Pra frente, Brasil?
Bolsonaro, Guedes e a imprensa econômica iniciam 2020 dizendo que haverá crescimento econômico. Para quem?
Além dos conflitos internacionais, 2020 iniciou-se com uma ofensiva do governo Bolsonaro, apoiada pela imprensa econômica e pelos porta-vozes da burguesia, para demonstrar que o país “vai bem”. Enquanto aplaudia a escalada de terror de Trump, Bolsonaro agitava nas redes o “sucesso econômico” esperado para 2020.
A chuva de informações manipuladas ou diretamente falsas que o núcleo dirigente do Planalto emula diariamente tem como objetivo vender euforia para as classes dirigentes. Arrastar a burguesia para sustentar seu projeto ultraliberal e autoritário é a estratégia que une Guedes e Bolsonaro. Essa é a linha que o governo utiliza para estancar o descontentamento popular, atravessar o ano de 2020 e impor sua controversa agenda.
Tal fuga para frente responde também ao desgaste que Bolsonaro acumula pelas denúncias contra seu filho, Flávio Bolsonaro, envolvendo Queiroz e as milícias cariocas. Sair da defensiva nesse tema é chave para a estratégia do clã Bolsonaro.
Contudo, apesar da propaganda, o sentimento das ruas é outro. Com dificuldades em se instalar nos meios populares, Bolsonaro não tem como controlar os efeitos sobre a economia real de seu plano de ajuste, que pode ser considerado um verdadeiro plano de guerra contra o povo.
Os dados do Brasil real
A promoção da euforia é uma ação coordenada entre todas as esferas do governo, com o objetivo de vender estabilidade e colocar para debaixo do tapete o despreparo estrutural de Bolsonaro. Uma parte da burguesia e de seus porta-vozes – como Abílio Diniz, Paulo Skaf e Robson Andrade – embarca no trem pilotado por Guedes, atraída pelas promessas do núcleo da equipe econômica que projeta um crescimento superior a 2% em 2020, e promete avançar na linha de desregulamentar normas e destruir direitos fundamentais com uma nova reforma trabalhista e com medidas arbitrárias em curso como a “carteira verde e amarela” e o desmonte da Justiça do Trabalho. Para piorar, a convocação de sete mil militares da reserva para atuar no INSS é um ataque à Assistência Social, preparando o terreno para o desmonte do serviço público.
No andar de baixo, no “Brasil real”, que vive e batalha do seu próprio suor, entretanto, os dados não tem nenhuma euforia. O desemprego segue altíssimo: são 12,5 milhões de brasileiros nesta condição e outros quase cinco milhões em desalento. Ao mesmo tempo, a propalada “criação de novos empregos” é, na realidade, o aumento da informalidade e da precarização, vendidas como “empreendedorismo” pelo cinismo governante e pela imprensa especializada.
Na contramão do otimismo vendido pelo governo, o IBGE divulgou retração da indústria de 1,2% em novembro em comparação com outubro (o maior recuo mensal desde 2015) e de 1,7% em comparação com novembro de 2018. Ao mesmo tempo, uma pesquisa da CNI, realizada em dezembro, mostrava que 60% dos empresários industriais consideram o governo “ótimo ou bom” e 65% confiam em Bolsonaro. Em artigo na Folha de S. Paulo em 1º de janeiro, o presidente da entidade, Robson Andrade, explicava as razões deste apoio: a realização da reforma da previdência e a expectativa de uma nova reforma trabalhista e de reformas tributária e administrativa. Eis a agenda patronal estratégica.
O discurso entusiasmado pró-Guedes, no entanto, encontra suas fissuras. Após a abertura de capital da corretora XP na bolsa de Nova York, a economista-chefe da empresa, Zeina Latif, demitiu-se em dezembro, de acordo com a imprensa, por suas análises críticas à política econômica de Guedes na contramão do entusiasmo do mercado.
Uma dinâmica complexa
A pergunta que o ativismo se faz é: como parar Bolsonaro? Se, por um lado, ele ainda conserva importantes fortalezas, por outro, as pesquisas mostram que quase 40% da população consideram o governo “ruim ou péssimo”, a pior avaliação de um governo em seu primeiro ano de mandato. Tal número é ainda maior ao se levarem em conta condições sociais, geográficas e etárias. A maior parte dos trabalhadores é contra Bolsonaro.
Apesar do mencionado apoio de setores da burguesia, o desgaste do governo não é aproveitado como poderia pela oposição. Tome-se o exemplo dos governadores do Nordeste, que não apenas não usam a força acumulada para organizar a oposição nacional como promovem reformas das previdências estaduais muito similares à idealizada por Guedes e o “mercado”, como fizeram os governadores do Ceará e da Bahia; neste último estado, Rui Costa vai além, com práticas antissindicais e seguindo a cartilha de Bolsonaro na educação, orgulhoso de ser o primeiro estado na implantação de escolas militarizadas. As debilidades desta oposição explicam parte fundamental da dificuldade para canalizar a indignação popular e construir uma alternativa confiável aos olhos do povo.
É possível resistir
Diante desse cenário, o PSOL deve ser protagonista da resistência. Há um espaço crítico amplo no país. Os festejos de Carnaval, como já ocorreu nos anos anteriores, serão tomados pelo repúdio ao governo e pela defesa da cultura e da liberdade.
O PSOL, com seus deputados estaduais, como Hilton Coelho na Bahia e Luciana Genro no Rio Grande do Sul, cumpriu um papel ativo na resistência às reformas estaduais. E nossa bancada federal segue agitando contra o governo e seu plano. Cabe ao Partido, de conjunto, no momento em que se começa a discutir o VII Congresso, ampliar as iniciativas de apoio às lutas, exigindo o mesmo dos setores majoritários da oposição e apoiando com toda a força as lutas em curso: lutas dos setores da baixa oficialidade das polícias militares e civil; dos camponeses pobres; dos movimentos de moradia; e das mulheres que preparam mais um grande ato de 8 de março. Não se deve esperar apenas o período eleitoral, que terá importância em 2020. É preciso atuar agora. A palavra-de-ordem “Fora Bolsonaro” é um catalisador de todas as formas de descontentamento popular com a política do governo, ainda que não seja uma agitação para ação imediata.
Ao contrário da propaganda Bolsonarista, nosso país caminha para trás. Os pífios índices de melhoria econômica servem apenas para realizar mais ataques contra o conjunto da classe trabalhadora. Podemos e devemos resistir, dobrando o governo miliciano. Para isso, é preciso estimular os novos enfrentamentos dando confiança de que podem vencer.