Sobre o carnaval de Porto Alegre
A precarização dos espaços de cultura.
Todo Carnaval tem seu fim. O de Porto Alegre agoniza de tal forma que, quando começa, parece que já terminou. Realizá-lo nas condições que vem sendo realizado é resistência daqueles que enfrentam o preconceito fantasiado de descaso.
Fui ao Porto Seco acompanhar a apresentação das escolas de samba. Um desfile de falta de apoio, precariedade estrutural e desprezo à cultura popular. A maior festa do povo – sobretudo das comunidades mais pobres e dos negros – foi confinada em um espaço sem infra-estrutura. Não havia luz na área externa dos barracões, o acesso complicado, poucos banheiros…
É proposital, não circunstancial, colocar a diversão da periferia para longe da área central, onde integraria – como já integrou – muito mais os porto-alegrenses ao Carnaval. Mas a escolha dos governantes, há anos, é relegar a alegria popular à escuridão, ao não incentivo, à penúria de recursos até que o brilho de tudo esmoreça.
Ouvi de um jovem negro: “nós, os pretos, estamos aqui, no escuro. Carnaval para preto é assim, sem luz”. A comunidade já entendeu a alegoria racista do governo. Resiste. Não se sabe até quando.