Arquivo 29 de agosto: Dia da Visibilidade Lésbica
É preciso fazer o exercício contínuo de contar a história dessa parcela da população.
A história como nos é contada é asséptica. Sem cor, sem gênero, sem povo. Somos fruto de toda a história da humanidade, especialmente a história da luta de classes. O que me faz lembrar de Eduardo Galeano, parafraseando um provérbio africano que diz: “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador.” E no dia de hoje, em que marcamos o Dia da Visibilidade Lésbica, temos de ter o exercício contínuo de contar a nossa própria história e pincelá-la com todas as cores e dores que nos fazem ser quem somos hoje nesta sociedade.
Nossas dores não têm números. Somos várias, mortas e violentadas por sermos quem somos e assumirmos ao mundo nossa sexualidade e afetividade. Em estudo inédito do Grupo de Estudo Lesbocídio, somente entre 2014 e 2017 foram registradas 126 mortes. Esses dados são obtidos por redes sociais, sites, jornais e noticiários. Aliada a isso, a falta de saúde pública específica nos faz contrair doenças sexualmente transmissíveis pelo simples fato de não sermos um público relevante aos laboratórios e farmacêuticos.
Nossas cores são manchadas pela invisibilidade constante – seja no meio social, seja no meio político. Somos poucas nas casas legislativas, sendo que na maior delas, a Câmara Federal, não temos representação. O preconceito e a discriminação contra a existência lésbica causa consequências irremediáveis, levando de nós referências como Marielle Franco.
Ainda assim, persistimos. A lesbofobia, assim como todas as fobias de gênero e sexualidade, é parte de uma ideologia dominante, calcada no patriarcado, em ter repulsa pelo feminino, julgando assim necessária a presença masculina em todo e qualquer relacionamento. Ao negar o feminino, tentam negar e esconder a nossa história.
O amor entre duas mulheres, sejam elas cisgêneras ou transgêneras, continua sendo símbolo de resistência. Lembremo-nos das mulheres que subverteram a ordem, em meio a ditadura civil-militar brasileira, para vender o seu jornal “Chanacomchana” no bar Ferros em SP. Lembremo-nos daquelas mulheres que em 1996 fizeram pela primeira vez um Seminário Nacional de Lésbicas. Lembremos, pois, neste cenário regressivo político nacional, que o amor é subversivo. O governo Bolsonaro que censura filmes com temáticas LGBTs, proibindo o patrocínio pela Ancine a produções com essa temática, tenta mais uma vez violar os direitos e a visibilidade conquistada nos últimos anos.
Por isso, um recado: não seremos nós a geração de sapatões que voltará para os armários.