O falso nacionalismo de Bolsonaro e o 7 de setembro

Precisamos derrotar Bolsonaro e romper a subordinação ao imperalismo e aos grandes rentistas do mundo da finança internacional.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 6 set 2019, 21:09

Bolsonaro conclamou os brasileiros a vestirem verde e amarelo na data pátria, 7 de setembro. Aproveita, assim, de forma oportunista, das celebrações cívicas para reforçar seu falso discurso patriótico. Tal discurso orienta parte da sua linha em colaboração com setores do exército, para disfarçar a entrega por completo da soberania nacional.

No episódio da crise ambiental, para buscar eludir a tragédia amazônica, Bolsonaro buscou apoiar-se num discurso de que as potências estrangeiras seriam uma ameaça ao nosso país. Este foi o tema em que Boslonaro e Ernesto Araujo insistiram diante da indignação mundial que se produziu contra o governo brasileiro e em defesa da Floresta Amazônica.

Dois ataques somaram-se à agenda do bolsonarismo: o anúncio do plano de militarização das escolas e o ataque absurdo contra a memória de pai de Bachelet e exaltação a Pinochet (contra a qual houve reação expressiva dos diferentes setores políticos chilenos, gerando deterioração acelerada da imagem internacional do Brasil). 

A popularidade de Bolsonaro caiu: o governo perde apoio nos setores populares, mas luta para coesionar um parcela que apoia seu programa mais duro. Buscando reavivar seus apoiadores nesse 7 de setembro, para animar e moralizar a extrema-direita, precisamos responder. Apostamos na mobilização e na convocatória para esse dia de luto. É preciso chegar nas camadas mais amplas do povo, disputando inclusive os símbolos nacionais, como a bandeira brasileira.

A guerra é contra o povo e o Brasil

Bolsonaro quer fazer do Brasil uma colônia de novo tipo. Nessa semana, segue se consumando, depois da votação nas comissões, a entrega, para o imperialismo, da base de Alcântara no Maranhão. Essa vergonhosa cessão do patrimônio nacional – diga-se, com a cumplicidade de setores da oposição – é um salto na relação de dependência e subordinação do país em relação ao imperialismo ianque. Anteriormente foi entregue uma “joia nacional”, a Embraer, num negócio em que a lucrativa linha de jatos comerciais foi vendida por um preço muito abaixo do real para a Boeing – um golpe duríssimo contra a indústria nacional.

Já são 400 empresas nacionais que passaram para as mãos do capital estrangeiro nos últimos dez meses. Na alça de mira do “capitão”, agora, está a entrega global da maior empresa brasileira, a Petrobrás. A linha de privatizações é o centro da política de Guedes parao segundo semestre: pretende-se vender os Correios e a Eletrobrás – abrindo mão de toda gestão e transmissão de eletricidade do país. Um verdadeiro desastre.

A entrega da soberania para o imperialismo envolve a cobertura de Trump para o governo Bolsonaro, em conjunto com o sionismo, num momento em que o isolamento do Brasil é histórico. Às vésperas da Assembleia Geral da ONU, o país passa pela humilhação de ver Bolsonaro querendo impor a indicação de seu filho para embaixador do Brasil em Washington. 

A concessão da ampliação da cota de importação de etanol dos Estados Unidos foi comemorada – sem a taxação de 20%, algo que desmoraliza a indústria sucroalcooleira nacional – por Trump no twitter.

Combinados com os ataques globais de Bolsonaro – a derrocada da ciência nacional está gerando a fuga de cérebros em massa, destruindo a pesquisa nacional -, o verdadeiro inimigo da extrema-direita é o povo brasileiro. A situação econômica das maiorias sociais vai de mal a pior. Tal investida contra direitos e salários deve ser respondida com a perspectiva de uma grande luta popular num cenário explosivo de polarização.

É preciso dizer basta ao plano de Bolsonaro! Por uma verdadeira independência!

A crise da Amazônia abriu novos flancos contra o governo. Depois de recuperar sua ofensiva na aprovação da reforma da previdência, cresceu o questionamento ao governo e suas quatro grandes marcas: um governo autoritário, antipovo e em prol das elites rentistas; entreguista e organizador da destruição da natureza e dos recursos naturais.

A sustentação que setores da burguesia mantêm pela via das medidas econômicas, especialmente o agronegócio e os bancos, gera contradições em temas democráticos. O último episódio foi a nomeação do novo Procurador-Geral da República, em discordância com a lista tríplice, com o nome de Augusto Aras.

Os ataques precisam ser respondidos. A juventude está na linha de frente, mas setores importantes saem para lutar por seus direitos como os rodoviários da maior cidade do país em sua recente greve de 24 horas. Ainda é insuficiente para reverter o conjunto dos ataques, mas é um caminho a ser seguido. É preciso dizer basta ao plano autoritário de Bolsonaro e de seu governo, com figuras como Ricardo Salles e Paulo Guedes.

Para derrotar Bolsonaro e defender os interesses nacionais, é preciso unir as categorias e as lutas: os trabalhadores estatais, como os petroleiros, devem unir a campanha salarial à luta contra as privatizações. Os estudantes e pesquisadores, por sua vez, devem unir à defesa da ciência e da própria educação ao chamado da greve internacional climática no próximo dia 20 de setembro.

Apenas assim, unindo e politizando as lutas, respondendo globalmente ao projeto de Bolsonaro, podemos aspirar ganhar a maioria social. Para defender nossa soberania, a começar pelo nosso maior bem, a Amazônia, nossas empresas estatais e nossos direitos conquistados a duras penas.

Precisamos derrotar Bolsonaro e romper a subordinação ao imperalismo e aos grandes rentistas do mundo da finança internacional. Esse é o único caminho para uma verdadeira independência!


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