Contra o golpe na Bolívia e ao lado dos povos latino-americanos!
É fundamental a solidariedade com o povo boliviano em sua luta contra o golpe e o apoio às mobilizações em nosso continente.
Há dez dias, em 13 de novembro, após uma escalada reacionária, a senadora Jeanine Añez assumiu o governo da Bolívia, consumando a primeira fase do golpe civil-militar organizado pelas elites do país em colaboração direta com o imperialismo. A conturbada contagem eleitoral gerou um clima de instabilidade, que agravou o desgaste de Evo Morales. Numa ação coordenada, com a liderança dos setores ultraconservadores da região de Santa Cruz de la Sierra, com Camacho à cabeça, a força golpista se impôs. Evo seguiu numa jornada incerta ao exílio no México. Os governos e dirigentes direitistas de vários países celebraram o fim da “experiência progressista” na Bolívia. A direita festejou o assalto.
No entanto, o que está se vendo nos dez dias que nos separam da fraudulenta “posse” de Añez, é uma heroica resistência popular dentro e fora da Bolívia. Todos os dias, multitudinárias marchas tomam conta de El Alto, La Paz e Cochabamba. Os bolivianos emigrados organizaram marchas enormes em São Paulo e Buenos Aires.
A repercussão do desenlace do caso boliviano terá repercussões sobre todo o continente. A polarização está aumentando. As rebeliões populares do Equador e Chile representaram um ponto de inflexão continental. A greve geral na Colômbia amplia o terreno da ação de centenas de milhares de ativistas que enfrentam o neoliberalismo, a repressão e as tentativas de fechamento dos regimes. A Bolívia é o coração dessa batalha.
Bolsonaro e seu lugar-tenente Ernesto Araújo atuaram, de forma aberta e também nos bastidores, para consolidar o golpe. Como os meios de comunicação bolivianos denunciaram, houve coordenação e troca de informações entre Camacho, a burguesia sojeira de Santa Cruz e emissários do governo brasileiro. Infelizmente, os jornais brasileiros não exploraram tais vínculos, cuja difusão seria fundamental para o público nacional.
O PSOL tem organizando uma campanha efetiva com ações parlamentares, posicionamentos públicos e unidade com a comunidade residente em São Paulo.
O caminho da polarização
A temperatura política subiu nos últimos meses. Por um lado, as massas não se conformam com o modelo neoliberal que busca arrancar conquistas da classe trabalhadora e das massas populares; por outro, está em curso uma disputa contra a repressão e os projetos direitistas, que crescentemente inclinam-se para a contrarrevolução. O lançamento do partido neofascista de Bolsonaro e a orientação de sua política externa totalmente atrelada a Trump e à extrema-direita internacional são sinais disso.
Na América Latina, há um contexto de lutas sociais e repúdio eleitoral (caso da Argentina), em que se destacamos levantes do Equador e do Chile; a impressionante luta no Haiti; e a greve geral na Colômbia. Não há volta atrás: a polarização e as lutas vão seguir conforme se agrava a crise e a orientação autoritária e neoliberal dos governos. Recentemente, grupos fascistas nacionais e membros da oposição venezuelana pró-ianque invadiram a embaixada da Venezuela em Brasília, buscando instalar seus representantes em mais um passo da campanha internacional para instalar no poder o “autoproclamado” Guaidó. Foram impedidos de tomar a embaixada pela ação direta de ativistas dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda e seus parlamentares. O PSOL, seus parlamentares combativos e a militância do partido no DF estiveram na linha de frente deste enfrentamento.
Por tudo isso, a luta na Bolívia é decisiva. É preciso apostar na mobilização pra derrotar o golpe, como mostram corajosamente as massas bolivianas, que ontem marchavam em La Paz contra a polícia e o Exército com os caixões de oito mortos pela repressão nos últimos dias. Também é um passo importante a greve mineira e a entrada em cena da classe trabalhadora organizada.
Um comunidade que se levanta
No último sábado, 16 de novembro, milhares de imigrantes bolivianos tomaram a Avenida Paulista, em São Paulo, para demonstrar com muita força seu repúdio ao golpe em curso no país. Também houve atos multitudinários de imigrantes bolivianos em Buenos Aires e Assunção.
A enorme e trabalhadora comunidade boliviana em São Paulo deu mostras de sua politização e disposição de luta, que certamente pode desenvolver-se em suas lutas por melhores condições de vida aqui no Brasil, país que ajudam a construir com seu suor e sua dedicação. É um dever dos socialistas defender os imigrantes e marchar lado a lado com eles em suas lutas. Nelas, estarão as bandeiras do PSOL.
As próximas horas e a esquerda
É fundamental a solidariedade com o povo boliviano em sua luta contra o golpe, além do apoio à mobilização em nosso continente dos trabalhadores, da juventude e das massas populares contra o neoliberalismo, o autoritarismo e os ataques da extrema-direita.
A luta na Bolívia, em particular, tem importância decisiva no desenlace dessa crise, em que se apresenta uma espécie de “pêndulo” entre as massas em luta e os ataques da extrema-direita continental a serviço do capital transnacional e das burguesias locais. Em nosso país, também é preciso tomar as ruas para defender as conquistas populares e derrotar Bolsonaro, Guedes e seu programa autoritário e neoliberal.