Metroviários de SP apontam para a necessidade de um Plano de Emergência

Por um Plano de Emergência em Defesa da Vida para evitar o aumento desenfreado de mortes e um colapso no sistema de transporte público de São Paulo.

Ana Cláudia Borguin 6 abr 2020, 21:28

A palavra de ordem do momento é uma: Fique em casa! O isolamento aparece como um dos fatores mais comprovados para o chamado “achatamento da curva de contágio”, ou seja, o método mais eficaz para evitar um número ainda mais crescente de contaminados e mortos. No Brasil, especificamente em São Paulo, sabemos que isto nos bota em meio à uma disputa política oportunista entre o irracional e criminoso presidente do país, Jair Bolsonaro e o “gestor marketeiro” João Dória, governador do Estado. Enquanto o primeiro reforçou e ainda reforça uma postura de ceticismo à ciência, colocando em cheque as recomendações de todos os órgão de saúde competentes nacionais e internacionais, o segundo – com certeza de olho na cadeira – quer se apresentar como uma alternativa consciente e que realmente se preocupa com a saúde dos cidadãos de seu Estado.

Ok, que Bolsonaro faz tempo parece estar cumprindo um papel de anti-autoridade no país nós já sabemos, mas seria o Dória esta alternativa tão coerente que se apresenta?

Estamos até esgotados de saber que, mesmo em meio a quarentena, existem serviços que não podem parar, os “serviços essenciais”. Entre estes podemos destacar o óbvio serviço de saúde – que compreende médicos, enfermeiros, técnicos, serviço de atendimento em hospitais, etc – destacados com muita justeza como heróis em um período tão terrível como este. Mas também existem várias outras funções que tem apresentado protagonismo neste momento, entre estas: funcionários de supermercado, operários em fábricas de produção essencial, entregadores de delivery, funcionários de serviço de limpeza e, para nos aprofundarmos, os empregados que prestam serviço de transporte público.

Em São Paulo, destacamos simbolicamente o serviço Metroferroviário. Em tempos normais, sem isolamento, as seis linhas do Metrô carregam em média 5,3 mi de passageiros ao dia, enquanto as sete linhas da CPTM (trens) leva em torno de 2,7 mi/dia. Com a quarentena no estado, o número de passageiros/dia no Metrô diminuiu para 650 mil. É uma perda grande, mas um número ainda muito expressivo. O transporte é essencial pra cidade, mas também um dos focos mais óbvios de contágio, já que temos a concentração de muitas pessoas em espaços bastante confinados. Soma-se isso a quantidade de metroviários que foram afastados por estarem apresentando sintomas ou serem do grupo de risco. A realidade é que ainda muitas pessoas são obrigadas a pegar o transporte e hoje há um número muito menor de funcionários pra fazer o sistema funcionar. O sistema de transporte pode entrar em colapso a qualquer momento.

Mas o que é necessário fazer pra se amenizar os riscos evidentes?

Para garantir que o transporte não seja um vetor de contágio, ao mesmo tempo que possamos garantir transporte aos trabalhadores de serviços essenciais é necessário que seja implementado imediatamente um Plano de Emergência em Defesa da Vida. Este plano deve garantir que mais setores que não são essenciais possam estar em quarentena com salários e empregos garantidos. Não faz sentido existir call-centers onde milhares de trabalhadores do telemarketing fiquem confinados em uma sala – é necessário home office para estes empregados. Assim como apenas as indústrias focadas na produção de itens necessários em meio a pandemia devem permanecer em pleno funcionamento.

Assim o atendimento de transporte metroviário será focado apenas no que é fundamental na cidade: manter abertas apenas “Estações-chave”, perto de hospitais ou terminais e controlar o fluxo de passageiros para que apenas aqueles que necessitem trabalhar nos serviços essenciais possam se locomover pelas estações e trens.

Este plano já foi apresentado pelo Sindicato de Metroviários em mais de uma ocasião, mas o Governador Dória e a direção da empresa ignoraram estas tentativas de preservação da população. Ou seja, as tão propagadas medidas de isolamento de São Paulo continuam sendo insuficientes.

E como tem trabalhado a categoria metroviária?

Os metroviários estão enfrentando uma realidade de insegurança e medo. Mesmo com muita pressão, ainda faltam EPIs adequados para os trabalhadores que hoje estão na linha de frente da empresa. Faltam máscaras, falta álcool em gel e, muitas vezes, até sabão. Isso sem contar os funcionários terceirizados – estes completamente abandonados a própria sorte por suas empresas.

O quadro de funcionários está muito reduzido, o trabalho tem se tornado cada vez mais desgastante e perigoso e começam a aumentar as tristes notícias de funcionários contaminados ou vítimas fatais – como o Operador de Trem que havia saído da empresa há pouco tempo para aproveitar sua aposentadoria e que, infelizmente, veio a falecer.

Mas a maldade não termina por aí. Como se não bastasse toda esta difícil situação, a empresa lançou documento com medidas de contingenciamento de gastos. Férias estão sendo remarcadas e todo funcionário que teve que ser afastado por medida de segurança teve benefícios e auxílios cortados – as vezes podendo representar até 30% do salário, ou mais.

Na CPTM, ainda mais grave, uma juíza acatou pedido da empresa e do Governo do Estado e caçou a liminar que permitia o home office dos funcionários afastados por estarem em grupo de risco, fazendo com que todos tivessem que voltar aos seus postos de trabalho presencial.

Mesmo que seja necessário este corte de gastos, ele deveria atingir principalmente os altos salários dos executivos destas empresas – muitos que chegam a 20, 30 mil reais por mês. Tirar dos trabalhadores é um ataque sem precedentes. Assim como a terceirização que tem sido implementada em meio a pandemia: algumas bilheterias, do dia pra noite, estão sendo entregues a iniciativa privadas aproveitando a proibição de reuniões e manifestações da categoria.

João Dória se apresenta cotidianamente como uma autoridade preocupada com sua população, mas analisando mais de perto podemos ver que isto não passa de mero oportunismo. Se a vida está realmente em primeiro lugar, pensar no transporte com mais cuidado e implementar um plano que faça sentido neste momento é essencial. Além disso, deve ser assegurado que os trabalhadores não terão seus salários e empregos afetados. Está claro também que Bolsonaro tampouco tem condições de dirigir o país – por hoje o Planalto e suas medidas chegam a ser um risco de morte aos cidadãos brasileiros.

Os trabalhadores precisam fortalecer seu sentimento de solidariedade e união e exigir que a vida não possa estar abaixo do lucro dos empregadores. A classe trabalhadora não pode pagar pela crise da pandemia.


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