Uma grande marcha a Brasília pela educação em 12 de julho

Em 12 de julho, a juventude ocupará Brasília em defesa da educação e dos direitos do povo brasileiro.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 24 jun 2019, 18:31

Prestes a completar seis meses de mandato, Bolsonaro remodela sua equipe política e busca radicalizar o discurso de guerra social contra o povo. O governo está redobrando sua aposta: radicaliza sua homofobia, o ataque às liberdades democráticas e os planos de vender rapidamente boa parte das empresas estatais. 

Ainda sob o impacto das revelações de The Intercept, que colocam em suspeição inclusive o processo eleitoral, Bolsonaro promoveu trocas nos ministérios e tornou Moro, até então fonte de apoio externo e virtual concorrente em 2022, dependente de seus favores.

A Folha de S. Paulo anunciou, no último domingo, ter estabelecido uma parceria com a equipe de Glenn Greenwald para trabalhar sobre os arquivos com as conversas entre membros da força-tarefa da Lava Jato e Sérgio Moro, entre outros agentes. Além disso, o jornal mostrou novos diálogos que comprovam a articulação de Moro com o Ministério Público para ajustar o tempo de envio de denúncias para o STF, além de reafirmar a estreita parceria entre o ex-juiz e Dallagnol.

A recessão está chegando

Enquanto segue o suspense a respeito das novas revelações da Lava Jato, a percepção de degradação da situação economia segue. Pela décima sétima vez consecutiva, o boletim Focus, do Banco Central, baixou a estimativa de crescimento econômico de 0,93% para 0,87%. Ao mesmo tempo, a divulgação do relatório da reforma da previdência mostrou a tentativa de Rodrigo Maia e do relator Samuel Moreira de tomar o protagonismo da condução dos trabalhos, levando a declarações duras de Paulo Guedes em reação.

Sem apontar qualquer saída para a crise e para o alto desemprego, Bolsonaro busca fortalecer-se, promovendo demissões no governo. O general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, há meses atacado por Olavo de Carvalho e por setores mais extremados do bolsonarismo, foi substituído pelo general Luiz Eduardo Ramos. Da ativa, Ramos comandava, até então, o importante Comando Militar do Sudeste. Santos Cruz, por sua vez, saiu atirando: em entrevista à revista Época, afirmou que o governo é um “show de besteiras”. Bolsonaro retirou a articulação política de Onyx Lorenzoni e a colocou sob responsabilidade da Secretaria-Geral da Presidência. Do comando desta, foi retirado o general Floriano Peixoto e indicado um desconhecido policial militar da reserva do DF para o cargo. Trata-se de Jorge Francisco, amigo de longa data da família presidencial e antigo assessor parlamentar de Bolsonaro. Floriano Peixoto, por sua vez, foi colocado na presidência dos Correios, de onde foi demitido outro general, Juarez Cunha, por ter agido, segundo Bolsonaro, “como sindicalista” no comando da estatal. Segundo a imprensa, Cunha vinha apresentando diferenças com relação ao plano de venda imediata dos Correios, obsessão de Paulo Guedes.

Na série de mudanças, também foi demitido Joaquim Levy. O ex-ministro da Fazenda de Dilma, protagonista do “estelionato eleitoral” da ex-presidenta, Levy foi atacado por Bolsonaro e substituído pelo economista Gustavo Montezano, economista e ex-sócio do Banco Pactual, que até então atuava na equipe do privatista Salim Mattar. De referências desconhecidas, Montezano foi condenado a pagar indenização por arrombar portões do condomínio em que morava numa ruidosa festa de aniversário, em 2015, da qual participou Eduardo Bolsonaro. A demissão de Levy gerou reações duras de Rodrigo Maia e de agentes do mercado financeiro, onde já começam a aparecer os primeiros ruídos sobre a gestão de Guedes.

Enquanto Bolsonaro busca cercar-se de auxiliares mais próximos em meio à crise política e ao pântano econômico, o movimento social saiu da jornada do dia 14 de junho com a necessidade de concretizar um plano de lutas que dê continuidade à mobilização contra a reforma da previdência e em defesa da educação.

Uma cruzada reacionária em várias frentes

O governo prepara uma série de ataques imediatos, acompanhando a aprovação de sua proposta de reforma da previdência. Sob comando de Maia e Samuel Moreira, a comissão especial votou um relatório que significou algumas mudanças parciais na proposta de Guedes – sobretudo, a retirada da proposta de capitalização, que deve voltar em projeto à parte no segundo semestre. No entanto, ataques como o aumento da idade mínima e o fim da aposentadoria por tempo de contribuição seguem, colocando em risco o direito à aposentadoria de milhões de trabalhadores sujeitos ao desemprego e à informalidade ao logo de sua trajetória laboral.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro articula mais um ataque. Por decreto, o governo estabelece a possibilidade de 78 categorias trabalharem aos domingos e feriados. Após derrota no Congresso, Bolsonaro editou nova MP tentando, uma vez mais, passar ao Ministério da Agricultura a demarcação de terras, responsabilizando pela função o reacionário Nabhan Garcia, dirigente da UDR. As privatizações, por sua vez, seguem sendo planejadas. A bola da vez é a ECT (Correios). Ao mesmo tempo, o descontentamento do bolsonarismo com as revelações do The Intercept tem trazido à tona, no esgoto bolsonarista na internet, propostas contra os direitos democráticos e ameaças homofóbicas contra Glenn Greenwlad, David Miranda e seus familiares.

A educação está encabeçando a resistência: todos a Brasília construir a marcha de 12 de julho!

Nas últimas semanas, a luta em defesa da educação moveu centenas de milhares nas cidades brasileiras. As manifestações de 15 e 30 de maio representaram a primeira grande demonstração nacional, em centenas de cidades, contra o governo Bolsonaro e seus ataques ao povo brasileiro. Sua força fez-se sentir, impulsionando a jornada de 14 de junho. Essa luta ainda não se encerrou. Por um lado, a força da mobilização levou o Congresso, nas negociações da votação da “regra de ouro”, a recompor R$ 1 bilhão dos recursos retirados da educação. Trata-se, contudo, de uma pequena parte dos recursos cortados por Bolsonaro e Weintraub. No STF, por sua vez, tramitam ações demandando a devolução dos recursos cortados. Ao mesmo tempo, o governo organiza mais ataques à autonomia universitária, desrespeitando a decisão das comunidades acadêmicas na definição das listas para escolha de reitores. Por tudo isso, a pressão e a luta precisam seguir.

Está sendo organizada pelo movimento estudantil, seus coletivos e entidades, no dia 12 de julho, uma marcha pela educação em Brasília, como parte das atividades do Congresso da UNE, que se reunirá de 10 a 14 de julho na capital. Será uma oportunidade de reunir dezenas de milhares de jovens e estudantes – que têm sido a vanguarda da defesa dos direitos do povo brasileiro – numa forte marcha para colocar o governo contra a parede, defendendo a educação, a ciência e a tecnologia nacionais.

A esquerda deve estar com a juventude em Brasília. De nossa parte, com a intervenção dos jovens do Juntos, em conjunto com diversos coletivos juvenis, o ANDES e os sindicatos de educadores e trabalhadores da educação, a militância da educação popular de todo o país, como a Rede Emancipa, vamos contribuir para que o 12 de julho seja mais um capítulo da luta pela educação, vocalizando a luta do povo por seus direitos.


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