VII Congresso: quatro desafios para colocar o PSOL em movimento

Apresentamos quatro desafios do PSOL em seu VII Congresso para que o partido esteja à altura de sua responsabilidade.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 11 mar 2020, 15:58

A crise política está dando um salto de qualidade – motivada pelas incertezas da economia mundial, pelo coronavírus e pela escalada golpista de Bolsonaro. Diante do quadro onde o governo autoritário tem como plano promover um ataque permanente contra o povo e a classe trabalhadora brasileira, inicia-se mais um período congressual no PSOL. No último final de semana, ocorreram as primeiras plenárias do VII Congresso de nosso partido, mobilizando as primeiras centenas de militantes, num processo que promete reunir por volta de 30 mil filiados.

Nosso congresso ocorre num período de intensificação das contradições políticas no país e no mundo. Por isso, o partido tem a responsabilidade de aproveitar os debates internos para preparar-se para os conflitos do presente e do futuro. O crescimento da extrema-direita aponta a necessidade de construir força social para barrar a guerra contra o povo. Ao mesmo tempo, a necessidade de uma nova esquerda no Brasil é evidente, diante da falência da experiência com o PT. O PSOL deve ser a expressão das lutas contra o autoritarismo e o ajuste ultraliberal imposto pela burguesia.

Nosso partido deve estar conectado com essas necessidades e tem a responsabilidade de ser o partido de Marielle Franco – que representa, por sua trajetória de vida e de luta, o avesso do bolsonarismo e de seu projeto de poder. Nesse editorial, apresentamos quatro desafios do PSOL em seu VII Congresso para que o partido esteja à altura desse momento grave, com a esperança de que é possível vencer.

Primeiro desafio: o internacionalismo como vetor

O internacionalismo foi um dos princípios fundadores de nosso partido. Atualmente, é ainda mais vigente em nossas análises e em nossa atuação cotidiana hierarquizar o internacionalismo no PSOL. Uma visão global do capitalismo e da luta de classes nos possibilita compreender o sentido das mudanças e dos processos políticos e sociais em curso. Questões fundamentais para a humanidade – como a ação das corporações transnacionais, o trabalho imigrante, o espraiamento global da produção ou as mudanças climáticas – só podem ser enquadradas adequadamente por meio de um olhar internacionalista.

Precisamos de um horizonte internacionalista e ecossocialista para a humanidade, que compreenda os desafios do tempo presente e, sobretudo, uma intervenção de solidariedade internacional permanente, para dar apoio às lutas em curso e para aprender com elas. Na América Latina, temos exemplos importantes, como a luta do povo chileno, ou as gigantescas marchas de mulheres exigindo direitos nas ruas de Buenos Aires ou Santiago. Nos Estados Unidos, vemos o movimento ao redor da campanha de Bernie Sanders colocar na ordem do dia o enfrentamento aos bilionários e a defesa dos direitos dos trabalhadores, da juventude e das famílias populares, que lutam por serviços de educação e saúde públicos, gratuitos e de qualidade contra a espoliação neoliberal.

O PSOL deve seguir na vanguarda do internacionalismo e tirar lições destas experiências fundamentais e dos equívocos de projetos como Syriza e Podemos, que abriram mão de uma perspectiva independente e socialista. Reinvidicamos a nossa atividade nas Relações Internacionais do PSOL, abrindo importantes fronteiras e relações, com o DAS (EUA), o movimento curdo, a luta palestina, entre várias outras. Nossos deputados foram linha de frente na luta contra o golpe na Bolívia e contra a invasão da embaixada da Venezuela por parte da extrema-direita.

Segundo desafio: uma orientação partidária para derrotar Bolsonaro

Para enfrentar Bolsonaro e seu projeto, é necessário construir ampla unidade de ação com todos os setores democráticos. A construção da frente única é parte desta tarefa, atuando sem sectarismo, somando forças em prol de melhores condições de ação política e, nesse contexto, levando adiante uma proposição programática e independente que impeça a diluição de nossas posições nesse movimento de ampliação. Junto a isso está a necessidade da afirmação do PSOL. Nesta unidade, nosso partido tem um papel: ser a vanguarda das mobilizações e oferecer, sem vacilações, um caminho de luta pela derrota de Bolsonaro e pela construção de um polo socialista e independente, que ofereça uma saída real para os problemas do povo brasileiro. Não há mais unidade de ação ou frentes porque as principais direções do movimento de massas, como Lula deixou claro em entrevistas, não querem dar consequência à unificação das lutas e setores contra Bolsonaro.

