Novas sínteses para uma nova esquerda

Queremos avançar, dentro e fora do país, na composição com setores combativos para novas sínteses revolucionárias.

Israel Dutra 14 nov 2019, 13:20

Estamos celebrando nosso vigésimo aniversário. Nossa corrente política, fundadora e construtora do PSOL, comemora ao mesmo tempo em que busca armar uma orientação correta para enfrentar as turbulências da situação política. A realidade nacional e internacional é cheia de complexidade, com marcas de rebelião, polarização e a necessidade do enfrentamento à extrema-direita.

Para além da orientação de unidade de ação e aposta nas ruas como principal vetor de enfrentamento, colocamos a necessidade de construir uma nova esquerda. É preciso estar à altura dos acontecimentos. Diante de tamanhas movidas, a importância de buscar sínteses – políticas e organizativas – com quem tem uma compreensão comum dos eventos, é um imperativo.

Nos últimos anos, várias organizações ligadas ao marxismo revolucionário entraram em crise. Agrupamentos com sólida implantação na vanguarda tiveram rupturas e crises em várias partes do mundo. Mesmo organizações de tradição morenista começam a revisar a elaboração sobre o que chamamos de FUR (Frente Única Revolucionária), importante referencial para sustentar o reagrupamento entre diferentes organizações num sentido comum.

A luta por reagrupamento entre socialistas

A fundação do MES combinou-se com uma importante luta política e teórica com antigos camaradas que provinham da nossa mesma tradição. Entre 1999 e 2001, a organização internacional da qual éramos parte passou por uma discussão abrangente – da qual participou uma parte dos companheiros do Brasil que estavam na CST – sobre seus próprios marcos políticos e da estratégia. Além das polêmicas conjunturais sobre a guerra nos Bálcãs e as tarefas da política brasileira, algo mais profundo estava em discussão. Conceitos como “situação revolucionária mundial” e “frente contrarrevolucionária” eram revistos para apontar o fortalecimento de uma estratégia que marcaria as escolhas do MES: a hipótese do reagrupamento.

Essa questão determinou nossa localização como corrente e como construtora estratégica do próprio PSOL. Ao buscar a síntese como elemento central da construção política, sem deixar de lado a importância de um projeto leninista e internacionalista, pôde-se abrir um processo de maior experiência com grupos que não provinham da mesma cultura política.

Isso nos fez construir relações fraternas em que as sínteses não eram apenas de “fachada”. A incorporação/fusão com vários grupos, regionais e setoriais atuava para mudar, dialeticamente, a própria “alma” da corrente. Assim, saímos mais enriquecidos de cada uma dessas experiências.

Além da experiência fundacional com MSTB (agrupamento sindical combativo entre os trabalhadores em educação do RS), podemos citar a relação com o grupo de socialistas do Rio Grande do Norte, que, após batalhas dentro do PT, aderiu ao MES, com atuação entre trabalhadores da UFRN e protagonismo na FASUBRA; a CS, corrente transitória do Pará, com força no Movimento Estudantil da UFPA; o MTP do Rio de Janeiro, atuante em Niterói e região; o PRS de Pernambuco; o grupo ligado a Mário Agra em Alagoas; a experiência que fizemos com Poder Popular – MTL, que não pôde avançar como um todo, fruto de problemas teóricos e políticos que resultariam na própria desagregação desta organização nacionalmente, mas que nos uniu aos camaradas da regional São Paulo. Tal união foi fundamental para pensarmos num modelo de juventude mais ampla, a partir da experiência que realizavam no movimento juvenil e na expansão do projeto da Rede Emancipa como movimento social de educação popular.

Cada uma dessas experiências, com encontros e desencontros, foi nos fazendo mais diversos e enraizados. Sem a arrogância de uma única tradição teórica ou política, fomos avançando em acordos estratégicos, evitando cair no ecletismo e no dogmatismo.

Reagrupamento no plano internacional

Com relação à construção internacional, concretizamos também a linha do “reagrupamento”. A partir de uma equipe comum com os companheiros peruanos, buscamos novas sínteses. Tentamos junto ao MST argentino para, em seguida, concretizar uma importante unificação entre os setores quartistas. Desde 2012 participamos, na condição de observadores da IV (antigo SU), buscando uma confluência histórica entre as diferentes vertentes da IV: por um lado, nós, oriundos do morenismo; por outro, a corrente de tradição mandelista, que tinha rompido com sua principal seção, a DS brasileira, por conta da rendição da mesma ao governo social-liberal do PT.

Com o desenvolvimento da nossa relação, participamos do XVII Congresso da IV Internacional, já na condição de simpatizantes, e votamos em nossa VI Conferência Nacional do MES a luta para unificarmos os caminhos numa mesma publicação. Já os camaradas do MST preferiram seguir uma via própria. A partir das relações na IV, já estamos almejando chegar a novas sínteses. A relação especial com a ala internacionalista do DSA e com a CS chilena vai soldando uma interessante composição internacional para uma nova esquerda, socialista, libertária e radical.

Novas sínteses ao longo do caminho

Para além das fusões históricas, nos alegramos de uma unificação recente. No Começo de 2019, concluímos um processo de fusão com os companheiros oriundos do Coletivo Marxista Revolucionário Paulo Romão do Rio de Janeiro. Oriundo de uma tradição vinculada a 30 anos de militância no trotskismo (IV internacional, antigo Secretariado Unificado), os militantes egressos do Coletivo Paulo Romão tem larga trajetória na luta dos trabalhadores em educação.

Paulo Romão foi um dirigente sindical ligada ao marxismo revolucionário, negro, atuante nas lutas do povo. Parte dessa visão pode ser vista no texto de Danilo Serafim. Os companheiros ingressam no MES para ter um papel protagonista na construção sindical nacional da corrente.

Desde nossa VI Conferência (abril de 2018), estamos propondo a construção de espaços comuns com setores que atuam na esquerda socialista e no PSOL.

Vamos por mais

Celebramos a ampliação de nossas forças militantes e do alcance da nossa política ao completarmos 20 anos. Contudo, sabemos que somos modestos perto do desafio de disputar o movimento de massas. Queremos avançar, dentro e fora do país, na composição com setores combativos para novas sínteses revolucionárias. Defendemos a bandeira do marxismo revolucionário, de um programa de transição, de um internacionalismo vivo e da primazia da ação de rua sobre a luta eleitoral-parlamentar. Apostamos em processos como o PSOL para instalar uma nova esquerda junto ao povo. Com um programa radicalmente democrático, de classe, anticapitalista, feminista, antirracista e ecosocialista.

Nossa localização na IV Internacional é parte do processo de reagrupamento. Queremos ajudar a IV a se desenvolver no conjunto da América Latina, como polo de elaboração e de defesa programática para intervir nos processos que estão se abrindo.

Estamos abertos, no calor da polarização e da luta de classes, a atar laços de confiança para construir novas sínteses com setores que estão ativos na mesma trincheira. 


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Pedro Micussi