Às ruas contra o golpismo de Bolsonaro!

Bolsonaro não pode mais continuar na presidência! Somente a mobilização poderá detê-lo!

Israel Dutra e Thiago Aguiar 28 fev 2020, 20:57

Nos últimos dias, houve um salto de qualidade na crise política nacional. Bolsonaro compartilhou um vídeo de convocatória do ato golpista de 15 de março, na sequência do chamado à mobilização feito por Augusto Heleno, general da reserva e chefe do Gabinete de Segurança Institucional. A gravidade do ocorrido – uma convocatória da extrema-direita pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal – não pode ser minimizada. Declarações de pesos pesados da política nacional, como Fernando Henrique Cardoso e Celso de Mello, mostram a dimensão do repúdio enérgico e da gravidade da escalada golpista de Bolsonaro e de seu núcleo duro.

O que explica tal movimentação? É nítida a disposição do bolsonarismo de acelerar a transformação de seu movimento político numa coluna golpista e neofascista organizada em aliança com o submundo da política, de lideranças religiosas, das casernas e das milícias. Bolsonaro quer testar sua força para responder a um elemento real: o choque em curso com o Congresso, motivado pelo despreparo de seu governo, tem levado o Executivo à condição de refém dos parlamentares. O “orçamento impositivo” – que garante o pagamento compulsório de emendas e amplia as possibilidades de alocação de recursos por deputados e senadores – é a expressão máxima deste conflito. O “foda-se” de Augusto Heleno para o Congresso, captado por câmeras na semana passada, mostra a disposição do entorno palaciano de Bolsonaro.

Soa o alarme na economia

Os últimos acontecimentos contrastam com o discurso do governo na virada do ano e com a expectativa dos agentes econômicos e dos analistas burgueses, que se propunham a oferecer fôlego a Bolsonaro, estabilizando sua popularidade e vendendo a ilusão de que haveria uma recuperação econômica robusta em 2020 por meio da continuidade do ajuste estrutural de Paulo Guedes. Tal qual chuva de verão, a euforia durou pouco. Após o feriado de Carnaval, com a reabertura da Bovespa, impôs-se a nova realidade econômica, que já vinha sendo apontada pela divulgação dos números decepcionantes da indústria em 2019, do comércio no último trimestre e a prévia do PIB do ano passado pelo Banco Central. Não por acaso, espalham-se rumores de que Guedes ameaça sair do governo. Além disso, está claro o risco de espraiamento da epidemia de coronavírus, que pode derrubar o crescimento econômico global. As significativas quedas nas principais bolsas de valores dos últimos foram replicadas no Brasil. Os efeitos na economia real já são sentidos no país: os exportadores de commodities já dimensionam as perdas com o recuo das compras chinesas e, na indústria de eletrônicos, por exemplo, anunciam-se paralisações na produção por falta de insumos chineses importados. 

A crise do governo Bolsonaro amplia-se. Apesar do apoio da burguesia às reformas neoliberais e da tentativa de organizar um polo ao redor de Paulo Skaf e das federações patronais em apoio ao governo, a incompetência generalizada da administração e o pântano da economia estagnada abrem fissuras crescentes de descontentamento. Sentindo-se isolado, Bolsonaro apoia-se na militarização do entorno presidencial e ameaça com o fechamento do regime.

O governo acossado parte para o ataque: é hora de ampla unidade de ação

A execução do miliciano Adriano da Nóbrega – há anos vinculado por relações de amizade com a família Bolsonaro, que empregou sua mãe e esposa em seus gabinetes – levou a uma escalada de agressões do clã presidencial. Direcionando seus ataques aos governadores do Rio e da Bahia, o presidente teve como resposta uma inaudita carta de 20 governadores em oposição a suas ações. 

Na sequência, como se buscasse uma cortina de fumaça para evitar a exposição de seus vínculos com o submundo do crime carioca, o presidente comandou uma campanha de ataques sórdidos contra a imprensa. Voltou-se, a princípio, contra a premiada jornalista Patrícia Campos Mello e agora seu alvo é Vera Magalhães – insuspeita de quaisquer posições “esquerdistas” –, quem se tornou alvo da campanha de difamações do esgoto bolsonarista na internet por revelar as mensagens do presidente em apoio ao ato gorila de 15 de março. O ataque à liberdade de imprensa vai além e Bolsonaro já fala em exigir de empresários vinculados à Fiesp uma campanha de boicote a anúncios publicitários em veículos que o criticaram, como a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e até mesmo a Globo.

A reação aos ataques bolsonaristas também revelou a erosão da base partidária do presidente, que encontra dificuldades para legalizar seu partido. Alguns generais buscaram distanciar-se da convocatória golpista e o ex-ministro general Santos Cruz deu a declaração mais contundente contra a investida bolsonarista. Apesar de seu isolamento crescente, no entanto, Bolsonaro encontra apoio em setores mais atrasados do povo e disputa a base das polícias.

Apenas nas ruas é que se pode derrotar essa escalada! Não se pode esperar pelas instituições, que permitiram que se chegasse a tal situação e que muitas vezes apoiaram o governo. É o momento da mais ampla unidade de ação democrática. Até mesmo setores da imprensa corporativa falam abertamente na necessidade de um processo de impeachment para parar Bolsonaro. É hora de colocar o povo em movimento contra o plano golpista de Bolsonaro e contra o plano neoliberal de ajuste. Chegou o momento de irmos às ruas, aos milhões, para derrotar o projeto autoritário da canalha bolsonarista.

Por um plano de ação imediato: março de todas as lutas! Fora Bolsonaro!

O PSOL deve ser o setor dinâmico, que busque impulsionar nas ruas a luta numa unidade geral contra a escalada golpista. Bolsonaro não pode mais continuar na presidência! Somente a mobilização poderá detê-lo e ela deve ser combinada à iniciativa política e parlamentar audaz: é preciso apresentar o pedido de impeachment imediatamente. Fora Bolsonaro!

Nosso calendário deve estar hierarquizado por esta luta. No dia 2 de março, apoiaremos a luta da FNL por terra em suas mobilizações no DF. O 8 de março, por sua vez, será um grande dia de mobilizações das mulheres e do povo brasileiro contra o governo machista, racista, homofóbico, antipopular e autoritário de Bolsonaro: Ele Não pode continuar! No dia 14, vamos exigir justiça para Marielle Franco e Anderson Gomes dois anos após seu assassinato ainda não esclarecido. Apoiaremos, aliás, a mobilização da Rede Emancipa, em suas aulas inaugurais nos dias 7 e 14, que exigirá justiça para Marielle e Anderson. Já no dia 18, nos somaremos aos milhões que estarão nas ruas de todo o país atendendo ao chamado da juventude, das e dos estudantes e trabalhadores da educação. Eis o momento de agirmos. Basta! Fora Bolsonaro! Ditadura nunca mais!


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