Por isso, o partido deve vincular-se às reivindicações mais sentidas de nossa gente. É preciso enfrentar Bolsonaro e os governos locais neoliberais com uma linha de defesa das reivindicações mais sensíveis do povo: aumento nos investimentos em saúde e educação; defesa da ciência e tecnologia; combate às privatizações e à falência de serviços públicos de abastecimento de água e de transporte; combate às novas propostas de retirada de direitos trabalhistas; defesa de salários dos trabalhadores da iniciativa privada e do funcionalismo, há anos arrochados; entre tantas outras.

O PSOL também deve exigir: Fora Bolsonaro! Este é o elemento de agitação fundamental para unificar a vanguarda – num momento de oposição parlamentar tímida e dispersa – e para canalizar a indignação social crescente. Só a mobilização pode parar a sanha golpista e autoritária de Bolsonaro e derrotar o ajuste estrutural da burguesia!

Terceiro desafio: enraizar o PSOL

Nosso desafio é seguir aprofundando a luta social para enraizar o PSOL. O VII Congresso precisa de uma orientação que amplie nossa base social e construa o partido no seio de nosso povo e de suas lutas, levando nossas ideias para a maioria da população. Em particular, há uma série de setores sociais e exemplos que mostram um caminho para seguir: as mobilizações da FNL em 2 de março; as aulas inaugurais do Emancipa; as lutas dos setores rodoviários em Porto Alegre; o combate dos policiais antifascistas, orientados pelos camaradas do SINPOL-PE, pelo Brasil afora; as lutas quilombolas do Maranhão e a luta dos indígenas do Pará; entre outras.

O PSOL deve se fortalecer com exemplos práticos, como a unidade dos setores da educação – o Juntos está agitando nas universidades bem como nossos camaradas do SEPE-RJ e dos sindicatos da educação básica em conjunto com outras organizações sociais e políticas – para a construção de um forte ato no dia 18 de março.

O enraizamento deve ser acompanhado pelo combate às pressões parlamentares no PSOL. Os parlamentares do partido e suas figuras públicas devem se jogar de corpo inteiro nas lutas, atuando como tribunos populares e se orientando pelas necessidades da luta de classes. Orgulhamo-nos de nossos parlamentares que atuam diariamente para enfrentar o autoritarismo e colocar na ordem do dia a defesa dos direitos do povo.

Quarto desafio: uma nova direção para o PSOL

Para dar conta dos desafios listados acima, nosso partido precisa, em seu VII Congresso, de uma nova orientação política e de uma nova direção. Nosso partido precisa chacoalhar o rotineirismo burocrático, ao redor do calendário eleitoral e parlamentar, e se tornar uma ferramenta de ação que potencialize, nas tribunas e nas campanhas, sua inserção junto ao povo, à classe trabalhadora e à juventude para construir uma alternativa para o Brasil. Para isso, precisamos de uma nova direção.

Como afirmamos em nossa tese, devemos colocar o partido com centro na iniciativa: lutar por um programa de urgência, com base no enfrentamento ao capital financeiro e aos bancos (os verdadeiros parasitas do Brasil). Como parte das medidas para parar as reformas, devemos taxar os grandes milionários e auditar a dívida pública. É fundamental incorporar o ecossocialismo como aspecto essencial de nosso programa.

Precisamos “desblocar” os campos no partido para construir uma nova direção, alicerçada em resoluções que armem a militância de conjunto. E, junto a isso, revolucionar a atividade partidária, abrindo caminho para a atividade democrática de todos militantes, orientados pela ação e pela discussão coletiva dentro do PSOL.

Nossa militância engajada, que constrói o PSOL nos quatro cantos do país, tem tudo para tomar o partido em suas mãos neste congresso. Vencendo estes desafios, temos tudo para colocar o PSOL em movimento para enfrentar o bolsonarismo e seus ataques. Viva o socialismo e a liberdade! Viva o PSOL!


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Pedro Micussi