Sem Reforma Agrária, Pará continua sendo palco de assassinatos no campo
Max Costa denuncia o assassinato de Carlos Cabral, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Rio Maria (Pará).
No dia em que o assassinato do deputado estadual Paulo Fonteles completou 32 anos, o Estado do Pará, na Amazônia brasileira, foi palco de um novo crime com características de pistolagem. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) do município de Rio Maria, Carlos Cabral Pereira, foi executado com pelo menos 4 tiros na tarde deste dia 11 de maio, nas proximidades de sua residência.
O assassinato do dirigente sindical foi mais um na extensa lista de crimes ocorridos no município de Rio Maria, localizado no sul do Pará, uma região marcada por mortes encomendadas pelo latifúndio. O próprio Carlos Cabral já havia denunciado, em janeiro de 2013, ameaças de morte que vinha sofrendo. Mas o Estado não deu a proteção necessária ao sindicalista.
Marcado por conflitos agrários, Rio Maria já foi palco também de outros crimes que vitimaram pessoas próximas a Carlos Cabral. Em 1985, após quase vencer a eleição para Prefeitura da cidade, o ex-sogro e então presidente do STR de Rio Maria, João Canuto, foi executado com 12 tiros a mando de fazendeiros e do então prefeito Adilson Laranjeira.
Na época, o crime gerou comoção mundial, mobilizando diversos organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. Mas a repercussão do caso não intimidou os latifundiários do território paraense e, cinco anos depois, dois filhos de João Canuto e ex-cunhados de Carlos Cabral – José e Paulo Canuto – foram assassinados em uma chacina que voltou a chocar o mundo todo. Eles foram sequestrados de sua residência – juntamente com o irmão Orlando Canuto que sobreviveu à Chacina –, e foram exterminados em um crime que teve participação direta de policiais militares.
No Pará, a prática de pistolagem no campo segue comum em pleno século XXI. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), existem 82 áreas em conflitos agrários no Estado. Somente em 2018, 660 famílias foram expulsas de suas terras, enquanto fazendeiros seguem grilando áreas, violentando trabalhadores rurais e impondo o medo, protegidos pela impunidade que reina no campo.
Sem Reforma Agrária ou qualquer ação dos governos federal e estadual que possam reduzir o clima de tensão, os conflitos muitas vezes se materializam em assassinatos, o que faz do Pará o Estado campeão de mortes no campo no Brasil. Em 2018, dos 28 homicídios identificados pela CPT em todo o país, 16 ocorreram em território paraense. No ano anterior, o Estado já havia registrado a maior incidência de mortes no campo, com 22 assassinatos em um total de 71 ocorridos no Brasil.
Isso é um reflexo das políticas adotadas pelos diferentes governos que passaram pelo Pará, que sempre apostaram em um modelo de desenvolvimento agroexportador ou na instalação de grandes projetos minerários, que apenas expropriam as riquezas de nossas terras, deixando buracos e miséria para a população ou expulsando os povos originários de seus territórios.
O crime cometido contra mais uma liderança camponesa ocorre justamente em um período em que o governo Helder aposta no ostensivo policial, com a presença da Força Nacional de Segurança, ao mesmo tempo em que promove ações pontuais midiáticas denominadas de territórios de pacificação, que não leva qualquer pacificação para quem luta por Reforma Agrária, ou para a juventude negra que continua sendo exterminada nas periferias dos grandes centros urbanos.
Só haverá pacificação no território paraense, quando os diferentes governos resolverem enfrentar e contrariar os interesses do latifúndio e das mineradoras. A prisão de executores e mandantes do assassinato de Carlos Cabral é o primeiro passo e uma necessidade imediata, para que os trabalhadores do campo tenham garantida a posse de suas terras, para plantar e colher, garantindo a sustentabilidade da região amazônica.