O novo partido de Bolsonaro: uma “Aliança” contra o povo brasileiro

Sobre a fundação da “Aliança pelo Brasil”, de Bolsonaro.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 28 nov 2019, 19:32

Bolsonaro está concluindo o giro político para ter um espaço próprio para suas ideias. A crise do PSL está terminando com a consolidação de sua nova hipótese partidária: a “Aliança pelo Brasil”. Sem vencer a combinação de crises que coleciona pelo caráter despreparado de seu governo, numa “fuga pra frente”, Bolsonaro afirma um projeto autoritário na forma de programa e partido.

Na esteira de suas ameaças autoritárias, o núcleo duro do governo move-se para ameaçar e intimidar o país. Além da divulgação do símbolo do novo partido feito com projéteis, Guedes volta a agitar o fantasma do AI-5 em declarações à imprensa. O que está por trás dessa movimentação?

O cenário instável desdobra-se na economia, antes que na própria política: nas últimas semanas, o dólar alcançou preço galopante, cerca de R$ 4,25, chegando a sua máxima nominal histórica; o preço da carne não para de subir, enquanto o governo busca uma narrativa que aponta o final da crise. Nada mais falso.

Com esse quadro, Bolsonaro não tem outra saída e busca aprofundar o chamado à guerra. Sai ferido da crise interna do PSL, que revelou o grau máximo de seu despreparo, mas quer se defender atacando. O novo projeto de partido responde ao giro de um bolsonarismo mais amplo, que reuniu as forças que o levaram à vitória eleitoral de 2018, para um bolsonarismo mais estreito, cuja orientação é organizar força material e política ao redor de um projeto neofascista. Este é um plano que se vincula à extrema-direita mundial e à recente mudança de conjuntura no continente latino-americano.

A “santa aliança” contra o povo: Bíblia, balas e fake news

Após navegar por alguns meses no PSL, com defecções importantes como Bebbiano e Frota, Bolsonaro chegou ao final de seu primeiro ano de governo com uma bancada parlamentar dividida. Como seu setor majoritário responde ao comando de Luciano Bivar e do PSL, Bolsonaro e o clã presidencial alistaram seus parlamentares mais fieis para colocar de pé uma “novidade eleitoral”. As acusações de caixa 2 eleitoral e do uso de “laranjas”, sobretudo contra o ministro do Turismo, povoam o debate entre dissidentes e refratários ao novo projeto. A disputa pelo fundo eleitoral do PSL e as dificuldades para viabilizar a legalização de um novo partido a tempo de disputar as eleições municipais de 2020 lançam dúvidas sobre qual será o tamanho da nova bancada, que, sendo minoritária na atual estrutura do PSL, ganharia representantes das bancadas da bala e da bíblia atualmente em outros partidos, como Eder Mauro, do Pará.

A base fundamental do novo partido seriam as bancadas compostas por militares de extrema-direita, muitos relacionados a grupos milicianos ou paramilitares de seus estados, além de alguns membros da ala mais à direita da bancada evangélica. O manifesto de fundação do partido – um documento neofascista – sinaliza explicitamente para estes setores.

Está claro que o novo projeto partidário de Bolsonaro busca dar maior coesão e organização para seus grupos de choque, que se expressam abertamente na internet por meio das milícias virtuais e do uso sistemático das fake news. Ministros como Abraham Weintraub e Ricardo Salles falam diretamente a esta franja militante de combate do bolsonarismo.

Há, no entanto, uma disposição de ir além do enfrentamento nas redes, como mostram as reiteradas manifestações do entorno bolsonarista ameaçando uma ruptura reacionária do regime e um novo AI-5, caso haja manifestações de rua fortes contra o governo. A adoção da sigla 38 – fazendo menção ao calibre da pistola – mostra a busca por uma política de morte, vinculada ao elogio sistemático de execuções extralegais por parte de polícias, milícias e jagunços no campo. Não à toa, na última semana, o deputado Coronel Tadeu rasgou charge de Latuff que denunciava o assassinato em massa da juventude negra nas periferias e foi apoiado, com declarações abertamente racistas, pelo deputado Daniel Silveira.

A contrarrevolução preventiva como projeto

Nessa semana, pela enésima vez nos Estados Unidos em conspirações com “investidores” e membros do governo Trump, o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que não se deve estranhar o apelo à edição de um novo AI-5 caso a pauta economia do governo enfrentar resistência nas ruas. Repetindo o que já havia dito anteriormente Eduardo Bolsonaro, o ministro da Economia mostra sua total sintonia com o projeto neofascista de Bolsonaro.

Guedes vocaliza a necessidade de um “neoliberalismo de choque” para impor, nem que seja à força, sua política de privatizações, desmonte do Estado brasileiro, de serviços públicos e retirada de direitos trabalhistas. Não por acaso, sua ameaça de um novo AI-5 foi acompanhada pelos anúncios, por Bolsonaro, de medidas que permitirão impor operações de Garantias da Lei e da Ordem (GLO) para realizar reintegração de posse no campo e de “excludente de ilicitude” para que militares envolvidos em tais operações, bem como aqueles que participem da repressão a movimentos reivindicatórios nas cidades, não respondam juridicamente por seus atos. Ou seja, Bolsonaro ameaça explicitamente usar tropas para combater protestos – matando, se necessário.

Desde que as manifestações em países da região, como Equador e Chile, espalharam-se, Bolsonaro e seu entorno repetem ameaças de fechamento do regime caso ocorram protestos no Brasil contra seu governo. A aposta neofascista para impor o programa de choque ultraliberal já é ventilada abertamente em busca de prevenir, utilizando o medo, a mobilização popular e preparar as condições para um golpe caso o governo encontre-se pressionado.

As ações contra ONGs e ativistas em Santarém também são de teor autoritário, voltadas para intimidar as lutas em defesa da Amazônia e desviar as responsabilidades do desastre ambiental que Bolsonaro e Salles impõem ao Brasil.

Enfrentar Bolsonaro em todos os terrenos

Diante deste cenário, nossa escolha só pode ser buscar a unidade democrática, a luta contra as milícias e a busca pela mobilização ampla da classe trabalhadora e do povo brasileiro. É possível derrotar o projeto de Bolsonaro: seus ataques são múltiplos e chegam à ampla massa do povo. Está crescendo a indignação do povo nas favelas, nas fábricas, nos assentamentos rurais e comunidades em geral. O sentimento democrático é grande. Os estudantes ao longo do ano, junto à comunidade educativa, deram uma lição de que se pode lutar e conquistar.

O exemplo da situação latino-americana aponta que apenas nas ruas podem ser encontradas soluções para as crises. Infelizmente, as oposições e as direções majoritárias do movimento de massas, como a CUT, não construíram espaços unitários e calendários de mobilização que estivessem à altura para transformar a indignação em ação. As lutas que existem, como a heroica greve dos professores do Rio Grande do Sul, servem de ponto de apoio para mostrar caminhos.

O PSOL deve esforçar-se por buscar a unidade para enfrentar o governo em todos os terrenos e disputas, preservando seu perfil independente, anticapitalista e afirmando a necessidade de uma saída popular para a crise, buscando enfrentar os interesses dos bilionários que sustentam o programa antipopular e a política autoritária e de choque do governo Bolsonaro contra o povo brasileiro.


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Pedro Micussi