfrenta Bolsonaro.

Secretariado Nacional do MES-PSOL 31 maio 2019, 14:39

As ruas do país voltaram a ser inundadas por centenas de milhares durante o dia de ontem. O tsunami da educaçao segue. Em condições distintas ao 15 de maio, quando a irrupção da juventude no levante da educação marcou uma inflexão na conjuntura política nacional, as principais cidades do país tiveram atos multitudinários. O governo redobrou a aposta, seja na patética convocatória golpista do dia 26, seja na linha de maior repressão dentro das universidades, mas se deparou com a força da mobilização estudantil. 

Na noite de ontem, contabilizaram-se protestos em mais de 150 cidades. Novamente, Rio de Janeiro, em São Paulo e em Belo Horizonte, as manifestações foram as maiores, superando o marco de 120, 150 mil e 170 mil pessoas reunidas respectivamente. Com a dificuldade de que as entidades do setor educativo não chamaram uma nova paralisação – fato que esvaziou a presença da categoria docente e dificultou a presença dos alunos por conta das faltas – a manifestação foi um acontecimento, não tanto pelos números absolutos, como foi o 15M, mas pelo protagonismo estudantil e pelos atos mobilizados e com disposição de luta. Em Belém e Fortaleza, os atos superaram o dia 15, sendo que, em Salvador, se esteve próximo disso. No interior de São Paulo, as convocatórias ganharam volume em cidades como São Carlos e São José dos Campos, além de Campinas, onde se reuniram 20 mil pessoas. No Sul do país, sob chuva torrencial e muito frio, marcharam 20 mil em Curitiba – cidade da ação exemplar dos trogloditas da extrema-direita -, de 3 a 5 mil em Pelotas e um número maior do que este em Porto Alegre. 

No domingo, 26 de maio, o bolsonarismo quis dar um sinal de força, chegando ao cúmulo de baixar e rasgar uma faixa com a faixa em defesa da educação na Faculdade de Direito da UFPR. Essa foi a cara da manifestação dos “verde-amarelos”. Ontem, o movimento estudantil saiu de cabeça erguida, levantando novamente a faixa em várias capitais, moralizando a vanguarda e afirmando que o jogo ainda está apenas começando. 

O governo parte para o embate 

Buscando capitalizar a base coesa que saiu às ruas no dia 26, de forma muito organizada, o bolsonarismo colocou o problema da luta pelo apoio as reformas na ordem do dia. Essa foi sua resposta à fissura na frente conservadora, que levou à cisão do MBL com o bolsonarismo e à ameaça à unidade de seu próprio partido. A ordem unida da reforma seria o pilar para o “pacto” que Bolsonaro está construindo – motivo de sua reunião com os “chefes dos poderes”, Toffoli, Alcolumbre e Maia. Este último foi alvo dos protestos de domingo, caricaturizado como substituto de Lula nos bonecos infláveis e na ira dos manifestantes da extrema-direita. 

Defender como urgente a reforma da previdência e partir para cima do chamado “centrão” é o que resta ao governo. Ao mudar sua agenda, apela para os patrões nacionais e setores da mídia, como forma de colocar em segundo plano as críticas a seu despreparo. O caso de Flávio Bolsonaro é uma ameaça ao “clã”, por comprovar sua ligação com milícias e fazer voar todo discurso anticorrupção, base principal da eleição de Bolsonaro diante das parcelas mais atrasadas das camadas médias e do proletariado. Nesta semana, o tio de Michelle Bolsonaro foi preso em Brasília, acusado de vincular-se com mílicias no Distrito Federal.

No terreno das ruas, o governo opta pelo confronto. O patético Weintraub difunde um vídeo em que anuncia mais ataques, com um guarda-chuva em mãos, falando do Museu Nacional e da UFRJ. O decreto do MEC para policiar sites e perseguir pais e professores vai na mesma direção. No caso das instituições federais de ensino e em algumas estaduais, a asfixia econômica é cada vez maior, faltando condições básicas para honrar as dívidas, como o caso da UEMG, que amanheceu sem recursos para fechar o mês, no mesmo dia de ontem. 

O problema de Bolsonaro é que a situação política e econômica segue sendo arrastada para um impasse. Diante da ofensiva do movimento estudantil, com suas respostas insuficientes, o governo teve que lidar com a divulgação das contas trimestrais oficiais, que apontaram queda de 0,2% na atividade econômica, reduzindo a “confiança” dos mercados e abrindo as portas para uma nova recessão, como já especula abertamente a imprensa econômica.

Há um problema orçamentário grave, que ameaça, já no mês de junho, o pagamento do benefício de prestação continuada a idosos pobres e portadores de necessidades especiais, gernando uma contradição maior na Fazenda e colocando Mansueto e Guedes na berlinda. O governo, por sua vez, apela à entrega de estatais e de áreas do pré-sal como única saída para aumento de caixa imediato.

Não é possível ao governo superar o impasse, ainda que possa controlar um pouco mais a agenda, como promete com o pacto que deve resultar num documento comum a ser divulgado em 10 de junho. Não há resposta sobre os cortes e nenhuma promessa de negociação. Ao contrário, Bolsonaro segue em guerra contra as universidades e o povo. 

