Em seis meses de Bolsonaro, já se ouvem as vaias da torcida
A busca pela aprovação da reforma da previdência e as dificuldades de Bolsonaro após 6 meses de governo.
Bolsonaro concluiu seis meses de governo numa encruzilhada. Por um lado, o principal projeto de seu plano de ajuste, a reforma da previdência, foi aprovado na Comissão Especial da Câmara com promessas de rápida votação no plenário. Por outro, seu capital político derrete, como resultado da exposição diária de seu despreparo e da busca permanente pela polarização.
A mais recente pesquisa de avaliação do governo indica lenta queda nos índices de popularidade, praticamente dividindo em três a opinião pública: um terço enxerga-o como ruim ou péssimo; um terço como ótimo ou bom; e o terço final ainda oscila, avaliando o governo como regular. Apesar de ser a mais alta reprovação para um presidente eleito em primeiro mandato nos seus seis meses iniciais, Bolsonaro busca seguir mobilizando, com cada vez mais ousadia, sua “tropa de apoio”. Os atos de 30 de junho foram menores do que os anteriores e tiveram, como fato marcante, o confronto físico entre MBL e setores mais radicais de direita, além de demonstrar também a disposição do bolsonarismo de “polarizar até o fim”.
A aprovação da reforma, que precisa ser votada em plenário esta semana sob pena de ficar para depois do recesso, é o grande teste de unidade da burguesia. Por isso, atuam setores muito além do governo. A unidade entre Guedes, Maia e a grande imprensa para aprovar logo o relatório traz contradições, como as vistas nos protestos dos setores da segurança pública e o jogo de “empurra” sobre a responsabilidade de estados e municípios.
A repercussão das novas revelações do The Intercept, agora em parceria com a Folha de S. Paulo e com a Veja, deve trazer mais instabilidade política para o governo. Nos próximos dias, também deve trazer mais pressão para Bolsonaro a marcha da juventude em defesa da educação no dia 12 de julho, em Brasília, no bojo do congresso da União Nacional dos Estudantes.
Uma euforia fugaz
A aprovação na Comissão Especial, por 36 votos a 13, do relatório de Samuel Moreira foi recebida com euforia pelo “mercado”. O dólar caiu e o índice da bolsa bateu recorde. Num evento em São Paulo, Moro e o governo celebraram com especuladores e empresários, aplaudindo de pé a aprovação. Guedes, por sua vez, já anunciou novas reformas como a tributária e a federativa. Ou seja, a euforia tomou conta do setor ultraliberal do andar de cima. Os festejos foram regados por promessas de crescimento embutidas no lesivo acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.
No entanto, uma visão mais global demonstra a necessidade de cautela. A operação de Maia e do “centrão” para aprovar a toque de caixa a reforma no plenário (é necessário aprovar em dois turnos na Câmara e no Senado) pode até dar certo, mas as dificuldades para o governo não param por aí. Ou seja, vamos a um quadro onde se anuncia uma derrota para a resistência e o movimento de trabalhadores, ao mesmo tempo em que o governo não consegue superar a sua crise, inclusive podendo aprofundá-la.
Não há nenhuma garantia de recuperação econômica, muito pelo contrário, como os cínicos economistas neoliberais já admitem. A economia real só vai piorar, como as previsões para o ano demonstram. Os seis meses de governo Bolsonaro foram de constantes revisões para baixo da projeção do crescimento do PIB. O desemprego não cede, os índices de consumo caem e o endividamento não para de aumentar. A não inclusão dos estados no texto final do relatório vai levar a tensão para o colo dos governadores que vão se desgastar em choques contra o funcionalismo estadual.
A crise social é evidente. Tragédias diárias de pequenas e grandes proporções frequentam as páginas dos jornais. Um empresário falido, em gesto de desespero, cometeu suicídio na frente do ministro de Minas e Energias e do governador do Sergipe. Foram registradas mortes por frio em estados como o Rio Grande do Sul e São Paulo, uma vergonhosa situação para nosso país. Por tudo isso, ninguém arrisca dizer por quanto tempo será mantida a euforia que o mercado e seus agentes exibiram na semana passada.
Um governo que vai de mal a pior
Enquanto aguarda a espera da aprovação da reforma, o governo enfrenta suas crises internas permanentes. Rapidamente, o que era o prometido “ministério técnico” de Bolsonaro revelou-se um conjunto de incompetentes, estúpidos ou demissionários. Os principais ministros são alvos de descrédito e cobranças da imprensa e agora até mesmo de parcelas da burguesia e de líderes do “centrão”. O esquema dos “laranjas” em Minas Gerais e em Pernambuco segue expondo o único ministro do PSL no governo, Marcelo Álvaro Antônio, e o presidente do partido Luciano Bivar. Já Onyx Lorenzoni, de coordenador do governo e principal articulador político, passou a ser visto como quase demissionário.
Por sua vez, Augusto Heleno, tido como fiador do bolsonarismo nas Forças Armadas, já é alvo de ataques na internet comandados por Carlos Bolsonaro. Após a demissão de três generais e as duras críticas de organizações de policiais por conta da reforma da previdência começam a mostrar fissuras no apoio ao governo entre militares e forças de segurança.
No plano externo, o acordo entre Mercosul e União Europeia – assinado pelo governo Macri na lona, em busca de alguma vitrine eleitoral, e pelo governo entreguista e ultraliberal de Bolsonaro – ameaça a produção industrial e empregos no Brasil e traz benefícios ao agronegócio. A comemoração do ruralismo, no entanto, foi rapidamente seguida pelo desprestígio internacional trazido pela exposição do aumento dos índices de desmatamento e do uso crescente de agrotóxicos no Brasil. Há uma crítica internacional crescente à política – de destruição – ambiental de Bolsonaro.
Sergio Moro, ao mesmo tempo, de superministro que emprestava apoio a Bolsonaro está cada vez mais dependente da extrema-direita para sustentar-se em seu cargo, diante as novas revelações da Veja e da Folha, que expuseram novos episódios de sua atuação marcadamente partidária e parcial.
Resistir é preciso e possível
Diante desse cenário, é possível manter a pressão contra o governo, como fizeram os setores policiais e os professores. O próximo capítulo da luta é aderir e engrossar a grande marcha da educação em 12 de julho, num dos maiores congressos da história da UNE. A luta em defesa da educação e contra os cortes deve continuar, diante das novas ameaças de Bolsonaro em redes sociais nesta semana.
Ao mesmo tempo, é preciso apontar a continuidade desta mobilização. As entidades da educação já começam a articular um importante calendário de lutas em agosto. De nossa parte, estaremos empenhados em seguir construindo esta luta.