Derrubar Bolsonaro e disputar o futuro

O impeachment de Bolsonaro se impôs como via para derrotar o governo.

Estevan Campos 26 abr 2020, 18:08

Os fatos da última sexta-feira, com as denúncias de Moro no ato de sua demissão não deixam lugar a dúvidas: o impeachment de Bolsonaro se impôs como via para derrotar o governo. Ainda há quem negue o fato, a exemplo da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, e do ex-candidato da sigla, Fernando Haddad, cujos posicionamentos públicos após os pronunciamentos de Moro e Bolsonaro, tentam equiparar os dois “riscos” (Haddad termina sua coluna na Folha de São Paulo com um “Fora” para ambos).

Não surpreende, mas declarações como estas, bem como a busca de outras possibilidades como insistir em um pedido de renúncia, levantam algumas reflexões, não só sobre o desenvolvimento dos fatos, como dos limites de certas perspectivas colocadas no campo da esquerda.

Parecem não compreender a essência do projeto neofascista de Bolsonaro, não há apelo popular, abaixo-assinado, que vá sensibilizar o presidente a renunciar. O projeto é de fechamento de regime e cada ato dele só confirma esse caminho. Os recuos de Bolsonaro são nada mais que um passo atrás para pegar impulso para o próximo avanço sobre os limites do regime. Bolsonaro não vai sair, precisa ser derrubado. Por isso o impedimento do presidente é a saída a ser construída.

Sobre o impeachment, já assinaram algum pedido: a esquerda do PSOL, PDT e Ciro, PSB e Molon, Rede e Randolfe, isso sem falar nos pedidos da direita. Já são mais de 20 pedidos apresentados. No campo da esquerda, não assinaram qualquer pedido de impeachment: o PT e a atual direção do PSOL (inacreditável). Esses setores da que ainda não assinaram nenhum pedido, devem fazê-lo logo, hoje (o Diretório Nacional do PSOL está reunido no momento em que escrevo), talvez amanhã ou segunda, pois o impeachment se impôs como alternativa, o que não diminui o absurdo da demora/vacilação para que tomassem esse caminho.

Coincidentemente, os mesmos setores que ainda não assinaram nenhum pedido de impeachment, são os mesmos que, numa tentativa de se diferenciar dos que já assinaram, colocam em pé de igualdade o “problema Moro” e o “problema Bolsonaro”. Não há equivalência. Apesar de se tratar de dois representantes de projetos anti povo, um tem um projeto declaradamente fascista (do qual a tentativa de controle da PF revelada ontem é parte), a máquina do Estado na mão, as milícias (virtuais e armadas), o outro é apenas um provável pré-candidato da elite pra 2022.
Neste momento, o urgente, é derrubar Bolsonaro e tentar barrar o avanço de seu projeto autoritário. Se as declarações de Moro servirem a esta luta, tanto melhor. Além das declarações, a saída de Moro do governo enfraquece a base social do bolsonarismo, sua popularidade. A divisão do lado de lá, ajuda o lado de cá, isso é um raciocínio que parece óbvio, mas alguns setores da esquerda, presos ao passado, por se tratar de Sérgio Moro, não conseguem ver dessa forma.

Essa miopia implica em querer HOJE ficar debatendo sobre Sérgio Moro, a exemplo do que Haddad fez em sua coluna na Folha, ao invés de investir todas as forças na unificação dos mais de 20 pedidos de impeachment, em aumentar a pressão sobre Rodrigo Maia para que dê andamento ao processo, essa deveria ser a prioridade.

É de conhecimento público que protocolamos nosso pedido de impeachment em 18 de março, através de nossas Deputadas Sâmia e Fernanda, David Miranda e tantas outras lideranças do Partido, como Luciana Genro, além de diversos intelectuais e artistas, este pedido já conta com mais de um milhão de apoios. Não se trata de disputar qual é o pedido que irá adiante, a tarefa agora é unificar os pedidos e dar a batalha para que o processo avance.

Existe uma preocupação, de uma parte da esquerda, de que Moro saia fortalecido para 2022. No entanto, por mais legítima que possa parecer essa preocupação, ela atesta uma total incapacidade de apresentar alternativas para a crise presente, além de ignorar que a história, bem como a correlação de forças entre as classes e seus projetos, é dinâmica e sobretudo, resultado da luta entre as classes.

Passamos pelo que é a mais grave crise econômica, social, política de nosso tempo, aprofundadas pela crise sanitária. As projeções dos órgãos internacionais são catastróficas, para o Brasil apontam para uma queda do PIB entre 6% e 8%, alguns estimam que 50% da população sairá desta crise em situação de pobreza. Diversos debates que ontem pareciam perdidos estão novamente colocados: a crise colocou a defesa do SUS na ordem do dia; mesmo economistas liberais defendem a necessidade da injeção de dinheiro público para impulsionar a economia; o debate sobre o financiamento do Estado é oportunidade para retomar bandeiras históricas como a taxação das grandes fortunas e auditoria da dívida; o investimento na pesquisa, através das instituições públicas, mostra a sua importância.
Priorizar debate eleitoral neste momento (seja sobre 2020 ou 2022) só atesta a completa falta de perspectiva de quem o faça, uma incapacidade de intervir na crise atual e a partir dessa intervenção construir as nossas possibilidades futuras.

A história segue em aberto, nossa tarefa é intervir no presente, disputando o futuro.


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Pedro Micussi