Mulheres em Quarentena: da sobrecarga à violência #NósEstamosJuntas
As mulheres irão sofrer de maneira aguda com os resultados da crise sanitária, econômica, política e social.
Começamos o ano de 2020 de maneira bastante difícil. A pandemia do coronavírus que se alastra pelo mundo pode mudar a maneira como nos relacionamos. Enquanto países no mundo inteiro buscam o isolamento social para evitar o colapso dos sistemas de saúde e a perda de milhares de vida, vemos nosso presidente minimizando a seriedade da doença e colocando os interesses do lucro acima da vida do povo. É importante afirmar, no entanto, que a covid-19 tem impactos distintos em diferentes segmentos da sociedade. Assim como a população negra vai ser a principal impactada pelos efeitos do novo coronavírus, as mulheres irão sofrer de maneira aguda com os resultados dessa grave crise sanitária, econômica, política e social.
A pobreza no Brasil é feminina e negra. Segundo o IBGE, as mulheres têm salários em média 27,1% menores do que os homens e ocupam muito menos postos de trabalho assalariado – 45,6% para elas e 64,3% para eles. Além disso, 63% das chefes de família solo do Brasil que estão abaixo da linha de pobreza são as mulheres negras. Isso significa que serão estas mulheres as que terão maior dificuldade de pagar as contas e alimentar suas famílias à medida que a crise econômica se aprofunda. Muitas irão sair às ruas arriscando suas vidas para tentar colocar comida na mesa. Desta forma, é essencial a garantia do emprego dessas mulheres durante esse período e a manutenção integral de seus salários. O governo Bolsonaro, no entanto, caminha no sentido contrário desta necessidade apresentando Medidas Provisórias como a 927 e 936, que precarizam ainda mais os direitos trabalhistas.
Apesar de a aprovação da renda básica emergencial no Congresso Nacional ter sido uma importante conquista, em especial a garantia de 1200 reais para mães solo, a população segue tendo muita dificuldade de acesso a este benefício. Isso ocorre, em grande parte, porque o governo Bolsonaro demonstra não ter nenhum compromisso com a sobrevivência da população. Suas únicas preocupações são seus índices de popularidade entre sua base de apoio e a sobrevivência dos lucros do grande capital.
Outra mudança significativa para as mulheres diante do isolamento social vem do fato de que essas normalmente dedicam quase o dobro de horas em afazeres domésticos por semana do que os homens. Nas famílias que estão conseguindo manter o isolamento social, as mulheres terão ainda mais trabalho doméstico com o acúmulo de louça suja, mais refeições dentro de casa, maior frequência da limpeza dos cômodos. Além disso, elas terão muitas vezes que equilibrar esses afazeres com o home office, que rompe os limites do horário comercial fazendo com que trabalhemos ainda mais. A situação se agrava com a presença de crianças dentro casa: a demanda por atenção e cuidado é permanente e, com frequência, a responsabilidade pelas tarefas educacionais dos filhos (aulas virtuais, lição de casa, leituras) recaem sobre a mãe.
De maneira combinada com os pontos debatidos acima, o isolamento social tem intensificado as expressões mais severas do machismo. A frustração, a insegurança econômica e o aumento do consumo de álcool servem como motores para a violência doméstica e o feminicídio. Para piorar, muitas mulheres estão trancadas 24 horas por dia com seus agressores. Na China, as denúncias de violência contra a mulher triplicaram durante o confinamento, na França a violência doméstica aumentou em 32% e na cidade brasileira com o maior número de casos de covid-19, São Paulo, o aumento já foi de 20%.
É de suma importância que os governos tomem medidas efetivas para combater o aumento expressivo da violência machista. A importância da maior divulgação do Ligue 180 é inconteste, mas há de se levar em conta que mulheres em situação de violência podem ter dificuldades de realizar uma ligação sem represálias do agressor. Assim, se faz necessária a viabilização de outras caminhos de denúncia, como canais virtuais ou mesmo alternativas como a criada na França, onde foram criadas senhas secretas em farmácias para que as mulheres possam pedir ajuda.
Além da necessidade de facilitar vias de denúncia, é essencial garantir o aumento de vagas nos abrigos e equipamentos de acolhimento a mulheres em situação de violência, como proposto por nossa deputada Sâmia Bomfim. Além disso, o enraizamento do combate ao machismo é mais do que nunca necessário. Devemos multiplicar iniciativas como debates, organização de redes de solidariedade, materiais informativos e outras iniciativas que colaboram no enfrentamento à violência.
Foi nesse sentido que o Coletivo Juntas lançou a campanha #NósEstamosJuntas. Além da divulgação dos serviços públicos para mulheres vítimas de violência, estamos organizando uma rede de voluntárias e ativistas para desenvolver mais mecanismos de combate a essas violências.
Por último, não podemos esquecer que as mulheres são a grande maioria das trabalhadoras da saúde. 70% de todos os trabalhadores de saúde no mundo são mulheres, que estão na linha de frente do combate à covid-19. São estas profissionais as que sofrem mais com a sobrecarga dos serviços e estão mais expostas à contaminação. Dessa forma, é essencial que o movimento feminista tome para si a defesa do SUS, com o aumento de verba, contratação de pessoal e disponibilização de proteção pessoal para os trabalhadores.
Novamente, vemos as mulheres lutando pela vida, a frente de diversas novas formas de auto-organização do povo, enquanto o governo Bolsonaro defende acima de tudo os interesses do capital. Por isso, também é essencial que o movimento feminista lute pelo impeachment do homem que está assassinando o povo brasileiro. #ForaBolsonaro
Fontes:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101678.pdf