Lute como um/a brasileira/o

É o momento das oposições convocarem um plano de lutas, chamando o povo à mobilização para a defesa de seus direitos e para enfrentar o apodrecido governo Bolsonaro.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 25 out 2019, 15:16

O assunto mais comentado nas redes sociais é a nova onda de rebeliões que toma forma no mundo. Impossível ligar o noticiário, na TV aberta ou fechada, e não assistir às cenas recorrentes: multidões nas ruas, repressão policial, enfrentamentos violentos, e muita, muita indignação. O ponto mais alto até agora são as jornadas chilenas, movendo centenas de milhares em todo país, com quase duas dezenas de mortes e uma greve geral de 48 horas. Poderíamos falar também da rebelião catalã, contra a sentença aos presos políticos que lutam por independência. Ou do Haiti, onde já duram quase dois meses os protestos. Poderíamos citar o Equador, que teve um triunfo popular contra o ajuste do FMI. A longa lista ainda tem Líbano, Iraque, Costa Rica, Panamá e outros países, que, com maior ou menor grau de acirramento social, se colocam em movimento.

Nosso lugar como internacionalistas que somos é apoiar de forma decidida os processo de luta do mundo. Enviamos militantes e dirigentes para acompanhar de perto todas essas lutas. Estivemos envolvidos na solidariedade de atos de rua. Nosso partido emitiu comunicados e notas a respeito. Nossos parlamentares utilizaram a tribuna para denunciar a repressão e nós nos solidarizamos com as lutas dos povos. Na América do Sul, nesse momento, joga-se no Chile o futuro imediato da relação de forças. A direita e a extrema-direita, por sua vez, estão colhendo derrotas políticas e eleitorais. Os aliados de Bolsonaro acabam de perder a eleição na Bolívia, devem amargar a derrota de Macri na Argentina e começam a perder força no Uruguai (onde a eleição deve ser decidida em dois turnos). O pêndulo da luta de classes apenas começa a se mover.

As lutas na América Latina mostram o esgotamento das políticas de ajuste ditadas pelo FMI, a insatisfação com o ataque permanente aos direitos do povo e com governos que são marionetes nas mãos do capital transnacional e das minúsculas elites do 1% que controla a riqueza. No Brasil de Bolsonaro, a situação não é diferente. Muitos ativistas têm-se perguntado diante da difusão das imagens das lutas internacionais: o que fazer por aqui? Ainda não há a mesma dinâmica de luta, apesar de nos deparamos com a aprovação definitiva, pelo Senado, da reforma da previdência, celebrada pelos jornais e banqueiros. Está claro, no entanto, que há um mal social crescente e uma indignação latente e represada. A última palavra ainda não foi dada.

Uma onda de lutas pelo mundo

O ano de 2019 já está marcado por uma onda impressionante de lutas. Após a onda de 2011 a 2013, já podemos falar que estamos num novo momento de rebeliões sociais no mundo. O primeiro semestre foi marcado pelas lutas na Argélia, Sudão, Hong Kong e Porto Rico. Num cenário instável, no qual ninguém pode afirmar qual será o futuro da economia global e de suas perspectivas de crise, seja pelas tendências pessimistas que anunciam estagnação, seja pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, novos conflitos espalham-se pelas ruas de todo o mundo, além das crises políticas intensas em diversos países. Nas últimas semanas, assistimos à irrupção das lutas em países como o Equador, Chile, Catalunha, Haiti, Honduras, Iraque e Líbano.

No caso latino-americano, após o triunfo da CONAIE no Equador, derrotando o decreto 883 de Lenín Moreno, agora é a vez do Chile comover o mundo, com um povo em pé, enfrentando corajosamente o estado de emergência e o toque de recolher do governo Piñera. É sintomático que esta intensa jornada de mobilizações do povo chileno questione justamente a vitrine neoliberal que inspira os ataques de Bolsonaro e Guedes ao povo brasileiro.

Não faltam motivos para lutar no Brasil

Nesta semana, terminou a votação da reforma da previdência no Senado e foi aprovado mais um grande ataque contra o povo brasileiro. Em meio ao caos na base de apoio ao governo Bolsonaro, envolvida numa luta por fartos recursos do fundo eleitoral e denúncias mútuas de fraude, difusão de fake news, “rachadinhas” e laranjas, a burguesia segue unida e celebrando, por meio de seus jornais e analistas, a ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e do povo. A crise ganhou novos capítulos com o reaparecimento de Queiroz, num áudio divulgado pelo jornal “O Globo”, oferecendo empregos com remuneração de “20 continhos” por mês a indicados pelos filhos de Bolsonaro no Congresso. Já a revista “Isto É” denuncia o uso de recursos públicos do fundo partidário do PSL para pagar a vida de luxos de Eduardo Bolsonaro, incluindo sua viagem de lua de mel.

Ao mesmo tempo, a gigantesca mancha de toneladas de óleo cru segue levando destruição ao litoral do Nordeste, ampliando a crise ambiental no país. Salles e Bolsonaro, por sua vez, deixam o desastre ampliar-se, inventando em rede nacional conspirações sobre “óleo venezuelano” e navios do Greenpeace, enquanto o valente povo nordestino se une para limpar com as mãos o petróleo que destrói praias, manguezais e a foz de importantes rios da região.

Após as importantes marchas pela educação ao longo de 2019, diversos conflitos seguem desenvolvendo-se no Brasil, como a greve dos petroleiros e mobilizações locais do funcionalismo. A estas lutas parciais, no entanto, ainda falta um sentido geral e uma coordenação.

Defender uma ação coordenada contra Bolsonaro e um programa de emergência

É o momento das oposições convocarem um plano de lutas, chamando o povo à mobilização para a defesa de seus direitos e para enfrentar o apodrecido governo Bolsonaro. Este plano deve estar orientado por um programa de emergência, que combata o desemprego e a deterioração do nível de vida do povo, mostrando que é possível apontar soluções para os problemas do país fazendo os milionários e bilionários pagarem a conta. É preciso defender a taxação das grandes fortunas, dos lucros, rendas e o fim dos privilégios dos bilionários. Não é possível aceitar a discussão de mais uma reforma tributária que siga concentrando renda e arrancando dinheiro do povo para entregar aos bilionários na forma de desonerações e benefícios.

É preciso combater a agenda de destruição do governo, que agora fala em “reforma administrativa” e “gatilhos orçamentários” para atacar salários e direitos do funcionalismo público, contribuindo para a destruição e privatização de serviços essenciais.

É hora de dizer claramente que o povo brasileiro não aceita o autoritarismo do governo, o entreguismo e a subserviência a Trump, a corrupção de laranjas e “rachadinhas”, a destruição do meio ambiente, o obscurantismo reacionário, o ataque à cultura e à educação, a espoliação do país e do povo por rentistas e banqueiros. É hora de dizer: Fora Bolsonaro!


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