Dia 30 superou as travas dos que apostaram na desmobilização 

Uma polêmica que estabelecemos nos fóruns do movimento relacionou-se diretamente com a convocatória do 30 de maio, na sua centralidade e caráter. Duas linhas se testaram dentro do movimento de educação: por um lado, o chamado decidido para colocar todas as forças no dia 30, onde estávamos localizados – e, justiça seja feita, a UNE, a ANPG e a UBES apostaram com força; de outro, a maioria da CNTE, ligada à CUT/PT/ART, que atuou para desmontar o movimento do dia 30, sem chamar a paralisação. Tal linha teve eco nos setores rotineiros do movimento sindical, que com um discurso aparentemente combativo como “convocar o dia 14 como forma de unir a classe trabalhadora”, acabou ajudando a diminuir a importância do dia 30. 

O contágio disso se viu em sindicatos e discursos derrotistas que, antes mesmo do protesto, já o condenavam como pequeno, mostrando uma falta de confiança renitente na luta da juventude e da classe. 

Contra vento e chuva, em alguns lugares literalmente, o movimento impôs-se e, ao levantar novamente a faixa da defesa da educação, desmoralizou os adeptos do bolsonarismo, mostrando o fôlego do levante da educação, que segue vivo e em luta. 

Foi uma vitória dos que apostaram na luta e na auto-organização. Os próximos capítulos devem ser muito bem pensados, para seguir estimulando a mobilização, evitando a dispersão de energias, com ações criativas nas universidades que consigam seguir ganhando a maioria do povo para a defesa da educação, da ciência e do futuro. A combinação dessa campanha em movimento deve ser conduzida por meio de uma agenda centralizada, com a greve geral do dia 14 de junho e o “cerco a Brasília” no dia 12 de julho, numa marcha histórica da educação durante a realização do Congresso da UNE: esta é a chave da possibilidade de dobrar o governo. Mobilizar até vencer é nossa palavra-de-ordem. 

Na luta que a gente se encontra! Construir pela base a greve geral do dia 14 de junho! Rumo à caravana nacional da educação em Brasília! 

Nossas colunas de ontem – nas quais nos agrupamos com setores independentes, como Juntos e apoiando a Rede Emancipa – estiveram com suas bandeiras erguidas de norte a sul do país. Nossos militantes estavam ao lado do movimento estudantil, das forças políticas que ocupavam as ruas, contribuindo com a auto-organização, a defesa das entidades e apostando na necessidade de uma política combativa e democrática para seguir nas ruas e arrastar a comunidade educativa para uma luta de maioria. Estamos orgulhosos desse combate e estamos nos sentindo fortes para seguir. Estivemos nas principais concentrações com destaque, com baterias e alegorias – superiores às do dia 15 como formato organizativo. Queremos discutir com o ativismo os próximos passos. 

O primeiro é seguir mobilizando a comunidade educativa, sem dispersar a energia intensa que se libera, unindo estudantes, professores, técnicos, pesquisadores, pais e mães, para pensar coletivamente o calendário. Isso passa por plenárias unificadas, caminhadas noturnas, atividades culturais, mobilizações nas cidades, envolver artistas… Uma verdadeira campanha-movimento que siga nas ruas contra os cortes. 

Assim, precisamos discutir como organizar a greve geral. Apesar de uma parte da vanguarda já estar convencida dela, é preciso passar à construção entre setores estratégicos, garantindo a paralisação no transporte e nos setores-chave da indústria. Para tanto, deve-se discutir como articular a luta contra os cortes e a luta contra a reforma da previdência: como já vínhamos alertando o movimento, o 30 não enfraqueceria o dia 14; ao contrário, a sorte de uma greve geral com dificuldades de ser construída – seja pelo ânimo ainda incipiente da classe, seja pela paralisia das burocracias – estava vinculada à capacidade da educação seguir nas ruas. A discussão da organização pela base é decisiva nesse caso. E o envolvimento do conjunto de setores, como o movimento sindical, o movimento camponês, a ala progressiva das igrejas e os sem-teto.

Precisamos exigir das centrais sindicais que têm mais peso na classe trabalhadora que não façam uma paralisação nacional protocolar. O centro do protagonalismo não está no movimento estudantil. Assim, embora o dia 30 tenha impulsionado e dado força para a greve, não a garante em si mesmo. O papel das direções tradicionais é maior. O que vimos em 30 de Junho de 2017 foi um desmonte daquela greve, que estava na esteira de um acúmulo de lutas importante. A onda da educação não garante por si mesma a força da greve geral. As direções sindicais precisam cumprir com suas responsabilidades. 

Como tarefa política, combina-se o enfrentamento ao governo como um todo. É preciso ficarmos atentos e fortes para qualquer provocação ou avanço sobre direitos democráticos e liberdades associativas. É possível derrotar Bolsonaro e Guedes.  
O levante da educação segue vivo. Weintraub não reconhece o movimento e não quer diálogo. Não se pode tergiversar: o conjunto do movimento deve pedir sua saída imediata do ministério em conjunto com a reversão dos cortes. Também é preciso exigir o fim do teto de gastos para que as universidades e institutos federais consigam chegar funcionando até o final do ano. Colocar o ministro Weintraub para fora, como uma forma da agitação unifcada por todo o movimento, é um passo para derrotar o governo e reverter os cortes que ameaçam a educação brasileira. O congresso da UNE deve ser o palco privilegiado para uma grande manifestação em Brasília no começo de julho. Deve ser o encontro de todas as lutas. 

Nossas bandeiras estão em pé. Dia 30 foi maior.


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Pedro Micussi