Abstinência Sexual: política pública ou despesa?
A abstinência sexual é uma política pública realmente pensada para frear a epidemia do HIV e os casos de gravidez na adolescência?
No último mês o nome da Ministra Damares volta a circular nas mídias quando do lançamento da campanha de abstinência sexual como estratégia de política pública “alternativa” para trabalhar a prevenção à gravidez na adolescência e às ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).
Ao comentar sobre o tema, Bolsonaro disse que “uma pessoa que vive com HIV, além de ser um problema pra ela, é uma despesa para todos aqui no Brasil”.
O pronunciamento do presidente nos faz pensar em como o governo vem tratando as políticas públicas e utilizando de recursos públicos para difundir seus discursos reacionários e ideologias fundamentalistas.
Outro ponto que cabe a reflexão é de como esses discursos têm sistematicamente aparecido como “cortina de fumaça” para maquiar os ataques que o governo tem implementado em todos os níveis da máquina pública.
No Brasil inteiro, começam a pipocar uma série de denúncias de escassez de preservativos, antirretrovirais e tratamentos profiláticos para o HIV.
O pronunciamento em si por óbvio é repudiável e ainda mais se tratando de alguém que ocupa tal cargo, mas o que está por trás dessa declaração é ainda mais preocupante.
O governo quer implementar um modelo neoliberal de saúde no Brasil e atacar as políticas públicas do HIV é atacar um pilar importante do SUS. Durante muito tempo o tratamento, diagnóstico e prevenção do HIV no Brasil foram referência mundial, e a história do HIV nos provou que quando há investimento, o serviço público é eficaz. O SUS nos mostrou isso e por isso é tão atacado.
Mas então, a abstinência sexual é uma política pública realmente pensada para frear a epidemia do HIV e os casos de gravidez na adolescência? Proibição resolve? Qual o resultado quando não há educação sexual para as crianças e adolescentes?
Uma possível resposta vem a partir da realidade de quem sempre teve esse direito negado. As LGBTs nunca tiveram o direito à sexualidade e à educação sexual. A questões relativas ao assunto nunca foram debatidas nas escolas sob a perspectiva das LGBTs, nem mesmo dentro do ambiente familiar, em lugar nenhum. O resultado desta triste realidade LGBTfóbica se expressa nas estáticas que colocam gays e mulheres trans como mais vulneráveis às ISTs.
A despesa está aonde então? Em tratar com responsabilidade questões de saúde pública, disponibilizando acesso ao tratamento, prevenção e diagnóstico para o HIV e outras ISTs? Não, a despesa se dá quando a máquina pública é usurpada pelos interesses do mercado com o intuito de manter ou difundir ideologias que pregam a necropolítica como saída para a garantia e manutenção dos privilégios de alguns em detrimento da vida de muitos.
Despesa não é tratar pessoas que vivem com HIV, pois o tratamento além da garantia de manutenção da vida destas pessoas, permite que permaneçam indetectáveis e não transmitam o vírus. Despesa é uma campanha sem fundamentação científica e sem garantia de retorno.
Despesa é manter deputado durante 28 anos no parlamento sem contribuição alguma à sociedade. Despesa é termos Bolsonaro na presidência da república.